Um dia acordou e mal conseguia mexer-se. É assim que Cristina Maia descreve o momento em que soube que havia qualquer coisa de errado com o seu corpo. Foi há 4 anos, quando tinha 33, que, pelas 6h da manhã, tentou sair de cama para acudir ao choro do filho e não conseguiu levantar-se. Depois desse episódio percebeu que não podia adiar mais a ida ao médico, isto porque há vários meses que tinha sintomas ‘estranhos’ – acordava com dores no pescoço e no ombro, e era frequente ter as mãos inchadas – mas que depois desapareciam.
Não levou muito tempo até serem levantadas suspeitas que poderia sofrer de artrite reumatoide. “Foi um choque, confesso, nunca me passou pela cabeça, até porque a associava às pessoas mais velhas, só me vinha à cabeça as mãos superdeformadas da minha avó.”
Começou logo com medicação, foi aconselhada a perder uns quilos para aliviar as articulações e até hoje não tem tido grandes queixas, “tive 2 crises em que mal conseguia andar ou escrever, o que é mau porque sou professora, mas de resto tenho tido sorte, tem estado sob controlo.”
O que é
Cristina pertence ao grupo de 40 mil portugueses diagnosticados com Artrite Reumatoide (AR), uma doença crónica (não tem cura) e que provoca dor, rigidez, vermelhidão e inchaço das articulações (pescoço, anca, pulso, dedos, joelhos, tornozelos, cotovelos e ombros).
É uma patologia mais frequente nas mulheres (2 a 4 vezes) do que nos homens e, apesar de haver maior incidência no período pós-menopausa, pode manifestar-se em qualquer idade, até mesmo na adolescência.
Não se conhece a sua causa, alguns estudos apontam no sentido de poder ser um vírus ou um agente infeccioso que desencadeia a resposta inadequada do sistema imunitário mas não há certezas, suspeita-se de uma componente genética e que poderá ser autoimune, ou seja, que o sistema imunitário não funciona corretamente e os ‘guardiões’ da nossa imunidade, os glóbulos brancos, que nos protegem contra agente externos – vírus e bactérias – ‘viram-se’ contra o nosso corpo e começam a atacar tecidos saudáveis.
Quais são os sintomas
Os mais comuns são as dores, rigidez, edema (inchaço), vermelhidão e calor nas articulações. As dores e rigidez sentidas pelos doentes, mais intensas durante a manhã ou após períodos de repouso, duram mais de 30 minutos. Geralmente, começa-se por sentir dores e edema (inchaço) em pelo menos 3 articulações-irmãs (em ambos lados do corpo), sendo que é comum as articulações mais pequenas, como as das mãos e dos pés, as primeiras a serem afetadas. É também comum o cansaço, febre, suores e perda de peso. Mas engana-se quem pensa que o diagnóstico é feito rapidamente. Este pode ser um desafio para o médico (até para um reumatologista, a especialidade que trata este problema) pois não é detetável através de um exame simples. Além de se avaliar o quadro geral do paciente, de serem feitas análises ao sangue (para detetar a presença do Fator Reumatoide e avaliar o estado de inflamação através da velocidade de sedimentação e pela proteína C reativa), e radiografias às mãos e punhos para ver se há as alterações típicas da AR, só depois de se obterem várias confirmações é que é declarada a doença.
Como se trata
Como não há cura, o objetivo é fazer com o doente tenha uma vida o mais normal possível, sem dor. Além dos medicamentos – analgésicos para controlar a dor, anti-inflamatórios para aliviar os sintomas, corticosteroides para também minimizar os danos nas articulações a curto, médio e a longo prazo – há também mudanças no estilo de vida que podem beneficiar os doentes de AR, sendo que deixar de fumar, evitar excesso de peso e fazer exercício físico moderado, para fortalecer os músculos e manter a agilidade articular, são as medidas mais aconselhadas.
Não pare!
É verdade que quando estamos com dores e cansadas a última coisa que nos passa pela cabeça é fazer exercício, mas todos os estudos sobre AR indicam que ter alguma atividade física com frequência ajuda a mobilidade no dia a dia a aliviar os sintomas desta doença. Mas calma, não vá já a correr inscrever-se em ginástica acrobática.
FAÇA CAMINHADAS: Um exercício do baixo impacto, ideal para quem tem problemas nas articulações. Comece devagar e vá aumentando o ritmo e a distância aos poucos… sempre com ténis confortáveis.
ADIRA AO TAI CHI OU IOGA: Na Amazon inglesa há DVDs de Tai Chi para doentes de AR.
IMITE OS GATOS: Espreguice-se sempre que se levantar de uma cadeira, sofá ou cama. E depois do exercício faça sempre alongamentos.
DÊ UM MERGULHO: Ginástica dentro de água é mais suave para as articulações e a água morna ajuda a reduzir a rigidez. Aconselhe-se sempre com o seu especialista.