A ciência diz-nos algo que, agora, teimamos em não acreditar. Diz-nos que as vacinas vieram para nos proteger e, de repente, tememos mais a solução do que o problema em si. A propósito da medida preventiva tomada em relação à vacina da AstraZeneca – que será temporariamente suspensa em Portugal, à semelhança de outros países -, há que relembrar o que nos dizem os especialistas.
Mas, em primeiro lugar, entendamos o pânico. Foram reportados alguns casos de reações graves após a toma da vacina da referida farmacêutica, de alguns lotes específicos que não foram distribuídos para Portugal – nomeadamente, tromboses, que, em países como a Noruega ou Áustria, chegaram a provocar mortes. Porém, não foi ainda estabelecida uma relação causal entre os casos reportados e a vacina.
Aliás, o diretor do grupo de vacinas de Oxford, Andrew Pollard assegurou à Radio 4 BBC: “Há provas muito tranquilizadoras de que não houve aumento da trombose aqui, no Reino Unido, onde se administrou, até agora, a maioria das doses da Europa. É absolutamente essencial que não prejudiquemos a vacinação“. Além disso, a farmacêutica divulgou um comunicado no qual garante que, após analisar a aplicação de 17 milhões de doses, não registou evidências do aumento de coágulos sanguíneos por causa da vacina.
“Se foi vacinado, mantenha-se tranquilo. Estas reações são extremamente raras e, no nosso país, não foram reportados fenómenos semelhantes aos encontrados nos outros países“, afirmou, no passado dia 15 de março, Graça Freitas. A diretora da DGS garantiu que a suspensão temporária da administração da vacina serve apenas para dar confiança à população, através de um “mecanismo de extrema segurança“. Ainda assim, apelou a que os vacinados contactem um médico se notarem mal estar acompanhado de nódoas negras ou hemorragias cutâneas.
Acima de tudo, importa lembrar que as reações registadas não parecem fugir ao padrão considerado normal. Em conversa com a Lusa, o virologista Pedro Simas assegurou: “Toda a evidência científica, que é muito forte, indica que a vacina é segura, tanto nas fases 1, 2, 3, como agora na fase 4“. E ainda lembrou que “não foram reportados eventos tromboembólicos superiores àqueles que seriam esperados normalmente” nos mais de 11 milhões de vacinados no Reino Unido e cerca de 5 milhões na União Europeia.
Tanto a Organização Mundial de Saúde como a Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed) continuam a defender a vacinação. Até ao momento, não há evidências concretas de que a vacina esteja na origem dos eventos graves registados, pelo que nos resta aguardar por novas diretrizes, mantendo a confiança naquilo que nos é transmitido pelos especialistas.
Se nos movemos pelo medo, vemo-nos encurralados numa bola de neve que não parece levar-nos ao melhor destino. Não temos muitas vacinas em Portugal, pelo que, até fundamento contrário, há que lembrar que a grande ameaça é a Covid-19. E que, quanto mais rápido obtivermos a imunidade de grupo, mais rápido recuperaremos um pouco da tão desejada normalidade. Afinal, há um ano, só queríamos uma solução. Agora, resta-nos confiar nela.