Quando descobri que estava grávida vivi um misto de surpresa, alegria e desespero total. Claro que eu sei como é que se fazem bebés e portanto não foi uma notícia completamente inesperada, mas ainda não tinha tido tempo para preparar a minha mente para a ideia – não estava expectante pelo positivo. E aquele momento foi o gatilho perfeito para a minha maior inimiga dar o ar da graça.

Minhas amigas já me conhecem por ser a pessoa que pensa em todas as potenciais catástrofes que podem acontecer. Sempre achei que isso me preparava para estar sob controle, porque realmente não gosto nada de viver frustrações. E até então estava a viver relativamente bem com este meu lado pessimista, com altos e baixo ao longo do caminho. Foi só quando me vi grávida que cheguei à conclusão que afinal isso tem nome. Ansiedade.

Descobri a gravidez uma semana antes de uma viagem que já tinha planeado, ainda num momento muito intenso da pandemia. Não tinha tido Covid-19 até então, e cogitei não viajar pelo medo de apanhar o vírus. Na semana antes da viagem tive contacto com um caso positivo e passei dias entre choro e testes de farmácia seguidos. Negativo. Viajei. Três dias depois do regresso já tinha sintomas e um autoteste positivo. Desmoronei completamente. Senti-me culpada por ter viajado, por ter engravidado numa pandemia, por ter sido irresponsável e apanhado o vírus, por tudo e por nada. E depois dessa crise cheguei à conclusão de que eu precisava resolver a minha cabeça antes de ter o bebé.

1- Meditação

A minha primeira “arma” contra a ansiedade foi tentar a meditação. Já tinha tentado no passado sem muito sucesso – as músicas irritavam-me, as vozes calmas das meditações guiadas deixavam-me maluca, as frases excessivamente positivas faziam-me pensar em todas as injustiças sociais do mundo e eu terminava a meditação revoltada. E aí li o livro “10% Happier”, do jornalista norte-americano Dan Harris.

Não gosto de apostar tudo num livro curto de auto-ajuda e na verdade nem sou das que lêem este tipo de literatura. Mas era um livro fino, a minha mãe e o meu irmão tinham falado muito bem e senti que até podia me identificar com a história – afinal eu também sou jornalista. Terminei ao fim de alguns dias determinada a dar uma chance à meditação.

Comecei com meditação guiada de mindfullness, sem música de fundo, com duração de 10 minutos, todos os dias pela manhã. Aos poucos já me sentia relaxada ao ouvir algumas trilhas suaves com som de água e passei a experimentar apenas sentar, ouvir e respirar. Percebi que estava a conseguir ficar mais calma dia após dia.

Foi quando entrei em contacto com as técnicas de hypnobirthing, ou hipnoparto. Basicamente são trabalhos de respiração, afirmações, meditação e alguma hipnose, com o objetivo de aliviar os medos na hora do parto. Não mergulhei completamente neste mundo, mas a aplicação GentleBirth Hypnobirthing ajudou-me muito a conectar-me com o meu corpo, o meu bebé e a minha gravidez. Passei a sentir que mesmo que não tivesse controle de tudo, o meu corpo vai saber o que fazer quando chegar a hora, e preciso deixar-me levar. Sem focar-me nos potenciais problemas.

2- Consumir conteúdos positivos nas redes sociais

Uma das coisas que mais contribui com a minha ansiedade é a internet. Quando descobri que estava grávida passei a ver cada vez mais publicações sobre mulheres a surpreenderem os maridos com os testes de gravidez ou outros vídeos deste tipo. E no meio daquilo, surgiu uma série de vídeos sobre perda gestacional, má formações, gravidezes ectópicas e outros pesadelos que mulheres grávidas no início da gestação vivem todos os dias.

Acho que temos que falar sobre as coisas que não correm bem. As mulheres que sofrem uma perda precisam de acolhimento, de ter espaço para falarem sobre a sua dor e de não se sentirem isoladas. Os números não são muito precisos porque é difícil mensurar uma notícia que algumas preferem nunca partilhar com o mundo, mas estima-se que 20% das gestações terminem em abortos espontâneos, sendo que 80% deles acontecem no primeiro trimestre. E para mim aqueles primeiros meses foram vividos numa espécie de alegria contida.

Tinha medo de acontecer comigo, é óbvio. E quanto mais conteúdos a falarem do tema eu via, mais publicações tristes surgiam nos meus feeds nas redes sociais. Nomes estranhos de doenças ou complicações apareciam e eu corria para o Google, que me dava diagnósticos terríveis. Então decidi parar. Fiz uma varredura em páginas de Instagram de conteúdos que me interessavam – médicas obstetras, enfermeiras, doulas, fisioterapeutas pélvicas, organizadoras de enxoval, marcas de roupas e decorações fofinhas… E passei a consumir apenas aquelas publicações que me davam confiança e felicidade. O meu feed mudou e comecei a ter contacto com muitas outras páginas positivas sobre os temas que mais me interessavam. O que me leva a falar do terceiro hábito que adquiri para reduzir a ansiedade durante a gravidez.

3- Estudar

O Instagram pode ser uma fonte de informação preciosa se procurarmos nos lugares corretos. Nem tudo o que leio nas redes levo ao pé da letra, mas aprendi muito com páginas de profissionais de saúde que fazem publicações baseadas em evidências. E esta aprendizagem deu-me ferramentas para fazer mais perguntas nas minhas consultas e exames de pré-natal e entender tudo o que se passava aqui dentro da minha barriga.

Um dos temas que me deixava mais ansiosa era o parto e por isso foquei-me muito nele. Decidi que queria conhecer tudo o que está ao meu alcance para uma experiência mais positiva e escolher as práticas e técnicas que mais combinam comigo e o meu estilo de vida.

O livro “Parto Ativo” também fez parte dos meus estudos. Escrito por Janet Balaskas em 1993, o livro já foi atualizado e tem uma versão em português adaptada da versão brasileira. O parto ativo é um movimento focado no parto natural, fisiológico, com o mínimo de intervenções possível e prega que parir faz parte da natureza da mulher. Para mim foi mais uma ferramenta para fortalecer as minhas crenças e enfraquecer a minha ansiedade. Passei de ter medo a estar expectante pelo momento do parto.

4- Evitar os temas polémicos

Sabe quando aparecemos com uma barriga de grávida numa festa e chega uma tia da aniversariante e conta a sua história trágica de parto? Ou quando contamos que estamos grávidas e alguém vem partilhar que tem uma amiga que perdeu o bebé com 20 semanas? Ou quando falamos que queremos um parto de determinada forma e a pessoa responde: “Mal sabes o que te espera!”

Este é um dos hábitos que foram mais difíceis de trabalhar. Até muito perto do terceiro trimestre continuava a partilhar algumas das minhas escolhas com pessoas que me desencorajavam. E eu revidava. Ficava chateada, irritada, queria falar tudo o que eu aprendi. Remoía aquele tema na minha cabeça por dias, buscando explicações para as decisões que tomei sobre a minha gestação, parto e pós-parto. E depois percebi que não vale a pena. Ninguém vive a gravidez da mesma forma e tem pessoas que nunca viveram nem vão viver uma gestação. Opiniões são opiniões e eu não preciso justificar as minhas sempre.

Então passei a ouvir as histórias trágicas e opiniões não requisitadas e responder apenas com um sorriso seguido de um “pois é…”. E sigo para o próximo assunto!

5- Fazer terapia

Decidi deixar esta por último na lista, mas na verdade foi das primeiras coisas que eu fiz depois da minha crise por causa da Covid-19. Procurei uma terapeuta logo às 10 semanas, porque percebi cedo algo que defendo até hoje: antes de engravidar é mesmo preciso “resolver” a nossa cabeça. Ansiedades, medos, momentos de tristeza, tensão, reações exageradas, pensamentos negativos… Aprendi a lidar com tudo isso ao longo das sessões. E acho que conversar com uma profissional e aplicar as técnicas que me foram recomendadas foi das coisas que mais me ajudaram a passar por esta gestação de forma positiva.

Claro que continuo tendo momentos de ansiedade, de tristeza e de reações exageradas – vamos culpar também as hormonas! O essencial é entender que não estou no controlo de tudo e está tudo bem. Que o meu corpo sabe o que fazer e, naquilo que tiver dificuldade, estarei amparada por profissionais que sabem o que estão a fazer. E que o melhor que eu posso fazer agora pelo meu bebé é entregar-me à esta fase de forma leve, calma e feliz. Sem antecipar problemas e a viver cada dia de uma vez.

Palavras-chave

Relacionados

Mais no portal

Mais Notícias

Espaço: Ding Dong em Matosinhos

Espaço: Ding Dong em Matosinhos

Stellantis inaugura primeira gigafábrica de baterias da AAC em França

Stellantis inaugura primeira gigafábrica de baterias da AAC em França

Conjuntos: 18 ideias para conjugar peças nos meses quentes

Conjuntos: 18 ideias para conjugar peças nos meses quentes

"TVI Extra” perde comentadora ao segundo dia

Em “Flor Sem Tempo”: Catarina vende a casa a Belmiro

Em “Flor Sem Tempo”: Catarina vende a casa a Belmiro

Os lugares desta História, com Isabel Stilwell: O resgate do pequeno duque

Os lugares desta História, com Isabel Stilwell: O resgate do pequeno duque

Bicicletas Gira gratuitas para todos os residentes de Lisboa a partir de hoje

Bicicletas Gira gratuitas para todos os residentes de Lisboa a partir de hoje

«Unidos Venceremos!»: Sindicatos e greves do marcelismo são tema de exposição no Beato e no Barreiro

«Unidos Venceremos!»: Sindicatos e greves do marcelismo são tema de exposição no Beato e no Barreiro

Catarina Vassalo: “Mostrei-lhes que com dedicação tudo se consegue”

Catarina Vassalo: “Mostrei-lhes que com dedicação tudo se consegue”

Imobiliário: Como as nossas casas estão a mudar

Imobiliário: Como as nossas casas estão a mudar

O centenário de Eduardo Lourenço

O centenário de Eduardo Lourenço

ATL para artistas

ATL para artistas

Anunciada Velha: pode ser uma história de longevidade

Anunciada Velha: pode ser uma história de longevidade

O espetacular vestido de noiva de Rajwa Al Saif

O espetacular vestido de noiva de Rajwa Al Saif

Juta, ráfia e palhinha: 31 acessórios que rimam com o verão

Juta, ráfia e palhinha: 31 acessórios que rimam com o verão

Ministro diz que dispositivo do SNS está preparado para as Jornadas da Juventude

Ministro diz que dispositivo do SNS está preparado para as Jornadas da Juventude

Portugal, 24 de abril: como era o País nas vésperas da revolução

Portugal, 24 de abril: como era o País nas vésperas da revolução

Évora: a capital dos veículos elétricos durante este fim de semana terá uma rede de autocarros 100% elétricos

Évora: a capital dos veículos elétricos durante este fim de semana terá uma rede de autocarros 100% elétricos

Marta Melro e Paulo Vintém separados

Marta Melro e Paulo Vintém separados

Škoda com elétricos para quem “valoriza as coisas simples da vida”

Škoda com elétricos para quem “valoriza as coisas simples da vida”

Évora: a capital dos veículos elétricos durante este fim de semana terá uma rede de autocarros 100% elétricos

Évora: a capital dos veículos elétricos durante este fim de semana terá uma rede de autocarros 100% elétricos

Kaspersky descobre ameaça persistente que afeta o iPhone. E acusa Apple de criar

Kaspersky descobre ameaça persistente que afeta o iPhone. E acusa Apple de criar "o refúgio perfeito" para spyware

Wine Corner by José Maria da Fonseca: Na nova carta de verão há Sado e Arrábida à mesa

Wine Corner by José Maria da Fonseca: Na nova carta de verão há Sado e Arrábida à mesa

Letizia surpreende com

Letizia surpreende com "look" colorido no dia Mundial da Cruz Vermelha

Capital de conhecimento é essencial nas empresas

Capital de conhecimento é essencial nas empresas

Em bons lençóis. Três marcas portuguesas apostam no têxtil de cama

Em bons lençóis. Três marcas portuguesas apostam no têxtil de cama

Para bom entendedor, meia palavra ... -- “basta!”, completa o ChatGPT

Para bom entendedor, meia palavra ... -- “basta!”, completa o ChatGPT

ATL para cientistas

ATL para cientistas

Garante um verão repleto de diversão nos campos de férias disponíveis na Juvigo!

Garante um verão repleto de diversão nos campos de férias disponíveis na Juvigo!

António Câmara: “Quando eu tinha 12 anos o meu pai disse-me para eu faltar o mais que pudesse

António Câmara: “Quando eu tinha 12 anos o meu pai disse-me para eu faltar o mais que pudesse"

Interiores: encontro de épocas em Paris

Interiores: encontro de épocas em Paris

Boas ajudas para dominar a arte de grelhar

Boas ajudas para dominar a arte de grelhar

Dia Mundial do Ambiente: Portugal diminuiu emissões mas falhou nos resíduos

Dia Mundial do Ambiente: Portugal diminuiu emissões mas falhou nos resíduos

Uma família real, mas normal: a felicidade dos reis da Jordânia

Uma família real, mas normal: a felicidade dos reis da Jordânia

4 mitos sobre a hidratação

4 mitos sobre a hidratação

Nvidia mostra modelo generativo que cria objetos 3D a partir de vídeos 2D

Nvidia mostra modelo generativo que cria objetos 3D a partir de vídeos 2D

Pink Dolphin: morada de arte e objetos especiais no Poço dos Negros

Pink Dolphin: morada de arte e objetos especiais no Poço dos Negros

Ordem dos Médicos preocupada com novos estatutos admite medidas de luta

Ordem dos Médicos preocupada com novos estatutos admite medidas de luta

Governo da Madeira encerra percursos pedestres devido a alerta vermelho para chuva

Governo da Madeira encerra percursos pedestres devido a alerta vermelho para chuva

EXAME 470 - Junho de 2023

EXAME 470 - Junho de 2023

Cristina Ferreira faz revelações inéditas a Carolina Deslandes: Filho quer ser empresário!

Cristina Ferreira faz revelações inéditas a Carolina Deslandes: Filho quer ser empresário!

Feira do Livro de Lisboa: 20 novidades editoriais, para descobrir no Parque Eduardo VII

Feira do Livro de Lisboa: 20 novidades editoriais, para descobrir no Parque Eduardo VII

Caras conhecidas atentas à moda

Caras conhecidas atentas à moda

Mães e musas

Mães e musas

JL 1372

JL 1372

Parceria TIN/Público

A Trust in News e o Público estabeleceram uma parceria para partilha de conteúdos informativos nos respetivos sites