O vírus do papiloma humano, também conhecido por HPV, é considerado a segunda principal causa de cancro, a seguir ao tabaco. No caso particular dos tumores da cabeça e pescoço, estima-se que o HPV seja responsável por cerca 30% dos casos. Estes tumores, ditos HPV positivos, apresentam características particulares, localizam-se maioritariamente na orofaringe, são diagnosticados em idades mais precoces e associam-se a melhor prognóstico.Tumores da cabeça e pescoço: a importância da vacina HPV
A infeção pelo vírus do papiloma humano ocorre, habitualmente, por via sexual (sexo vaginal, anal ou oral), através do contacto com a pele ou com a mucosa. Estima-se que 50 a 80% da população sexualmente ativa contraia a infeção pelo HPV em alguma altura da sua vida, sendo mais frequente nos mais jovens e nos primeiros 10 anos após início da atividade sexual.
Estas infeções, na maioria das vezes, não apresentam sintomas e são de regressão espontânea. Em algumas pessoas, no entanto, podem levar ao desenvolvimento de doenças benignas, como condilomas ou verrugas genitais, ou mesmo de tumores, como tumores do colo do útero, orofaringe e canal anal, sobretudo associados à infeção pelos dos serotipos 16 e 18.
Em Portugal, a vacina contra o vírus do papiloma humano faz parte do Programa Nacional de Vacinação. Esta vacina protege contra nove serotipos de HPV, estando recomendado que a primeira administração seja realizada pelos 10 anos de idade, num esquema de duas doses, com pelo menos 6 meses de intervalo.
O papel da vacinação é atualmente inquestionável, tanto nas raparigas como nos rapazes, com dados recentes a demonstrar o seu impacto na diminuição da incidência de tumores associados ao HPV, em cerca de 54% nos homens e em cerca de 30% nas mulheres, sobretudo pela diminuição dos tumores da cabeça e pescoço e dos tumores do colo do útero, respetivamente.
De reforçar que a vacinação desempenha um papel fundamental na prevenção da infeção e das doenças causadas por alguns tipos de HPV, mas não as trata, daí a importância da vacinação precoce enquanto jovem e antes de iniciar atividade sexual.
A questão que se coloca é sobre a utilidade da vacinação das pessoas já diagnosticadas com tumores da cabeça e pescoço HPV positivos. Hoje sabemos que pessoas com estas neoplasias têm um maior risco de desenvolvimento de segundos tumores primários também associados ao vírus do papiloma humano. Temos ainda dados que sugerem que a vacinação de pessoas já com tumores associados ao HPV, permita proteger contra os outros serotipos de HPV contidos na vacina, bem como de novas inoculações.
Assim, o Grupo de Estudos de Cancro da Cabeça e Pescoço apela à vacinação desta população de sobreviventes com cancro da cabeça e pescoço HPV positivos, se não tiver sido cumprido previamente o esquema vacinal. Não no sentido de tratar a doença oncológica já diagnosticada (para isso estão atualmente disponíveis tratamentos bastante eficazes), mas sim como forma de prevenir o desenvolvimento de novos tumores associados a esta infeção.
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