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Respirar é um ato involuntário que fazemos cerca de 12 vezes por minuto – tão natural que quando uma coisa é fácil e automática, dizemos que a fazemos ‘como respiramos’. Ao longo de um dia, mais de 11 mil litros de ar transitam pelos nossos pulmões, levando vida e energia a cada célula do corpo. Felizmente, o ar é um recurso natural que, ao contrário da água, nunca nos faltará – mas em relação à sua qualidade a questão muda de figura. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a poluição do ar é hoje o maior risco ambiental que enfrentamos, e de acordo com o Global Burden of Disease (um estudo contínuo que avalia a carga global de morbilidade, com a colaboração de mais de 9 mil investigadores em 162 países e territórios), a exposição à poluição do ar e a partículas é um dos 10 principais fatores de risco para doença, a nível mundial.

NÃO É SÓ GARGANTA
Os efeitos da poluição do ar na saúde estão bem documentados e não afetam apenas o sistema respiratório. A curto prazo podem ir desde sensações de irritação do nariz, garganta e olhos, tosse, dificuldade em respirar, dores de cabeça, náuseas e tonturas, até problemas respiratórios como pneumonia ou bronquite ou agravamento da asma. Uma exposição prolongada a níveis altos de poluição atmosférica, ao longo de vários anos, pode causar agravamento dos sintomas de doença pulmonar obstrutiva crónica, tosse e falta de ar persistentes, cancro do pulmão (as partículas de poluição são, comprovadamente, cancerígenas) e outros danos pulmonares, maior susceptibilidade a infeções, doença cardiovascular e morte prematura. As crianças, idosos e pessoas com morbilidades são os mais afetados. Há ainda estudos que demonstram que a poluição atmosférica pode aumentar o risco de baixo peso à nascença, parto prematuro, problemas de desenvolvimento pulmonar das crianças e até aumento da mortalidade infantil. “A poluição do ar provoca em média mais de mil mortes prematuras por dia na União Europeia, um número 10 vezes superior ao de mortes em acidentes de viação”, revelou Dília Jardim, diretora do Departamento de Gestão Ambiental da Agência Portuguesa do Ambiente. “Em Portugal, este valor ronda os 6 mil mortos por ano.” O problema é obviamente mais grave nas cidades e zonas industriais, mesmo não estando nós tão mal em Portugal como a Índia ou o Paquistão. Na tabela da Agência Europeia do Ambiente, que coloca Faro e Funchal entre as cidades da Europa menos poluídas, o nosso país está bem posicionado e Lisboa tem uma qualidade de ar razoável (embora com picos de poluição acima do recomendado pela OMS em algumas zonas).

“A poluição do ar provoca em média mais de mil mortes prematuras por dia na União Europeia, um número 10 vezes superior ao de mortes em acidentes de viação”, Dília Jardim, diretora do Departamento de Gestão Ambiental da Agência Portuguesa do Ambiente

QUANDO NEM A CASA TEM BOM AR
Se já está a pensar ‘pronto, não saio mais de casa’, saiba que dentro dos espaços que habitamos e onde trabalhamos, e nos quais passamos cerca de 90% do nosso tempo, também há poluição, e também ela afeta a nossa saúde. A qualidade do ar interior tornou-se uma preocupação mais premente em anos recentes devido à construção de casas com maior eficiência energética, que tendem a ser relativamente estanques: o que significa que o ar lá dentro pode estagnar rapidamente e fazer subir os níveis de poluentes. Estima-se que a poluição interior seja responsável por 4,3 milhões de mortes por ano em todo o mundo. É verdade que grande parte desses números se deve às condições das habitações nas áreas de maior pobreza, e aos combustíveis usados para as aquecer e cozinhar, mas mesmo nos edifícios modernos existem potenciais focos de poluição do ar que nos podem deixar doentes.
Muitos destes poluentes são indetectáveis se não os investigarmos, por isso convém conhecer os inimigos para melhor os identificar e erradicar.
Bolor: É uma forma de fungo que cresce a partir de esporos que se fixam em áreas húmidas dos edifícios e pode crescer nas mais variadas superfícies. Branco, preto, verde ou amarelo, liso, rugoso ou ‘peludo’, pode libertar para o ar toxinas nocivas e causar fadiga, dificuldades respiratórias, dores de cabeça e, segundo pesquisas recentes, brain fog, ansiedade e insónia.
Fumo de tabaco: Contém um cocktail nocivo de 7 mil substâncias químicas, entre as quais 70 carcinogéneos, que quando inalado (mesmo de forma secundária) pode causar doenças pulmonares e cardiovasculares, e é particularmente perigoso para as crianças.
Carpetes, cortinados e revestimentos têxteis: Não poluem por si mesmos, mas agarram e acumulam os poluentes existentes no espaço e libertam-nos para o ar quando interagimos com eles.
Produtos de cuidado da casa: Detergentes, desinfetantes, tintas, solventes, colas, inseticidas, ambientadores, velas… todos produtos que emitem compostos orgânicos voláteis (COV) que inalados dia após dia e em ambientes pouco ventilados podem causar problemas como irritações dos olhos, nariz e garganta, dores de cabeça, náuseas, danos nos órgãos internos e até cancro em casos extremos.
Pelo e caspa dos animais domésticos: Não é propriamente um poluente, mas para quem sofre de alergias é um irritante agudo que torna o ar da casa mais ‘inóspito’. A caspa animal é composta por escamas microscópicas de pele largadas pelos animais, o que significa que mesmo as raças sem pelo podem causar sintomas como tosse, espirros, olhos lacrimejantes e constrição no peito.

COMO NOS PODEMOS DEFENDER
Na impossibilidade de viver dentro de uma bolha, o que podemos fazer? Bastantes coisas, na verdade. Em relação à poluição exterior, podemos começar por não contribuir para a agravar e andar de bicicleta e transportes públicos sempre que possível. No que respeita à qualidade do ar interior, podemos melhorá-la muito com algumas mudanças simples: eliminar implacavelmente qualquer bolor, investir num purificador e/ou desumidificador do ar, manter o ar condicionado bem afinado e não muito quente, aspirar tudo 2 a 3 vezes por semana, preferir mobílias antigas, que já perderam os COV, e arejar a casa pelo menos 15 minutos 2 vezes ao dia.

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