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(Foto: Pexels by Olia Danilevich)
Se a pergunta que dá título a este artigo – “O meu filho é condicional, o que devo fazer?” – tem sido de alguma forma recorrente na sua cabeça nos últimos tempos, saiba que não está sozinha no mar de dúvidas que, por norma, assola os pais quando se veem confrontados com aquilo que mais parece a escolha de Sofia: matricular ou não matricular na escola primária uma criança que só completa os seis anos depois do dia 15 de setembro? Para as crianças que fazem seis anos até esse dia, a matrícula no primeiro ciclo do ensino básico é obrigatória, mas para as restantes que só completam os seis anos até ao fim de dezembro, essa obrigatoriedade deixa de existir.
Nestes casos, as crianças são consideradas condicionais porque a sua entrada no primeiro ciclo é condicional, já que vai depender da existência de vagas no estabelecimento de ensino pretendido pelos pais. Isto, claro está, se a decisão for inscrevê-las na escola primária já este ano, fazendo com que entre com cinco anos. A outra opção é esperar mais um ano e permitir que a criança entre para o primeiro ciclo com seis anos, prestes a fazer os sete.
![O meu filho é condicional, o que devo fazer?](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/4/2023/05/230503_pexels-andrea-piacquadio-4831655-1600x1067.jpg)
(Foto: Pexels by Andrea Piacquadio)
Sendo esta uma decisão que mexe diretamente com o futuro dos nossos filhos, dificilmente é tomada de ânimo leve ou sem muitas preocupações, dúvidas e receios à mistura. Mas é aqui que devemos silenciar as vozes exteriores, analisar a situação específica relativa a cada criança e confiar que a decisão tomada respeita o interesse máximo do nosso filho. Para que isso aconteça, é importante não se deixar levar por crenças, medos ou opiniões alheias. Há quem acredite que esperar um ano é estar a atrasar o percurso escolar da criança. Mas a maioria dos psicólogos infantis e especialistas em desenvolvimento defendem que permitir que uma criança condicional entre no primeiro ciclo já com seis anos é respeitar o seu tempo e proporcionar-lhe mais um ano de infância. E numa sociedade tão acelerada como esta em que vivemos, será que isto não é por si só uma grande mais-valia?
Cada criança é uma criança e a decisão deve ser baseada nisso mesmo: naquela criança que é única e excecional exatamente como é. Lembre-se que se decidir adiar a matrícula do seu filho na escola primária, não está com isso a dizer que não acredita nas suas capacidades, ou que isto encerra uma espécie de derrota. Por algum motivo, este adiamento ainda é visto com um carácter negativo, quando não tem de todo que ser assim. Bem pelo contrário. Países como a Finlândia, por exemplo, que tem um desenvolvimento ímpar em práticas educativas, não permite que crianças com menos de sete anos entrem para o primeiro ciclo do ensino básico. Até completarem esta idade, as crianças são convidadas a serem isso mesmo, crianças. Sem pressões ou perfecionismos associados.
![O meu filho é condicional, o que devo fazer?](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/4/2023/05/230503_pexels-sunvani-hoang-7978262-1600x1067.jpg)
(Foto: Pexels by Sunvani Hoàng)
E é importante que assim seja porque, embora não pareça, o cérebro da criança nascida no início do ano não está no mesmo estádio de desenvolvimento do que o cérebro da criança nascida nos últimos meses desse mesmo ano. A maturidade emocional e psicológica é fundamental para uma vida escolar mais tranquila e cooperante. E caso a criança entre na escola primária mais cedo do que estaria preparada (e nesta preparação não basta já saber escrever algumas palavras, por exemplo), pode começar a sentir-se incapaz e frustrada. De acordo com Erik Ericksson, entre os cinco e os seis anos a criança preocupa-se em ser aceite e é nessa aceitação, ou falta dela, que perceciona se é boa ou má. Ora, este pensamento funciona como um espelho em que a imagem nele refletida é, em grande parte, aquela que interioriza. Ou seja, se a criança se autoperceciona como trabalhadora e capaz, então vai-se sentir competente e confiante. Se, por outro lado, se sentir desacreditada de si, vai ter tendência a ser menos confiante e a ter menos vontade de arriscar. Por outro lado, há o medo de que, se ficar mais um ano na pré-primária, se sinta desmotivada e, de alguma forma, estagnada.
Independentemente da sua decisão enquanto mãe e pai, saiba que há casos de sucesso tanto numa escolha, como na outra. Tenha sempre em mente que o importante é respeitar o seu filho e o tempo dele, e que também ele pode, e deve, ser chamado para a conversa. Ouvi-lo é sempre uma boa ideia. Quem sabe não se surpreende com a forma prática como ele vai olhar para a situação? Tenha a opinião da criança em conta, entenda o que a motiva (seja a ficar na pré-primária, seja a ir para a escola) e perceba qual o caminho que lhe faz mais sentido a si. Sem pressões e, sobretudo, com a certeza de que não tem nada a provar a ninguém. Só ao seu filho, mas aí falamos de valores mais altos – respeito, amor incondicional e valorização pessoal.