Charles Eames, Mies van der Rohe, Ron Arad, são alguns nomes sonantes do design dos séculos XX e XXI que se encontram representados em peças desta casa contemporânea, em Ofir, decorada por Alda Terra Sá. Sobrinha-neta do arquitecto português Miguel Ventura Terra – distinguido em quatro obras com o Prémio Valmor –, Alda fez aqui um elogio à arquitetura de José Tavares, elegendo nomes fundamentais, que aliou a outros, como o do próprio filho, o arquiteto Miguel Terra Sá, que desenhou a mobília do living, e o próprio José Tavares, autor dos móveis estruturais.
Cercada de pinheiros, cuja sobrevivência foi respeitada aquando da construção, a casa, de dois mil metros quadrados, ergue-se nas dunas de Ofir, enquadrada numa paisagem atlântica que invade os interiores como uma pintura viva. O nome com que foi batizada pelo arquitecto, “Vídeo e Projetor”, deve-se à sua localização, virada ligeiramente a Sul, em busca do horizonte: “Na entrada da casa, não só pelo design, pela opção em preservar a topografia, evitei escadas e recorrendo a uma rampa estabeleci desta forma a ligação mais natural de acesso à casa e porque esteticamente funciona muito bem”, explica. “Localizei a parte mais íntima, onde estão os quartos (o ‘vídeo’), num edifício com suspensão em colunas metálicas e que serve de coberto da garagem e de acesso direto para a casa pela cave.” Por estar assente sobre a duna de areia, e por se tratar de uma peça única em betão, José Tavares teve de criar alicerces. “A areia não tem consistência e tivemos de ir muito fundo, aproveitando para fazer a cave.” Cave que não estava inicialmente prevista.
Desenhada como se de um vídeo e de um projetor se tratasse, a casa nasceu sobre um terreno inclinado, geométrico. Tem dois corpos, um privativo, onde estão os quartos, e outro numa zona ligeiramente deslocada para Sul, a apontar para o horizonte. “Queria que existisse um diálogo entre as construções para não ferir a natureza. Há pinheiros a romperem o deque, um logo à entrada e outro na plataforma, que é o prolongamento do living, e outro ‘faz parte’ da suíte, além dos restantes que cercam a casa.
Houve, além do mais, um cuidado muito especial na escolha de materiais, dada a proximidade do mar. Optou-se por xisto, amplamente utilizado na zona, sendo de tradição nas casas e muros de divisão, e pela madeira, como complemento natural – no exterior o ipê, resistente às intempéries, e no interior usou-se a tola.
O pano do “projetor”, em vidro, é a exceção, mas fundamental em todo este cenário de betão, madeira e verde. A copa é um exemplo disso, onde um painel de vidro cumpre a função de ‘iluminação’, deixando entrar a luz do exterior e funcionando como uma autêntica pintura viva, que enquadra o pinheiro inclinado e o vento soprando os arbustos. “Mesmo tratando-se de betão, há uma certa dose de romantismo em tudo isto”, refere o arquitecto.
O pavimento da entrada, em chapa de alumínio e recortando o desenho da porta, estende-se à copa e à cozinha, comunicantes. No fundo, “a copa funciona essencialmente como um espaço de apoio à sala, um misto de bar. Foi uma forma de romper com o tradicional e um diluir de funções, que convivem pacificamente”, acrescenta. A ideia inicial de José Tavares tinha a ver com a simulação de um palco, como se fosse um cenário, sendo a plateia a continuação da sala e a paisagem o espaço de contemplação. Ampla, toda a zona social transmite esta sensação de palco aberto, com a belíssima escada a impor-se no espaço. E sempre o vidro, sempre a paisagem verde, sussurrante.