Formada em História de Arte, em Estudos Curatoriais e História de Design, Felipa Almeida é apaixonada pela cultura portuguesa, desenvolvendo uma curadoria de arte e artesanato. ‘Viagem’ é uma exposição coletiva que conta com a sua curadoria, “um diálogo único entre tapeçaria e cerâmica’, patente na Galeria Tapeçarias de Portalegre, em Lisboa, até 1 de junho. Aproveitámos a ocasião para falar com Felipa Almeida, sobre a exposição e não só.
1. Como surgiu a exposição ‘A Viagem’ e porque é que ninguém devia deixar de a visitar?
A exposição Viagem surgiu de um convite da Manufactura das Tapeçarias de Portalegre. As tapeçarias de Portalegre são para mim uma referência no nosso património artístico e acho que esta exposição oferece outra leitura destas obras de arte em contraste com a cerâmica. Comecei por escolher cinco tapeçarias e depois convidei cinco artistas que trabalham com cerâmica, que foram descobrindo as tapeçarias também. As peças resultaram deste diálogo dos artistas da tapeçaria e da cerâmica, e são uma combinação única e irrepetível.
2. Como surgiu o interesse pela arte e artesanato na sua vida?
Não me lembro de a arte não fazer parte da minha vida. Comecei por estudar Antropologia mas rapidamente percebi que era História de Arte que eu devia seguir e ainda bem que mudei. O artesanato descobri quando vim viver para Portugal e comecei a trabalhar com a Ana Anahory no atelier Anahoryalmeida. Desde o início decidimos usar peças e materiais nacionais para os projetos de interiores que desenvolvemos. Foi um desafio.
3. Como é que se apaixonou pelo artesanato português?
Cada projeto na Anahoryalmeida permitia uma nova pesquisa e abria mais uma porta. Fui descobrindo e a vontade de conhecer mais foi aumentando. O projeto de interiores do Hotel São Lourenço do Barrocal, no Alentejo, foi o culminar dessas descobertas, porque se insere numa região muito rica em cores, padrões e texturas no seu artesanato. Construímos o projeto tendo em conta a sua ligação à região, e tive muitas oportunidades de conhecer artesãos e pensar em novas peças com eles.
4. O artesanato é hoje mais valorizado no nosso país?
Acho que é mais valorizado aqui, e fora de Portugal também. As peças feitas à mão são apreciadas de outra forma e também existe cada vez mais o interesse em saber quem são as pessoas que fazem as peças, qual é a história dessas pessoas, a ligação a saberes ancestrais e como chegam aos nossos dias e se reinventam para o futuro.
5. Viveu alguns anos lá fora, consegue ver Portugal do lado de fora, com algum distanciamento e como é que isso é útil para o seu trabalho?
Estudei fora e regressei em 2006, mas sinto que continuo a descobrir Portugal com o mesmo entusiasmo que tinha quando cheguei. Creio que tive a sorte de poder conhecer o meu País com a emoção da descoberta, mas com a facilidade de entender a língua, a cultura e algumas subtilezas internas. Sinto que foi uma boa combinação para a pesquisa que tenho feito.
6. Continua a fazer projetos de design de interiores (agora num atelier em nome individual)? É uma forma de divulgar a arte e o artesanato português?
Atualmente dedico-me muito menos a projetos de interiores, mas quando o faço é sempre com o intuito de integrar arte e artesanato português como sempre fiz. Gosto de pensar os projetos em relação ao território e a cultura onde eles se inserem e, portanto, a minha pesquisa começa sempre no artesanato da região ou nos materiais disponíveis.
7. Qual a parte do seu trabalho que lhe dá mais gozo?
As visitas aos ateliers, às oficinas, às olarias. São sempre lugares fascinantes entre o universo dos artesãos e artistas, o material de criação, os utensílios, os objetos pessoais, as memórias. São uma boa fonte de inspiração também.