Ele é um dos maquilhadores mais talentosos da sua geração e foi director artístico da maquilhagem Lancôme durante 8 anos, até decidir lançar a sua própria marca. Que na verdade é todo um sistema inovador de paletas-módulos, totalmente personalizável, giro, prático e facílimo de usar, graças a texturas extraordinárias que se podem aplicar até com o dedo e num ápice.
A marca, que se chama Fred Farrugia como o seu criador, estará à venda a partir de Outubro, em exclusivo nas lojas Sephora, mas já a descobrimos e mostramos como é na ACTIVA de Outubro. Se adora maquilhagem, não perca essa edição, até porque ela dá-lhe a oportunidade de se candidatar a ser responsável da marca Fred Farrugia em Portugal, trabalhando na Sephora.
Entretanto, vá abrindo o apetite para esta apetitosa maquilhagem, lendo a entrevista com o maquilhador e vendo as fotos.
Qual foi a sua inspiração para fazer esta gama?
A minha inspiração foram as mulheres, como sempre aliás. A diferença desta vez é que me servi da minha experiência total: desde o princípio da minha carreira até ao meu último dia na Lancôme. A Lancôme deu-me a possibilidade de aprender a criar matérias e cores, mas ensinou-me, sobretudo, a estar atento às mulheres e às suas expectativas. E é por isso que a minha marca não é futurista nem passeísta, mas verdadeiramente de hoje, para responder realmente às necessidades das mulheres de hoje.
E levou bastante tempo a desenvolvê-la…
Cinco anos. Na verdade, ainda antes da minha saída da Lancôme, apercebi-me de que começava a ter limites que já não me permitiam ir realmente ao fundo da minha inspiração.
Porque tinha de criar para aquela marca, à imagem da marca…
Exactamente. O papel de um director artístico não é vampirizar a marca para a qual trabalha, mas pelo contrário valorizá-la. Nessa altura percebi que a única forma que eu tinha para continuar e ir realmente ao fundo das coisas, era criando a minha própria marca. Então, completamente naíf, habituado aos meios incríveis da Lancôme para criar o que queria…
Bastava-lhe levantar o dedo…
E levantar só até metade! (risos). Portanto na minha cabeça, até porque era mais jovem na época, achava que no ano seguinte iria apresentar a minha gama. Ora… nada disso. Não tinha meios, tudo era feito em minha casa, que se transformou em atelier/laboratório, tudo era feito lá, as cores, as texturas… E tudo somado durou 5 anos. Porque cada vez que chegávamos a uma conclusão ou um produto, op! percebíamos que era preciso criar mais outra coisa para que a história ficasse completa. De modo que o processo não chegava ao fim…! Mesmo neste momento ainda estou a criar (risos)… Mas é verdade que é preciso que as coisas atinjam a sua maturação, tudo pronto e coerente de A a Z, que o mínimo detalhe tenha sido pensado.
Como é que pensou no Ora Ito para fazer as embalagens?
Na verdade, tudo nesta marca se passou de forma um pouco mágica, e com base em encontros fortuitos. Quando saí da Lancôme, tinha o meu conceito na cabeça e a primeira coisa que fiz foi tentar encontrar fabricantes de embalagens. Contactei todos os fabricantes do planeta, todos. E todos me propunham as mesmas coisas, que já estavam mais que vistas em todo o lado, de tal forma que a certa altura pensei, pronto, o meu sonho acaba aqui. Resolvi então tirar umas pequenas férias, fazer uma pausa para esquecer tudo, e fui para Marselha, onde apanhei um barco para uma pequena ilha alí ao largo. E nessa ilha, um rapaz chega-se ao pé de mim e pergunta: é o Fred Farrugia? Eu disse que sim e ele apresentou-se: Ora Ito. Eu fiquei pasmado porque achava que o Ora Ito era japonês, quando na verdade ele é marselhês. Na época conhecia-se bem o seu trabalho mas não o seu rosto. Confessámo-nos fãs do trabalho um do outro, na semana a seguir encontrámo-nos para falar sobre o meu projecto e dois dias depois ele apresentava-me as minhas embalagens. E a história começou.
Neste projecto todo, o que foi mais difícil criar ou afinar?
Eu diria tudo… Tudo foi muito difícil. Para cada textura escolhi um fabricante, que para mim era o melhor pela sua especialidade. E escolhi-os em função do trabalho que eram capazes de fornecer, mas sobretudo pela sua motivação. Porque eu sabia o que lhes ia pedir. Para eles foi terrível ao princípio, porque eu destrui toda a concepção… toda a visão deles do que é uma base ou um batom, por exemplo. Ignorei todos os interditos – porque há coisas que não é possível fazer em química – e obriguei-os a eliminar todos os componentes que eles usam habitualmente e a substituí-los por outros. Eles diziam que era impossível, que nunca iria resultar, mas lá experimentavam e tornavam a experimentar até finalmente funcionar. E foi assim para todos os produtos e todas as texturas. Uma cor demorava 3 semanas a criar! Foi uma loucura.
Qual é a diferença das suas texturas face às outras existentes no mercado?
Por exemplo, a maior parte das bases são feitas à base de óleo e de silicone, e é por isso que os sentimos sobre a pele. O silicone pode ser óptimo para certos produtos, mas infelizmente se colocarmos pó por cima temos a impressão de ter uma espessura sobre a pele e, além do mais, não camufla e anula a personalidade. Por isso mandei retirar os componentes oleosos e substituí-los por ceras vegetais, que permitiram tornar o produto ‘inteligente’: a cera, em contacto com o calor dos dedos e do pincel, funde-se e torna-se cremosa, criando uma segunda pele, sem fazer demarcações, deixando transparecer o que deve transparecer, como as sardas ou os sinais, mas camuflando tudo o resto. Por exemplo nos glosses e nos batons também usei ceras porque queria ter o resultado de um líquido mas em forma de pasta. E aqui mais uma vez, o calor dos dedos e do pincel torna-os líquidos. No pó, mandei retirar todos os componentes de talco e substituí-los por mica transparente, porque tenho horror da pele ‘aprisionada’ pela maquilhagem e com este pó… vivemos com ele sem dar por ele. O segredo está na mica, que capta realmente a luz e é de uma transparência tal que podemos mesmo aplicá-lo com os dedos, coisa qué impossível com outros pós. Para as sombras, eu queria cremes que fossem empoados, mas não queria sombras-creme. Então mais uma vez retirei o talco para o substituir por óleo, porque ao contrário da base, a presença do óleo nas sombras permite fazer degradês e esfumar sem ser preciso ser maquilhador ou super especialista. Aplica-se com o dedos, podemos misturar as cores umas com as outras, sobrepô-las…
Qual é o produto da gama no qual tem mais orgulho?
Todos! (risos) Mas se tivesse de destacar um seria a base, que é realmente incrível.
Tem algum conselho para as nossas leitoras para elas tirarem mais partido da sua gama de maquilhagem?
Esqueçam as técnicas, divirtam-se com os produtos, experimentem, metam-lhes os dedos para compreender realmente o benefício e a diferença destas texturas. Porque quando olhamos para os produtos sem lhes tocar podemos pensar que é uma maquilhagem como outra qualquer, mas não é. E é por isso que, justamente, é preciso tocar-lhe e mexer-lhe com os dedos.