Desde que nos levantamos até que nos deitamos, temos cerca de doze horas, doze horas inteirinhas, que começamos logo a distribuir pelas mais variadas pessoas e tarefas: o tempo do trabalho, o tempo das compras, o tempo do marido, dos filhos, dos amigos… mas… já parou para pensar no tempo que dá a si mesma? Afinal é o SEU dia, não é de mais ninguém.
Estar enredada na falta de tempo é um ciclo vicioso difícil de quebrar. É fácil o dia acabar por se resumir a uma sucessão de afazeres, responsabilidades e pormenores a que temos de dar atenção sob pena do mundo se desmoronar. Claro que provavelmente já se deu conta disto. O que talvez não saiba é que este estilo de vida pode estar a prejudicar gravemente a sua saúde. Só para dar um exemplo: alguns estudos têm vindo a demonstrar que a falta de tempo é responsável por uma maior negligência relativamente à própria saúde (adiam-se as idas ao médico, não se vigiam os níveis de colesterol…).
As mulheres são mais propensas a este tipo de funcionamento: são campeãs do chamado
multitkasking, exímias na arte de pensar em três coisas, enquanto fazem quatro. Até já se fizeram investigações sobre os mecanismos cerebrais de ambos os sexos para explicar este fenómeno. Só que esta habilidade para fazer várias coisas ao mesmo tempo esconde algumas armadilhas: para começar compromete a nossa eficácia.
Um estudo publicado em 2007 pela psicóloga Sharlene Newman, nos EUA, concluiu que embora seja possível, e por vezes desejável, efectuar várias tarefas ao mesmo tempo, a eficiência diminui na proporção do número de coisas feitas ao mesmo tempo, sobretudo quando uma ou mais tarefas são complexas e requerem grande atenção. O psicólogo clínico Pedro Dias Coelho corrobora: "a capacidade de processar informação simultaneamente para um Ser Humano é muito limitada, e o alarme para este limite é a perda da eficácia, e por consequência um aumento de stresse, que se torna agressivo e mesmo devastador quando o conjunto de tarefas se torna avassalador. As pessoas que tiveram AVC’s, após períodos de grande exposição a stress intenso bem podem dizê-lo…", lembra.
E se não é propriamente viável abandonar as exigências do quotidiano e isolar-se num mosteiro budista no Tibete para fugir ao stresse, tirar algum tempo para não fazer nada até nem é tão complicado. Um dos grandes benefícios é que aprende a tornar-se mais consciente do seu corpo: " O excesso de stresse oculta os sinais que este nos envia. A má postura corporal, a acidez no estômago, as dores de cabeça, são sinais evidentes de que algo não está bem, e desprezá-los é muitas vezes demasiado perigoso para o nosso bem-estar", alerta Pedro Dias Coelho. Se reconhece algum destes sintomas, então talvez esteja na hora de começar a pensar mais em si mesma.
Pode tentar isto em casa…
…E também no carro, no supermercado, a falar ao telefone ou quando estiver a conversar. De que falamos? Trata-se de experimentar abrandar. Tire o pé do acelerador, pegue nas coisas mais devagar, acalme o ritmo do discurso, ande com menos pressa. Experimente por cinco minutos, ou até apenas um. Nota alguma coisa diferente? A maior parte das pessoas sente-se mais calma e serena depois de fazer este exercício, como se tivesse saído de um ritmo frenético que na verdade estivesse a ser imposto do exterior e que seguimos sem questionar.
O autor do "Pequeno Livro do Tempo" (Editorial Bizâncio), Jacob Needleman, sugere algo semelhante: "Um homem sábio nunca tem pressa", diz citando a afirmação atribuída a Aristóteles. E explica: haverá sempre alturas em que vamos estar atrasadas, em que temos de correr, de cumprir prazos. O que faz a diferença é a nossa atitude: se conseguirmos limitarmo-nos a fazer o que temos de fazer, concentrando-nos apenas nisso, e esquecendo o resto, libertamos o cérebro de quilos de tensão inútil e de ansiedade, acabando por fazer as coisas mais rapidamente sem os efeitos nefastos associados à pressa, isto é, sem nos enervarmos. A ideia é, pois, conseguirmos estar relaxadas mesmo quando estamos com pressa, ainda que pareça um contra-senso.