Devia ser fácil: uma pessoa deitava-se, adormecia sem precisar de rebanhos de carneiros, e acordava pronta para um novo dia.
Se este não é o seu retrato, não está sozinha: 47% dos portugueses dormem mal, segundo dados da Alta-Autoridade para a Saúde.
O problema não é apenas individual: estamos a criar um país de gente doente que dorme ao volante e passa o dia cansada, irritável e improdutiva.
"Portugal é um país privado de sono, e um país privado de sono não pode funcionar", defende a neurologista Teresa Paiva. E quando não se dorme? Pois quando não se dorme, os portugueses não estão com meias medidas: atacam logo com medicamentos, de que somos um dos maiores consumidores. Em 2008, cada português consumiu em média duas caixas de medicamentos para dormir!
"Temos em Portugal um profundo desrespeito pelo sono", defende Teresa Paiva. Para nós, dormir é um tempo que passamos sem fazer nada. Mas, afinal, para que serve o sono? Resposta: ninguém sabe ao certo. Aliás, em termos de sobrevivência pré-histórica até parece uma actividade altamente contra-indicada. Imaginem: quem se estendesse na savana durante umas longuíssimas oito horas arriscava-se a acordar no estômago de uma leoa… "Se o sono não serve uma função absolutamente vital – afirmou o especialista Allan Rechtschaffen -, é o maior erro que a evolução já cometeu."
Aparentemente, no entanto, a evolução não comete erros e o sono é mesmo vital. "Durante o sono produz-se tudo aquilo que é essencial a uma boa vigília", explica Teresa Paiva. "É altamente produtivo em termos metabólicos, imunitários, de memória, de aprendizagem."
Aprendizagem, sim: é essa, aliás, uma das principais funções dos sonhos, o que explica por que é que os animais pequenos e os bebés sonham ainda dentro do útero. "O pintainho quando sai do ovo já sabe o que há-de fazer", explica Teresa Paiva. "Isto porque dentro do ovo ele já sonha com os comportamentos necessários à sua sobrevivência. Por isso é que todos nós humanos temos aqueles sonhos em que caímos ou somos perseguidos: são sonhos ligados à nossa evolução enquanto espécie."
Há quem diga que sonhamos para recordar, para fixar acontecimentos na memória, ou para esquecer, para libertar o nosso ‘disco rígido’. Outra função dos sonhos é simbólica, outra ainda tem que ver com a criatividade. Mas se não se lembrar dos seus sonhos, não se aflija: somos feitos para os esquecermos. Porquê? Não se sabe… "Provavelmente a função dos sonhos é cumprida quer tenhamos ou não consciência deles. O importante é sonhar.."
DURMA PARA SER MAGRA
Se este não é o seu retrato, não está sozinha: 47% dos portugueses dormem mal, segundo dados da Alta-Autoridade para a Saúde.
O problema não é apenas individual: estamos a criar um país de gente doente que dorme ao volante e passa o dia cansada, irritável e improdutiva.
"Portugal é um país privado de sono, e um país privado de sono não pode funcionar", defende a neurologista Teresa Paiva. E quando não se dorme? Pois quando não se dorme, os portugueses não estão com meias medidas: atacam logo com medicamentos, de que somos um dos maiores consumidores. Em 2008, cada português consumiu em média duas caixas de medicamentos para dormir!
"Temos em Portugal um profundo desrespeito pelo sono", defende Teresa Paiva. Para nós, dormir é um tempo que passamos sem fazer nada. Mas, afinal, para que serve o sono? Resposta: ninguém sabe ao certo. Aliás, em termos de sobrevivência pré-histórica até parece uma actividade altamente contra-indicada. Imaginem: quem se estendesse na savana durante umas longuíssimas oito horas arriscava-se a acordar no estômago de uma leoa… "Se o sono não serve uma função absolutamente vital – afirmou o especialista Allan Rechtschaffen -, é o maior erro que a evolução já cometeu."
Aparentemente, no entanto, a evolução não comete erros e o sono é mesmo vital. "Durante o sono produz-se tudo aquilo que é essencial a uma boa vigília", explica Teresa Paiva. "É altamente produtivo em termos metabólicos, imunitários, de memória, de aprendizagem."
Aprendizagem, sim: é essa, aliás, uma das principais funções dos sonhos, o que explica por que é que os animais pequenos e os bebés sonham ainda dentro do útero. "O pintainho quando sai do ovo já sabe o que há-de fazer", explica Teresa Paiva. "Isto porque dentro do ovo ele já sonha com os comportamentos necessários à sua sobrevivência. Por isso é que todos nós humanos temos aqueles sonhos em que caímos ou somos perseguidos: são sonhos ligados à nossa evolução enquanto espécie."
Há quem diga que sonhamos para recordar, para fixar acontecimentos na memória, ou para esquecer, para libertar o nosso ‘disco rígido’. Outra função dos sonhos é simbólica, outra ainda tem que ver com a criatividade. Mas se não se lembrar dos seus sonhos, não se aflija: somos feitos para os esquecermos. Porquê? Não se sabe… "Provavelmente a função dos sonhos é cumprida quer tenhamos ou não consciência deles. O importante é sonhar.."
DURMA PARA SER MAGRA
Não são só os adultos a dormir mal. Passamos a nossa péssima higiene de sono para as crianças: vão para a cama tardíssimo e levam o dia a cabecear.
Também aqui pode ser questão de informação: segundo um estudo citado por Teresa Paiva, há uma relação entre o sono das crianças e o nível social da família. Quanto mais elevado o nível familiar, mais as crianças dormem.
Mas há mais co-relações: quanto mais televisão vêem, menos dormem, quanto mais gordos, menos dormem, e quanto menos ginástica fazem, menos dormem. E sabia que quanto mais dormem melhores notas têm? "Estamos a arruinar a vida das nossas crianças pondo-as a dormir pouco!", alerta Teresa Paiva. "Isto é terrível e inimaginável!"
Também as mulheres têm muitas razões para dormir mal. Sim, há um sono ‘no feminino’: segundo o livro ‘Durma para Ser Sexy, Inteligente e Elegante’ [Ellen Michaud, Reader’s Digest], nós mulheres temos várias fases na vida em que damos problemas ao sono: durante a menstruação, na gravidez e durante a menopausa, podemos passar várias noites sem dormir à conta das hormonas…
Sabe-se agora que não dormir também nos faz… engordar. E não é preciso passar a noite a comer gelado de cheesecake. Tanto para mulheres como para crianças ou homens, explica Teresa Paiva, "a interacção do sono com a regulação alimentar e a absorção dos alimentos é fundamental. Dormir pouco aumenta a ingestão e a absorção dos alimentos e, portanto, faz-nos engordar".
LEITE NÃO FUNCIONA…
A nossa sociedade não é, definitivamente, uma em que se durma com os anjos. "As pessoas vivem com imensas preocupações", nota Teresa Paiva. "Quando comecei a fazer medicina, o drama das famílias era o pai alcoólico, com histórias de tareias à mulher e aos filhos. Agora, o drama principal são as famílias desestruturadas. Há mais conflitos, casas mais pequenas, vidas muito desorganizadas. A mãe e o pai trabalham, chegam exaustos, e tudo isto aumenta os níveis de ansiedade e as dificuldades em dormir."
Ver televisão à noite só vai piorar e reduzir o tempo de sono. Adormecer no sofá também não ajuda: "Isso é mito: não se dorme melhor no sofá do que na cama!", defende Teresa Paiva. "Pelo contrário, quando passamos do sofá para a cama já perdemos a nossa pressão para o sono." Esta é tanto maior quanto maior o tempo de vigília prévio: "se adormeceu entretanto, diminuiu a pressão para o sono".
Leitinho e bolachas, é outro mito: "O leite só vai fazer com que se levante a meio da noite para ir à casa de banho."
Conclusão: se anda às voltas na cama há mais de meia hora ou se passa horas em claro a pensar no que há-de dizer ao chefe, não estenda já a mão para a caixa dos comprimidos. Pense primeiro como é que pode tornar a sua vida mais amiga do sono. E, para começar, que tal ir-se deitar hoje um bocadinho mais cedo?
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