Perguntámos às nossas cobaias quais as características que deviam fazer parte do currículo de uma mulher inteligente. Então, considere-se inteligente se for…
Perfecionista – Para que é que havemos de fazer mal feito se podemos fazer bem feito, era o lema das nossas avós. É verdade que as nossas avós não tinham a nossa vida e que havia ‘pessoal’ para engomar os lençóis de linho e puxar o lustro aos vidros… quando as nossas avós não eram o ‘pessoal’ e trabalhavam mais do que alguma vez sonhámos. Mas enfim, numa vida ou noutra, o lema mantém-se, e em tempos de crise só ficam os melhores: se vai fazer qualquer coisa, por que não fazê-la bem feita? E se não sabe, pergunte. Afinal, a definição de inteligência é a capacidade para aprender e resolver problemas…
Realista – Problema: a perfeccionista diz que temos de fazer o trabalho bem feito, conforme jurámos à avó Joaninha no seu leito de morte, a realista diz que ou fazemos o trabalho bem feito, ou temos tempo para viver qualquer coisa antes de sermos atropeladas por um psicopata ao virar da esquina. Como equilibrar as duas: ter a inteligência de perceber o que é realmente importante na nossa vida. O que nos leva à alínea seguinte.
Intuitiva – Treine o pensamento sem censura. Os nossos pensamentos chegam–nos coados por filtros de que nem nos apercebemos: aquilo que aprendemos, que nos ensinaram, que achamos que devíamos fazer, que pensamos de nós, que pensamos dos outros, que achamos que os outros vão achar… É difícil ver claro entre tanta gente, mas a claridade também se treina: aprenda o mais que possa para dar ao seu subconsciente cada vez mais ‘armas’ de decisão, e depois relaxe e deixe vir os pensamentos.
Organizada – Ter filhos e ter uma vida? Ser solteira mas sobreviver sem traumas? E tudo isto sem cair para o lado de exaustão? Como os manuais do novo feminismo passam a vida a jurar que podemos fazer tudo o que quisermos, nada como tentar. Precisamos mesmo de ir ao supermercado todos os dias? De engomar todas as t-shirts? E o resto da família, não pode ajudar mais? Faça uma lista daquilo que tem para fazer: é um conselho tradicional que 99% das pessoas não segue, mas ajuda de facto a perceber como orientar melhor a vida.
Decidida – Dizemos que fazer mergulho submarino sempre foi o sonho da nossa vida, mas não queremos de facto mudar de vida, porque ser feliz dá mais trabalho que viver longe dos peixes e dos corais (pelo menos ao princípio). Mas nem sempre cumprir um sonho passa por mudar de vida (a não ser que queira mesmo MESMO ser atiradora de facas). Há sonhos que se encaixam bem no nosso quotidiano. Há outros sonhos feitos mesmo para não passarem de sonhos (também precisamos desses). E há aqueles que dão trabalho a sério. Recue três casas no Jogo da Glória das Inteligentes e volte à casa da Intuição: aqui, o nosso melhor guia é o desejo, e estamos demasiado habituadas a calá-lo. O que é que quer mesmo fazer? E dentro do que de facto lhe apetece, o que é mais fácil de realizar?
Corajosa – Portugal está cheio de mitos do trabalho: só se é produtiva se se ficar a trabalhar até que venham as senhoras da limpeza, deve-se estar sempre disponível e contactável, de que se é insubstituível. Churchill dizia que ‘os cemitérios estão cheios de gente insubstituível’. Quando puder, delegue. Quando puder, diga ‘hoje saio mais cedo porque fiquei de levar o meu filho/marido/avô/grand danois a passear’. Não aceite reuniões que comecem às 6 da tarde. Trabalhe o melhor que possa mas quando acabar o seu horário levante-se e saia. Não é bem-visto? Pois não. Mas se não lutarmos pelos nossos direitos, nada vai mudar. E relaxe. Daqui a uns tempos, vão-se habituar. E seguir o seu exemplo.
Positiva – Não tem de ser aquela pessoa que encontramos todas as manhãs no elevador e nos atira um palmadão nas costas acompanhado de um luminoso ‘então, bem-disposta?’. Mas elimine as nuvens negras. Se puder. “A maioria das mulheres, mesmo as muito inteligentes, tem um péssimo hábito”, nota a psicóloga americana Judith Tingley no Blog intelligentwomenonly.blogspot.com. “Uma voz interior que só debita o que fizeram de errado.” Isto não só não as ajuda a resolver nada como lhes causa stresse desnecessário. Curiosamente, também não se resolve com pensamento mágico tipo ‘O Segredo’: ‘Vou ser fantástica e resolver isto em três tempos’. Mas se formos realistas, talvez se consiga chegar lá: ‘Vou dar o meu melhor e logo se vê se consigo.’
Afetuosa – Vamos lá ser lamechas à vontade, que aqui ninguém nos está a ver… Até podemos citar aquelas frases que nos postam dia sim dia sim no Facebook, tipo ‘Dê a quem você ama asas para voar, raízes para voltar e motivos para ficar’. Dizem que é do Dalai Lama, mas não juramos. De qualquer maneira, é uma grande verdade. Outra verdade é que, se a pessoa que mais amamos no mundo temos de ser nós mesmas, os outros continuam a ser o nosso refúgio quando lá fora chove (e faz sol, já agora). Recebemos aquilo que damos, e se a lei não é matemática, pelo menos é lógica: já viu alguém muito amado que não desse amor de volta? Às vezes chamamos amor às coisas erradas, mas isso já é outra história…
Original – Pense ‘fora da caixa’, aconselham os americanos. Por que é que isto é inteligente? Enfim, nem sempre… Se no meio da savana uma gazela decidir mudar de direção e desatar a correr na direção do tigre, este vai agradecer-lhe (se não ficar tão espantado que foge dela). Tendemos a pensar ‘dentro da caixa’, ou em rebanho, porque seguimos o instinto pré-histórico de não nos destacarmos na savana, mas na selva em que vivemos o importante é muitas vezes ser vista e não ser invisível. Por isso, proteja-se: dê ao mundo qualquer coisa que o mundo não tem. Tenha a coragem de ser olhada. Faça o que tem a fazer sem olhar para o lado, porque senão há de sempre ver um tigre pronto a comê-la e vai passar a vida a fugir de tudo…
Segura – Sabe por que é que há mais divórcios? Sim, é porque as pessoas deixaram de saber lidar com dificuldades, mas também é porque as mulheres já não estão dispostas a aturar aquilo que as nossas avós sofriam. Não se sinta culpada. Se há muitos sonhos nesta vida, há ainda mais almas gémeas. Se ele não a respeita como merece, parta para outra. Ou outro. Siga o sábio conselho da Oprah: ‘Ponha limites na forma como um homem a trata. Se não gosta de alguma coisa, fale.”
Aberta – Estamos a mudar em todos os sentidos e de todas as maneiras: por isso não se feche. Leia mais, conheça mais gente, veja outro tipo de televisão do que o suficiente para saber que alguém tem dois litros de silicone no peito, ‘amigue’ mais amigos no Facebook, partilhe frases, músicas e estados de alma (mas não partilhe fotos de biquíni), converse com a prima que encontrou no supermercado. É das pequenas coisas que nasce a luz (a Oprah inda não se lembrou desta).
Concentrada – Não temos desastres só porque bebemos muito. Temos desastres porque andamos a dormir. De noite tomamos comprimidos para dormir, de dia tomamos café para acordar. E os ‘desastres’ não são só os de carro. Não ande na vida a cabecear: concentre-se no que faz, ouça o que lhe dizem, responda quando lhe desejam um bom dia, olhe para os dois lados antes de atravessar, e olhe para os outros nos olhos.
Secreta – ‘O medo de estar sozinha é aquilo que empurra tantas mulheres para relações que não as satisfazem’, já dizia o Dr. Phil. Não é preciso ser o Dr. Phil para descobrir por que é que uma mulher inteligente não tem medo da solidão. Dar-nos aos outros suga-nos energias preciosas. De vez em quando, regresse a si. Tenha um lugar secreto na vida (e na alma) para onde se possa retirar só para estar consigo própria. Cozinhe mesmo quando está sozinha. Abra uma garrafa só para si (se tiver de sair depois, chame um táxi: ver alínea anterior, sff).