Numa fase de vida em que a auto-imagem é tão importante, “ter de encarar o futuro com borbulhas no rosto”, como cantava Rui Veloso, pode ser bem difícil. “A acne juvenil deve-se à produção excessiva de sebo por parte das glândulas sebáceas, que acontece usualmente na altura da puberdade por influência das hormonas sexuais”, explica a dermatologista Marília Moreira da Fonseca. “Aparecem as primeiras lesões – que poderão ou não evoluir –, os ‘comedões’. Comedão é uma dilatação do canal excretor da glândula sebácea (com dilatação do poro, se for aberto, ou sem poro, se for fechado), onde se acumula o sebo secretado pela glândula. Os comedões abertos são pretos na superfície, pela oxidação do sebo em contacto com o ar. Os fechados, têm tonalidade amarelada e podem complicar-se em lesões de acne.”
Se a retenção deste excesso de produção sebácea se mantiver, pode ser colonizada por micro-organismos, como estafilococos albus e propionibacterium acnes, habitantes naturais da pele, e levar à inflamação, passando de pápula a nódulo e daí a quisto.
O que a causa?
“Os fatores para o aparecimento da acne são muito variáveis. A predisposição genética para a desenvolver pode juntar-se a fatores locais. Todo o exercício físico em excesso aumenta a atividade glandular, bem como as temperaturas elevadas”, explica a dermatologista. Alimentos que podem ser alergénicos para algumas pessoas, como o chocolate ou o leite, nem sempre são os verdadeiros culpados no agravamento de um surto. “Podem desencadear surtos brutais em alguns casos e em outros não ter qualquer efeito.” Nas raparigas, a fase pré-menstrual também costuma corresponder a um agravamento de sintomas, por se verificar uma ligeira contração dos poros.
O verão é normalmente aproveitado para os tratamentos naturais. “Os raios ultravioletas diminuem a inflamação da pele; é como se secassem as lesões. À exceção dos casos mais graves com nódulos e quistos, é necessário parar a medicação por que quase toda ela é fotossensível”, explica Marília Moreira da Fonseca. Se os ultravioletas melhoram a acne, os infravermelhos, que transmitem o calor, podem piorá-la. Por isso, nos primeiros dias de praia as lesões podem até agravar, mas melhoram à medida que eles ficam mais bronzeados. “Depois do regresso às aulas, entra de novo em jogo o stresse (sobretudo na altura dos testes e exames), eles passam mais tempo em casa ou dentro de portas e voltam as lesões inflamatórias.”
Cuidados a ter em casa
As peles de tendência acneica “são complicadas”, observa a dermatologista, que nos deixa conselhos de higiene e prevenção.
– “Baixar a temperatura da água nos duches.”
– “Não utilizar produtos agressivos para a pele e sim de linhas vocacionadas para peles de tendência acneica. Este tipo de peles acumula, diariamente, muita sujidade e excesso de produção a nível cutâneo. Aconselha-se a lavagem com gel lavante, de manhã e diariamente; à noite, uma lavagem com esfoliante, feita de forma suave.”
– “Usar hidratante diariamente, de manhã, que deve ser matificante se a pele for muito oleosa. À noite, a seguir à esfoliação, o creme vai depender do tipo de acne e já entra na linha dos produtos de tratamento.”
– Não espremer as borbulhas.
Como se trata?
O tratamento será indicado em função do tipo de pele, lesões e até do estado de espírito do vida do jovem. “Hoje existem muitas alternativas terapêuticas para a acne juvenil. O tratamento tópico [de aplicação na pele] é eficaz nas acnes mais incipientes mas também pode complementar tratamentos sistémicos, nos casos de lesões mais graves. Os derivados de retinóides vêm à cabeça na primeira linha no tratamento. Existem ainda produtos como ácido glicólico e salicílico, já incorporados em muitas gamas de dermocosmética e de prescrição médica. Podemos ainda usar antibióticos tópicos, que tratam a colonização bacteriana e ainda têm algumas propriedades anti-inflamatórias.”
E a acne nos adultos?
“É muito mais evidente nas mulheres (em mais de 90%) e está habitualmente relacionada com síndromes hormonais, nomeadamente ovários poliquísticos ou quistos nas glândulas suprarrenais (menos comuns)”, diz-nos a dermatologista. “É um tipo de acne mais refratário, com lesões mais complexas e profundas, que se manifestam por nódulos, comedões e quistos de retenção numa zona da face diferente da usual na acne juvenil, na metade inferior da cara e pescoço.” O tratamento pode passar pela terapêutica hormonal antiandrogénica.