Eliminar e prevenir as manchas
A seguir à acne, elas são a causa mais frequente das consultas de dermatologia. Há vários tipos de hiperpigmentações, das quais a mais frequente é o melasma: aquelas manchas castanhas que surgem frequentemente na testa, nas maçãs do rosto e sobre o lábio superior, por exemplo. “É uma patologia que toca essencialmente o sexo feminino e numa faixa etária muito específica, durante a idade fértil, quando há uma produção ativa de hormonas femininas”, explica o dermatologista Miguel Trincheiras, diretor clínico da Clínica Derme. “Após a menopausa, esta tendência para a pigmentação melânica facial tende a diminuir e a desvanecer-se, embora possa durar ainda para além do início da menopausa, mudando até desaparecer totalmente.”
Não se sabe prever exatamente quem vai desencadear um melasma, ou quando, mas sabe-se que há uma relação direta entre as hormonas femininas e o seu aparecimento: como prova o facto de grande parte destas hiperpigmentações surgirem no início da toma da pílula e durante a gravidez, embora possa haver também uma predisposição genética. Algumas mulheres têm este tipo de manchas muito cedo, noutras elas só surgem mais tarde, quase na menopausa, e ainda não se sabe exatamente porquê. “Há provavelmente fenómenos multigénicos que facilitam o aparecimento desta pigmentação, que tradicionalmente envolve a face, por vezes a região do decote, e algumas vezes também os dois antebraços, embora a face seja a mais frequente”, diz o médico. “Curiosamente são pigmentações extremamente simétricas, nós por vezes podemos diferenciar, quando temos dúvidas clínicas, entre os lentigos actínicos, os lentigos solares e o melasma precisamente pela assimetria que essas lesões pigmentares têm tendência a assumir em relação ao melasma. Depois pode haver vários padrões: centro faciais, mais laterais, podem abranger toda a face… mas sempre com simetria.”
Como podemos prevenir
Em termos de prevenção, é possível controlar, ou pelo menos minimizar, os dois fatores principais responsáveis pelo aparecimento do melasma: o sol, a radiação ultravioleta, que estimula a produção de pigmento melânico, e a componente hormonal. Em relação à radiação ultravioleta, a proteção solar diária, 365 dias por ano, é fundamental e inegociável. Em relação ao fator hormonal, “nesta fase faz sentido não fazermos um aporte suplementar de hormonas. Portanto é contraindicada, ou deve ser limitada, a contraceção hormonal, quer seja oral, transcutânea, por implantes, por DIU, etc. Tudo o que envolva hormonas femininas é desaconselhado“, diz o dermatologista. Mas mesmo com todos estes cuidados as manchas podem surgir e “embora estes quadros não tenham qualquer risco para a saúde – a única questão é estético-psicológica –, é algo que preocupa a maioria das pacientes atingidas”. Felizmente há terapias médicas com bons resultados.
Como podemos tratar
“Em termos terapêuticos há várias abordagens que podem ser feitas, desde as mais simples às mais ‘agressivas’, embora, quanto a mim, a terapêutica do melasma deva ser sempre o mais suave possível para não entrarmos no campo das hiperpigmentações pós-inflamatórias. Eu não recomendo os lasers nem a luz intensa pulsada porque numa primeira fase, passadas as crostas, a pigmentação desaparece, as lesões assumem um tom rosado, mas passados 10-15 dias pode haver um efeito ricochete intenso e a pigmentação torna-se ainda pior e mais complicada de resolver. Portanto, temos de ter muito, muito cuidado no tratamento do melasma, andar com pezinhos de lã, tentar sempre chegar lá com o mínimo de agressividade possível na terapêutica“, explica Miguel Trincheiras.
A terapia mais corrente nestes casos é a aplicação tópica de agentes despigmentantes, dos quais a hidroquinona é a molécula de referência. As mais atentas já terão ouvido falar dela porque há alguns anos deixou de poder ser utilizada em cosmética, já que é potencialmente irritante e sensibilizante quando usada em altas concentrações, mas os dermatologistas sabem como utilizá-la sem risco, muitas vezes complementando-a com outros agentes despigmentantes. Partindo geralmente da chamada fórmula de Kligman (uma combinação de hidroquinona, ácido retinóico e cortisona inventada pelo médico que lhe dá o nome), os dermatologistas criam as suas próprias formulações adaptadas a cada pessoa. “Eu continuo a fazer, em primeira instância, tratamentos despigmentantes para casa à noite, um manipulado típico da fórmula de Kligman modificada com mais algumas alterações, e grande parte dos melasmas responde bem a esta fórmula. Claro que complemento isso com uma vitamina C de manhã e proteção solar, fundamental… Outro protocolo despigmentante ao qual recorro também é o Dermamelan, uma fórmula complexa que tem uma capacidade despigmentante bastante importante. Mas temos de perceber que o melasma é uma patologia dinâmica, ou seja, não é tratar, está tratado e agora faça a sua vida normal. Podemos investir tempo a tratar um melasma, conseguir tratá-lo, e a pessoa, numa tarde de distração na esplanada, apanha meia hora de sol e volta à estaca zero, volta a repigmentar tudo. Portanto os cuidados de manutenção são fundamentais para quem tem tendência para desenvolver esta pigmentação, em particular ao longo da vida fértil.”
Segundo Miguel Trincheiras, grande parte dos melasmas resolvem-se bem e respondem habitualmente em 3 ou 4 semanas, mas há alguns, mais profundos, que podem levar mais tempo e chegar mesmo a um patamar em que já não é possível despigmentar mais – mas haverá sempre melhorias visíveis.
Para além dos agentes despigmentantes, os antioxidantes, como a vitamina C, a ubiquinona, a coenzima Q10 ou picnogenol são também muitas vezes usados pelos dermatologistas numa terapêutica conjunta.
Dar mais luminosidade à pele
Mesmo quando não há manchas, a pele pode ter um tom macilento. Seja qual for o tom da pele, aumentar um pouco a luminosidade (o que não significa exatamente aclarar) faz toda a diferença. A superfície da pele reflete cerca de 10% da luz que recebe do exterior, mas há uma série de fatores que diminuem essa reflexão, dando uma aparência de tez baça e cansada.
A nível superficial, quanto mais lisa for a pele, maior a sua capacidade de reflexão, por isso é importante mantê-la bem hidratada e com uma boa densidade, mesmo que já tenha algumas rugas, para que não haja zonas ressequidas e rugosas e as irregularidades do ‘terreno’ fiquem mais aplanadas.
A nível mais profundo, onde vão parar os restantes 90% da luz que não são refletidos pela superfície, três coisas determinam a harmonia do tom da pele que contribui para a luminosidade: a melanina (o pigmento acastanhado que nos dá o tom bronzeado e cuja quantidade determina o fototipo), a hemoglobina (presente no sangue ao qual dá a cor vermelha e responsável pela oxigenação das células e pelo tom rosado da pele) e o colagénio. Quando há um equilíbrio entre estes três fatores e todos funcionam bem, como acontece numa pele jovem, a tez parece quase iluminada de dentro para fora. Mas com a idade e as agressões exteriores repetidas (como os raios UV que desencadeiam manchas ou as partículas poluentes que geram micro inflamações e sufocam a pele), todos estes fatores são alterados e a pele fica com um ar mais acinzentado e baço.
Em medicina estética, podem ser feitos peelings (neste caso não muito profundos, já que a ideia é renovar a camada superficial da pele para a ‘desembaciar’) ou mesoterapia, na qual são feitas microinjeções de um cocktail de vitaminas, minerais, aminoácidos e ácido hialurónico para revitalizar a pele.
As propostas cosméticas
As soluções cosméticas mais eficazes são aquelas que agem a todos estes níveis: hidratação, estimulação da renovação celular com uma ligeira esfoliação para eliminar as células mortas acumuladas à superfície, ativos antioxidantes para limitar os efeitos das agressões exteriores. Os ativos de eleição são os AHA e BHA (alfa e beta hidroxiácidos), entre os quais se conta o ácido glicólico, para esfoliar, e a vitamina C, que tem múltiplas ações: aclara, estimula a produção de colagénio, tem uma ação antioxidante e anti-inflamatória.
Não podendo utilizar agentes despigmentantes potencialmente irritativos, que estão reservados ao uso médico, a cosmética tem vindo a investigar, e encontrar, ativos que atuam nas várias fases do processo de formação das manchas (umas vezes na produção do pigmento, outras na sua distribuição ou aglomeração, por exemplo). Quase todas as boas marcas têm linhas específicas para ajudar a diminuir as manchas e/ou aumentar a luminosidade. Quando aplicados regularmente, e sempre sem descurar a proteção solar, os cosméticos antimanchas são um bom complemento para ajudar a manter os resultados dos tratamentos médicos, conseguindo uma diminuição visível no tamanho e intensidade das manchas.