Matilde Rosa Araújo morreu hoje, em Lisboa, e deixou todas as crianças portuguesas mais pobres. Mesmo as que já não vão conhecê-la lhe devem aquilo que as crianças pré-Matilde nunca tiveram: uma literatura atenta aos pequenos pormenores do quotidiano, sem mensagens de moral, sem ‘deves e haveres’. Matilde não escreveu apenas para crianças, mas foi a elas que dedicou toda a sua vida, opção ainda mais admirável num país onde a literatura infantil sempre foi considerado um género menor.
"A Matilde era a nossa fada madrinha", afirma o escritor António Torrado, um dos mais íntimos amigos da escritora. "Tenho a certeza que, lendo os livros dela, conseguiremos perpetuar a voz dela, que era uma voz inconfundível, feita de ternura e sapiência."
Ligada à docência, aos livros e à defesa dos direitos das crianças, Matilde Rosa Araújo teve uma longa e premiada carreira literária. Nasceu em Lisboa em 1921, na quinta dos avós, em Benfica. Licenciou-se em filologia românica pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica. Foi professora do Ensino Técnico-Profissional, e formadora de professores na Escola do Magistério Primário de Lisboa. Foi autora de livros para adultos mas foram as crianças que mais precisaram dela: o primeiro livro para elas foi ‘O Livro da Tila’ (1957), escrito quando viajava de comboio entre Lisboa e Portalegre, onde dava aulas. A partir daí não parou: escreveu ‘O Palhaço Verde’, ‘História de um Rapaz’, ‘O Sol e o Menino dos Pés Frios’, entre muitos outros. Em 1980, recebeu o Grande Prémio de Literatura para Crianças, da Fundação Calouste Gulbenkian, e o prémio para para o melhor livro infantil, pela mesma fundação, em 1996, pelo seu trabalho Fadas Verdes (livro de poesias de 1994). Foi condecorada por Jorge Sampaio, e em 94 recebeu o Prémio Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores. Colaborava ainda estreitamente com a Unicef.
** Este artigo foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico **
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