Linda Evangelista, Cindy Crawford, Christy Turlington e Naomi Campbell. Estas quatro mulheres redefiniram o que significa ser modelo e marcaram uma era. Agora, contam como foi o trajeto até ao topo numa nova produção da Apple TV.
“As Supermodelos” é um documentário com quatro partes focado nas carreiras das protagonistas, nomeadamente na forma como eram tratadas enquanto jovens trabalhadoras e, mais adiante, as manequins mais requisitadas na indústria da moda em meados dos anos 1980 e na década de 1990.
Cada episódio tem um tema – “O Visual,” “A Fama,” “O Poder” e “O Legado” –, contando com entrevistas intimistas e imagens de arquivo. Enquanto comentam os tempos áureos, Evangelista, Turlington, Campbell e Crawford admitem que nem tudo era perfeito. Eis as maiores revelações feitas pelas próprias:
Linda Evangelista foi vítima de violência doméstica
Evangelista foi casada com Gérald Marie, um executivo da agência Elite, entre 1987 e 1993. No início da relação, tinha apenas 22 anos. “É mais fácil falar do que fazer quando se trata de deixar uma relação abusiva. Eu compreendo o conceito porque vivi isso”, admite.
A estrela não entra em detalhes, mas, visivelmente emocionada, levanta o véu sobre aquilo por que passou. “Ele sabia que não devia tocar no meu rosto; não devia tocar no ganha-pão, sabem? (…) Eventualmente, ele deixou-me ir, desde que ficasse com tudo. Mas eu estava segura e recuperei a minha liberdade”.
Mais tarde, Marie foi acusado de assédio e agressão sexual por várias mulheres — alegações que negou veementemente. Quando Linda soube que o ex-marido “magoou e violentou” outras mulheres, ficou “de coração desfeito”, confessa no documentário. Porém, o ocorrido também lhe deu força para contar a sua história.
Cindy Crawford sentiu-se objetificada por Oprah
Uma das cenas do documentário recupera um episódio antigo do talk show de Oprah Winfrey. “Sempre tiveste esse corpo? É inacreditável. Levanta-te por um momento”, diz a apresentadora a Cindy Crawford.
A manequim, que estava acompanhada por John Casablancas, um representante da agência Elite, levanta-se timidamente, mostrando a sua figura. “É a isto que eu chamo um corpo”, comenta Winfrey.
Numa reflexão sobre a participação no programa, Crawford não teve papas na língua. “Senti-me como gado ou uma criança, que devia ser vista e não ouvida. Ao ver com os olhos de hoje, a Oprah estava a dizer para eu me levantar e mostrar o meu corpo; para mostrar o motivo para ser digna de estar ali”, afirma. “No momento, não me apercebi. Mas agora, percebo que não está correto, especialmente vindo da Oprah”.
Yves Saint Laurent ajudou Naomi Campbell a conseguir a primeira capa da “Vogue”
“Eu queria receber o mesmo que as modelos brancas”, diz Campbell no documentário, recordando a dificuldade que teve em assegurar a sua primeira capa da “Vogue” no ano de 1988. Na altura, a supermodelo trabalhava para Yves Saint Laurent e desabafou com a equipa sobre o assunto.
“Eu não sabia o poder que ele tinha. Não sabia que ele diria algo. Quando dei por mim, estava em Nova Iorque”,; explica. “Não fazia ideia que era a primeira vez que uma pessoa negra aparecia na capa da ‘Vogue’ francesa até a revista ir para as bancas”.
Campbell explica que não encarou o momento como o quebrar de uma barreira. Simplesmente não queria que o sonho acabasse por ali, ou tornar-se um token (expressão anglófona para alguém que é incluído num grupo para passar uma falsa ideia de diversidade).
Linda Evangelista e Christy Turlington defenderam Naomi Campbell do racismo na indústria
Num segmento sobre o racismo que Naomi Campbell enfrentou enquanto trabalhava em Nova Iorque, a modelo explica que não conseguia fazer com que os táxis parassem nas ruas da cidade.
“Depois a Christy esticava a mão e eles paravam (…) Só me apercebi quando a Christy teve de ficar à minha frente, e chamar-me um táxi para eu poder ir trabalhar”. As duas tornaram-se amigas próximas e chegaram a viver juntas no início da carreira.
Tanto Turlington como Linda Evangelista tiveram de defender Campbell quando a manequim britânica era discriminada devido à cor da pele. “A Naomi nem sempre era contratada para desfilar”, afirma Evangelista. “Eu não compreendia. Para mim, a Naomi era mais bonita, tinha um corpo e andar melhor. Eu dizia-lhes que se não a contratassem, não me teriam”.