A Madonna que saiu de casa, aos 18, para ir “atrás” de um sonho, não é a mesma que nos últimos dois dias subiu ao palco do Altice Arena, em Portugal. Não só porque passaram 40 anos – e quatro décadas de uma montanha russa de êxitos, sucessos, escândalos, quilómetros de páginas de jornais e revistas, filmes- mas, e acima de tudo, porque nesse percurso a artista residiu e “bebeu” da cultura portuguesa e lusófona. Viveu em Portugal. Madonna e a “sodade” de Portugal
Agora, o regresso a terras lusas aconteceu porque Lisboa fez parte do circuito da digressão que marca o 40º aniversário da sua carreira: a Celebration Tour.
Durante mais de duas horas, a diva da pop “pegou o público pela mão” e levou-o numa viagem pelas últimas quatro décadas do seu percurso. Uma aventura que começa no ponto de partida: Nova Iorque.
Num momento de agradecimento, Madonna não esqueceu “os anjos” que sempre cuidaram dela. Tinha 18 anos e estava sozinha num cidade tão atrativa quanto perigosa como Nova Iorque. Era uma miúda e estava exposta a tudo. Hoje, a artistas sente gratidão por ter sido guiada pelo bom caminho e amparada nos momentos menos bons. Aproveitou para também dizer “obrigado” aos “mesmo anjos” por a terem, mais uma vez, protegido quando, há quatro meses, esteve gravemente doente.
A viagem continuou com paragens obrigatórias nos maiores êxitos. Claro. No entanto, o momento mais marcante terá sido, para os portugueses, o momento em que Madonna fala sobre Portugal.
“Quando nos mudámos para cá, não tínhamos casa, não tínhamos amigos. Vou dizer uma coisa importante: Lisboa, posso ter ido embora, mas vou sentir sempre a tua falta”, confessou cantando de seguida “Sodade“, de Cesária Évora.
“Sempre que estou longe e quero ter uma sensação de conforto, penso nos tempos em que cantava fado e Cesária Évora”, frisou a artista. “Penso em pessoas e lugares, em artistas, músicos, de que me tornei amiga nos tempos em que aqui vivi. Sentirei sempre a tua falta, Lisboa”, rematou.
Madonna comparou a vinda para Portugal, em 2016, com a chegada a Nova Iorque, no final dos anos 70, no início de tudo.
“Quero começar por dizer o quão importante é para mim este lugar (…) Há sete anos mudei-me para Lisboa. (…) Mudei-me para cá porque o meu filho David, queria muito jogar futebol… E o que ele quer, ele tem”, brincou.
“Que diabo, vamos lá começar tudo outra vez. Mas não tinha amigos… Ok, tinha um pouco mais de dinheiro, não falava português, tinha adotado a Estere e a Stella, que estavam com quase cinco anos, matriculei-as numa escola francesa. Toda a gente falava português… What the fuck! Senti-me extraterrestre? Sim.”
“Pouco a pouco, encontrei a minha tribo. Foi o que aconteceu em Nova Iorque, foi o que aconteceu em Lisboa. Descobriu outros artistas: músicos, cantores, pintores, dançarinos. Quando tal aconteceu, senti-me em casa, não estava sozinha. Por isso, obrigado”, concluiu.
Apesar do “desvio” feito a Portugal e a Cesária Évora, Madonna manteve o alinhamento, praticamente fixo desde a noite de estreia da digressão, a 14 de outubro, na O2 Arena, em Londres.
O espetáculo tem seis atos e um encore, a setlist começou com Nothing Really Matters e terminou duas horas e dez minutos depois.
Madonna e a “sodade” de Portugal
Madonna e a “sodade” de Portugal