
“Quando é que vais ter filhos?”
A maioria das jovens mulheres não está preparada para o momento em que familiares, amigos e colegas começam a fazer esta pergunta. Porém, para muitas millennials que passaram a última década focadas em construir uma carreira na sequência da crise financeira de 2007–2008, a resposta tem sido adiar a parentalidade — segundo a Portdata, em 2022, a idade média das portuguesas ao nascimento do primeiro filho era 30,8 anos.
Aconteceu comigo, que nem sequer pensava ser mãe. Na verdade, a minha carreira (ou aquilo que eu idealizava que ela fosse), sempre foi a pedra basilar do meu mundo. Não é de estranhar. Pertenço à geração mais escolarizada até agora, que teve o azar de concluir os estudos em tempos de incerteza económica. Isso é sinónimo de trabalhos instáveis, layoffs e aceitar cargos indesejados.
O meu plano era não ter filhos ou, à semelhança de muitas pessoas nascidas entre o início dos anos 1980 e o final dos anos 1990, fazê-lo após atingir um determinado status profissional; um nível que me permitisse ter (e proporcionar aos meus descendentes) uma vida estável. Mas esse momento nunca chegou, acabando por dar a vez ao nascimento do meu primeiro filho em dezembro de 2022.
Não posso queixar-me da minha situação. Como diz o provérbio, it takes a village to raise a child e eu tenho uma família que me ajuda a proporcionar um ambiente seguro e saudável ao meu filho. Eu já tinha essa consciência quando decidi ser mãe e a experiência da maternidade não está a ser muito diferente daquilo que imaginava. A minha maior curiosidade, confesso, relacionava-se com o lugar que o meu trabalho iria passar a ocupar numa realidade em que, inevitavelmente, já não seria prioridade.
Ainda estou a procurar respostas, mais eis o que descobri até agora:
Não sou a mesma e está tudo bem
Ao voltarmos ao trabalho, depois da licença de maternidade, tendemos a ser pessoas diferentes, com novas prioridades e preocupações. Nos primeiros dias, perdi demasiado tempo a tentar atingir a produtividade de antes enquanto tomava conta de um recém-nascido. Quando não consegui, ainda por cima numa fase de maior agitação para o bebé, caí na armadilha de pensar que estava a falhar em tudo, tanto em em desempenhar as minhas funções como em cuidar adequadamente do meu filho. Uma sensação avassaladora para quem sempre teve tanto brio nas coisas que fazia.
Além de uma adaptação física e psicológica, penso que esta fase exige que nos reinventemos profissionalmente, conforme li na revista Harvard Business Review. “Se era a pessoa mais trabalhadora no seu escritório, talvez possa tornar-se a mais eficiente. Se era a melhor mentora ou líder de projeto, pode tornar-se na melhor a delegar”, explica Daisy Wademan Dowling, fundadora e CEO da Workparent, uma empresa de consultoria para pais e empregadores no ativo. “Se não o fizer, vai dar por si a tentar desempenhar um papel que já não lhe compete”.
O trabalho também muda
Após o nascimento de um filho, as mulheres passam, no mínimo, quatro meses completamente desligadas do fluxo de trabalho e muito pode mudar do lado de lá nesse espaço de tempo. No meu caso, voltei para uma situação diferente da que conhecia, incluindo ‘mexidas’ na minha equipa e a implementação de novas formas de trabalhar.
Para que a transição seja mais suave, honestidade deve ser a palavra de ordem: honestidade com a direção da empresa sobre as nossas novas circunstâncias (e como estas afetam o nosso trabalho); e honestidade na gestão das relações com os colegas, com clareza relativamente a horários e planos, para que eles saibam com o que podem contar e respeitem os nossos limites.
Vestir a camisola tem um limite
Às vezes, passamos tanto tempo a tentar provar o nosso valor que nos desvalorizamos no mercado de trabalho. A coisa mais importante que a maternidade me ensinou sobre a minha carreira foi que não devemos contentar-nos com o potencial de uma situação, especialmente quando recebemos menos (dinheiro, reconhecimento, etc.) do que merecemos.
Dar à luz um ser humano pequenino, que depende completamente de nós, pode ser o melhor incentivo para sairmos de uma zona de conforto e recalcularmos a rota, quer isso signifique partir para novos voos ou arranjar formas criativas de ter um rendimento passivo.