Em finais de setembro os colaboradores de várias empresas foram avisados de que, em outubro, seriam instalados parquímetros no parque empresarial onde trabalho, a 15km do centro de Lisboa. Bom, ir trabalhar de carro já era caro, já não sei a quantas andamos com o preço da gasolina. Parece daqueles quebra-cabeças: ‘O Manel foi pôr gasolina na última segunda do mês de outubro, 15% mais cara do que no dia 1 do mesmo mês, que, por sua vez, era igual ao preço do gasóleo no dia 15 de setembro menos dez a dividir pelo preço de duas horas de parquímetro na zona vermelha’.
(Pausa para Marcelo ir ao Multibanco levantar dinheiro para pagar à Parques Tejo).
Já sei o que vão dizer: que eu moro perto, que há alternativas, que temos de pensar no ambiente, que isto e aquilo, por isso adiantei-me na argumentação:
1) Porque não vens de bicicleta? Ainda não arranjei forma de rebocar dois filhos, duas mochilas com o que parecem ser pedras da calçada e 10kg extra de má disposição adolescente matinal. Além disso, da última vez que me aventurei na selva suburbana de bicla quase que ia ficando com uma terceira roda na orelha, pois ia chocando com o Roberto Carlos e o seu Glovo Diavola no calhambeque.
2) Porque não vai cada um na sua bicicleta? Porque, por vezes não parecendo, amo muito os meus filhos e se o traçado das ciclovias fosse traduzido em som, seria tão intermitente como o código morse. Aposto que se for à dark web encontro alguma corrente conspiracionista que acredita que os autarcas estão a enviar mensagens encriptadas em cimento encarnado (vá, deixem o Jerónimo em paz!).
3) Então, mas os putos já têm idade para andar de transportes públicos! Claro que sim, super a favor da autonomia das crianças. Só pena os transportes serem públicos mas os seus horários serem praticamente confidenciais.
Depois de horas a convencer o miúdo a ir de autocarro para o basket e a explicar porque é que não ia ligar à Cofidis para conseguir financiamento para as suas viagens de Uber, lá foi ele para a paragem, onde ficou… parado. Oh mãeeeeeeeeeeee! Nestas alturas tenho duas opções: saio do trabalho prematuramente e arrisco-me a ir diretamente da incubadora para os cuidados paliativos profissionais ou recorro ao crédito pessoal, chamo o Ambrósio e entro nos cuidados intensivos financeiros. Isto tudo a multiplicar por dois, já que também tenho uma filha no voleibol. Claro que há sempre o Desporto Escolar, só é pena bater com o horário escolar. Posso simplesmente desistir de todas as atividades desportivas, mas receio que na reforma me venham deduzir uma taxa por contribuir para a despesa do SNS face à obesidade infantil.
Dito isto, quando tudo o resto falha, a mãe – não a tia – precisa mesmo do automóvel para ir trabalhar. Porque a mãe bem pode trabalhar no Valley mas de nada vale se não tem como fazer a filha chegar ao volley. Já agora, alguém tem uma coin a mais para o parquímetro? Sem o bit, que este Vale ainda é analógico.