Este ano cumpro tantos anos como a democracia portuguesa e celebro também eu a minha liberdade. Está na hora de nos libertarmos das mentiras que nos contam. Por um lado, denuncia-se o idadismo, por outro, arranjam-se as mais variadas metáforas para aliviar a verdade dos números. A nossa idade não é só um número, garanto-vos. Não é um número sem significado, vazio, que tanto faz como tanto fez (e, já agora, o mesmo é verdade para o número que a balança denuncia).
Por muito que se ‘paralisem’ os músculos do rosto, o tempo não pára. E ainda bem, já que um dos meus maiores medos, desde os anos 90, é que o argumento de ‘Groundhog Day’ se materialize. Ainda hoje tremo ao ouvir ‘I got you babe’, de Sonny & Cher, a música que dia após dia – na verdade sempre o mesmo dia – despertava Bill Murray. Já imaginaram que aborrecido seria ter de repetir o mesmo dia em prol do aperfeiçoamento moral? E fiquem a saber que Andie MacDowell conseguiu eventualmente livrar-se do Bill e hoje ostenta os seus 65 anos com orgulho.
Dizer que os 50 são os novos 30 não é um elogio. É um insulto encapuzado. Tal como nos dizerem que estamos bem ‘para a idade’. Mas, calma, os 50 também não são os novos 80, já agora, aproveito para dizer às minhas colegas de 20 que a senhora da foto que escolheram para ilustrar o artigo das cinquentonas tem pelo menos 130 anos. Isso é uma afronta! Ou serei eu a ter um afrontamento?
Se me apetece ter 50? Isso já é outra história. À partida, diria ‘não, obrigada, estou bem assim’. Mas depois faço aquele exercício de pensar que idade é que gostaria de ter para sempre e chego à conclusão de que não queria voltar a ter 20 ou 30. Muito menos, 13, que é a idade da minha filha. Não é estranho quando nos lembrarmos perfeitamente de ter a idade dos nossos filhos? Ou das nossas mães – e, como há 40 anos, já achávamos que elas estavam acabadas?
Os 50 não são os novos 30 mas eu estou longe de estar acabada. Até porque o meu comportamento muitas vezes ronda os 10. Que o digam as minhas colegas (ou talvez seja melhor pagar o seu silêncio). Aliás, a nossa cabeça é uma coisa muito estranha. A minha filha diz, em tom jocoso, que agora eu tenho a mania que todas as mulheres são mais velhas do que eu. Mas, a não ser que sofra da síndrome de Benjamin Button, eu ia jurar que aquela auxiliar lá da escola já cá estava há pelo menos uma década quando se deu o 25 de Abril.
Daqui a uns (bons) anos, estou-me a ver no lar (aqui na redação somos da opinião de que, perante o estado atual da profissão, talvez seja melhor criar uma ‘Casa do Jornalista’) a chamar velhas a todas as camaradas, eu com 100 elas com 101. Será que na altura também vão dizer que os 100 são os novos 50?
Resta-me seguir avante, com os cravos (e as ferraduras) ao peito. Concentremo-nos em salvar a nossa democracia, essa sim, demasiado jovem para o desgaste que já leva.