Acabar um casamento ou uma relação é terrivelmente doloroso. Não há apenas a separação daquele que se ama, mas a privação de todos os projectos e sonhos que se construíram a dois. Mas nada disto é eterno. E, quando menos esperamos, encontramos vontade de sorrir outra vez.
Margarida, 31 anos, arquitecta, sabe disso: “O Gonçalo foi o meu primeiro namorado. Antes, tive apenas aquelas ‘curtes’ na parte de trás dos pavilhões da escola, mas nada de importante. Começámos a namorar quando tínhamos 17 anos e foi com ele que perdi a virgindade. Éramos inseparáveis. Quando eu andava na faculdade – ele optou por não tirar um curso – ia-me buscar todos os dias depois das aulas. Jantávamos sempre juntos, em casa dos pais dele ou dos meus. Nunca senti ciúmes ou insegurança. Sabia que ele me amava. Quando terminei o curso, alugámos um apartamento em Lisboa. As minhas amigas diziam-me que tudo mudava quando as pessoas passavam a morar juntas. Mas connosco foi um processo tão natural. Tínhamos aquela relação que todos invejavam, que nunca ninguém colocava em causa, nem sequer eu… e então fui apanhada de surpresa.
“Acho que já não te amo”
“Um dia, o Gonçalo chega a casa com um rosto sério e diz que precisa de falar comigo. Pensei que fossem problemas no trabalho, mas quando ele me disse “quero separar-me”, senti que a casa inteira caia em cima de mim. Explicou-me que tinha chegado à conclusão que já não me amava. Percebi que ele estava a sofrer, mas continuava incrédula. É que acreditava mesmo que íamos ficar juntos para o resto das nossas vidas. E catorze anos depois ele lançava aquela bomba no meu colo. Que gostava muito de mim, mas como amiga!. Destruí a sala. Parti copos, pratos, gritei, chorei, de tal forma que ele não me deixou em casa sozinha essa noite. Só no dia seguinte é que arrumou as coisas dele, ligou aos meus pais para virem ter comigo e saiu de casa. Não quis falar com ninguém. Afoguei-me em calmantes. Não saia da cama. Estive assim durante uma semana. Até que uma manhã, sem motivo aparente, fiz um esforço para me levantar, tomar banho, arranjar-me e sai para a rua. E então percebi que continuava a gostar de viver… É claro que fiz muitos disparates. Comecei a sair à noite quase todas as noites. A beber mais do que devia. A envolver-me com homens que mal conhecia, como se fosse uma forma de alimentar o meu ego destruído. Foi uma espécie de ‘fuga em frente’ que demorou alguns meses a passar. Até que me apaixonei de novo, quando menos esperava, por um homem mais velho, que fez de tudo para ganhar a minha confiança. E a verdade é que conseguiu!”
Anabela, 42, jornalista
“Estive com o Duarte durante sete anos. Éramos colegas de trabalho, ambos casados na altura, mas a paixão foi tão forte que, um ano depois de nos conhecermos, estávamos divorciados e a viver juntos. Tivemos um filho, agora com cinco anos. Ora, quando nos acontece um amor tão forte que nos faz mudar a nossa vida completamente, contra a opinião dos pais e dos amigos, pensamos que é à prova de bala. Mas a questão é que o Duarte não era à prova de mulheres. Ele tentava disfarçar, mas eu descobri porque houve uma delas que lhe ligou lá para casa e, para azar dele, fui eu quem atendi o telefone. Na altura, perdoei-o. Estava grávida de sete meses. Depois, tudo pareceu acalmar até o nosso filho fazer três anos. Aí descobri que ele andava com uma amiga minha. Fiz-lhe as malas e expulsei-o de casa.
“Pensei que a culpa era minha!”
“O meu ego estava de rastos. Tinha engordado muito durante a gravidez e sentia-me a mais horrível das mulheres. Durante os primeiros meses alimentei a ideia que ele me deixara por minha culpa. Porque eu não me mantivera atraente, porque não o soubera entender, não o amara o suficiente… As minhas amigas passavam horas comigo a tentar meter-me juízo na cabeça. Por fim, a minha irmã convenceu-me a procurar a ajuda de um psicólogo. E foi assim que aos poucos aprendi a dar novamente valor a mim mesma. Emagreci, retomei a minha vida social e, logo no primeiro jantar de amigos a que fui, revi um velho amigo de infância, com quem namoro há sete meses.”
Helena, 55 anos, professora
“Quando se é nova e se fica sozinha, ainda vemos o mundo como um conjunto de possibilidades. Pensamos que o homem da nossa vida deve andar por aí e que ainda o podemos conquistar. Mas quando o nosso casamento termina aos 54 anos, como foi o meu caso, parece que toda a esperança se vai. Eu e o Miguel estivemos juntos mais de trinta anos. Tivemos dois filhos, um rapaz e uma rapariga, agora com 25 e 22 anos.O mais triste é que a nossa história é um lugar comum. Ele apaixonou-se por uma mulher mais nova. Quis o divórcio, mas assegurou que não me ia faltar nada. Acho que o paternalismo dele ainda me fez sentir pior do que o facto de se ter envolvido com outra. Atirei-lhe à cara que não precisava de nada dele. Mas quando fiquei sozinha, percebi que era mentira. E não falava de coisas materiais, mas sim de ter construído toda a minha vida em redor do meu marido e dos meus filhos, esquecendo-me de mim. Quase não tinha amigos. Os meus filhos estavam criados e fora de casa. De repente vi-me sem nada.”
“Tornei-me uma pessoa muito mais interessante”
Tinha muito tempo entre mãos. De início, passava o tempo que não estava a trabalhar na escola, a chorar. Mais com pena de mim do que com saudades do Miguel. O que ele fizera destruíra o amor que lhe devotava. Até que uma colega minha, também recentemente divorciada, me perguntou se queria fazer voluntariado no Instituto Português de Oncologia. Foi a melhor coisa que me podia ter acontecido. Aquelas horas que passava ali, junto dos doentes, mostraram-me como a minha situação era insignificante comparativamente ao sofrimento porque eles passavam. Os meses foram passando, foi conhecendo novas pessoas e quando dei por mim tinha uma vida muito mais interessante do que antes. Mais preenchida. Ao mesmo tempo, tornei-me uma pessoa mais interessante aos olhos dos outros. Foi isso que aconteceu com o Nuno, um médico do Instituto, que um dia me convidou para sair. E aí estava eu, aos 55 anos, a sair com um homem seis anos mais novo! O certo é que nos apaixonámos e estamos a viver juntos.”