Há alguns anos era impensável ter o pai a assistir ao nascimento do seu filho. Quando em casa, o pai ficava do lado de fora do quarto a andar de um lado para o outro à deriva. Nas maternidades, os que nunca roeram as unhas, deixavam que o nervoso miudinho lhe toldasse, por vezes, até a razão.
Em ambos os casos, os segundos pareciam longos minutos e os minutos longas horas. Nos quartos, as mamãs eram assistidas pelas mulheres da família e as vizinhas parteiras. Nas maternidades, por um conjunto de pessoas e um ambiente estranho. Sempre "pressionadas" pelos gestos e palavras dos presentes.
Quando os homens começaram a poder estar ao lado das companheiras com quem conceberam o filho e ao longo dos nove meses se sentiram "grávidos", então o panorama alterou-se. Aquela mão, aquele olhar, aquele beijo, o limpar do suor, aquela força dupla veio dar uma "nova" humanidade ao nascimento de uma criança.
A mãe, mais serena, "obedece" às "ordens" médicas. O pai exalta-se com o momento mágico de segurar o bebé nos primeiros minutos após o nascimento.
Agora, Michel Odent, um reconhecido obstetra francês, veio quebrar o encanto, ao afirmar que "o ambiente ideal de um nascimento não envolve homens". Salienta que "as mulheres terão mais problemas se os companheiros estiverem presentes. O parto pode ser mais doloroso porque a mãe sente a ansiedade do pai e fica mais nervosa".
O obstetra afirma ainda que "em última estância, a presença do pai pode levar a uma cesariana, ao fim do casamento devido à perda de atracção sexual e até a perturbações mentais".
Odent fala da sua experiência enquanto profissional há 50 anos e diz ter chegado à conclusão que "o melhor ambiente para a mulher quando está prestes a dar à luz é estar sozinha com uma parteira silenciosa"!?
Ao que se sabe não existem estudos que provem o contrário. Contudo, a longa e vasta experiência de outros peritos, além do senso comum, parece ir mais de encontro ao que defendem os especialistas portugueses. Luís Graça, presidente do Colégio de Obstetrícia e Ginecologia da Ordem dos Médicos, em declarações recentes ao jornal "i", afirmou que "desde que o pai queira e a mãe deseje, ninguém mais deve lá estar (além da equipa médica). Nem mãe, nem irmã, nem madrinha".
O pai, o cúmplice daquele acontecimento único, de um "projecto" e desejo a dois, é quem as mulheres mais desejam ter a seu lado. E não é só na hora do nascimento que estamos a falar, mas, sobretudo, nas horas que o antecedem, enquanto a mãe suporta as contracções e dilatação. Poderei não falar por todas, mas por mim e muitos milhões poderei afirmar de certeza que são demasiado frias e silenciosas as salas onde se "agoniza" de dores e é muito solitário o momento de segurar o filho nos braços, mesmo na presença de uma grande equipa de especialistas.
Com o pai ao lado (também por experiência própria), as horas passam a minutos, os minutos a segundos e o momento do nascimento ao mais esplendoroso e belo dos acontecimentos vividos a dois. Tão intenso e sedutor, como os vividos na altura da concepção.
Texto: Maria Vieria/A Maleta Vermelha
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