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No tempo dos nossos avós, ao papel de mau da fita cabia ao pai, que era tradicionalmente a fonte da autoridade. Com a maior autonomia das mães, estas passaram a assumir o papel de disciplinadoras.

A situação acontece tradicionalmente quando pai e mãe se divorciam, mas também é comum em muitos casais: a mãe é que impõe as regras, manda fazer os trabalhos e arrumar o quarto, e o pai joga Playstation, dá presentes e leva as crianças a passear. Os sites (e a vida) estão cheios de desabafos de mães fartas deste papel de ‘polícia familiar’.

“O meu marido deixa nas minhas mãos toda a disciplina, o que leva a discussões não apenas entre mim e ele mas entre mim e as crianças”, queixa-se uma mãe anónima no site de apoio às famílias www.dailystrength.org. “Ele é que quer ser o bonzinho, por isso manda-me a mim resolver as discussões ou assuntos complicados. Quando ele manda fazer qualquer coisa, nunca verifica se foi mesmo cumprida, e claro que os miúdos se estão nas tintas. Sinto que estou a fazer tudo sozinha enquanto ele protesta que eu sou demasiado severa e picuinhas.”

As respostas analisam o problema: “O castigo tem de vir da parte da pessoa que assistiu à cena, por isso é natural que, na maioria das vezes, seja a mãe”, nota o primeiro ‘ajudante’. “Mas o pai tem de apoiar. Fale com o seu marido sobre a melhor forma de fazerem justiça juntos. Às vezes, estarem fisicamente juntos já ajuda…”

Há quem seja mais radical: “Não discipline. Se um dos pais fala e o outro não diz nada, é provável que as crianças não obedeçam. Fiz isto em minha casa e funcionou: durante uns dias, não chateei ninguém para se calarem, para estarem sossegados ou lavarem os dentes. Foi o caos, e o meu marido percebeu que tinha de ser um pai e não um amigo das crianças.”

E claro que há quem seja capaz de ver o outro lado: “Esta não será a sua resposta preferida, mas já pensou que o seu marido pode estar certo? Já pensou que pode estar a ser mesmo demasiado severa e picuinhas? Antes de partir para o conflito, pense em si própria e pergunte: eu gostaria de ser filha desta pessoa?”

Guarda partilhada, autoridade partilhada

Ser a ‘má da fita’ é uma situação que, também tradicionalmente, se intensificava com o divórcio: à mãe, que ficava com a criança no dia a dia, cumpria o ingrato papel de polícia. Ao pai de fim de semana, os presentes, as saídas, e os cinemas.

Mas desde 2008, quando a Lei do Divórcio mudou, que o regime da guarda partilhada passou a ser a regra, e a autoridade cabe… à pessoa que estiver na altura com a criança. “Ou seja, a autoridade acaba por ser quem está mais à mão”, nota Clara Soares, psicóloga, jornalista e autora de vários artigos sobre o divórcio. “Os homens deixaram de ser pais de fim de semana e passaram mesmo a ter de ser pais a tempo inteiro. Portanto, o esquema tradicional em que o pai impunha a autoridade morreu, mas o esquema seguinte em que era o pai que dava os presentes também já vai pelo mesmo caminho.”

Por outro lado, estamos numa sociedade de consumo, onde os filhos podem ser mais facilmente subornáveis. “É inevitável que as regras sejam diferentes em cada casa”, nota Clara Soares. “Se o tempo for de qualidade não é necessário dar alguma coisa para impor uma coisa que já tem, tipo ‘vou-te dar um telemóvel para compensar o pouco tempo que eu passo contigo’. Os miúdos percebem quando estão a ser subornados, e podem fazer chantagem: ‘Vou pedir ao pai para me dar o telemóvel porque tu és má e não dás.’”

Mesmo que seja a nível de dinheiro, estamos sempre a falar da atenção dispensada. “Mas os filhos só exigem alguma coisa quando não se sentem suficientemente ambientados, e quando ninguém estabelece limites”, nota Clara Soares.

Quando falta autoridade aos dois pais, o que acontece é que os presentes substituem uma relação, e as próprias crianças podem começar a exigi-las como compensação para o que não têm. “As crianças, se não têm o que é essencial, agarram-se ao acessório”, explica a psicóloga. “E mais tarde começam a odiar as pessoas à volta delas porque repetem o ponto de fuga que está automatizado.”

Por exemplo: um rapaz que foi ‘comprado’ com presentes por pai ou mãe, habitua-se a resolver a vida nessa base. “Imaginemos um rapaz que está sempre a fazer de homenzinho da casa para chamar a atenção da mãe. Quando passa o tempo a chamar a atenção da miúda e ela o ignora, ele dá-lhe coisas com medo de a perder mas sem necessariamente saber se gosta dela. Então, pode estar a repetir a operação de charme que foi obrigado a desenvolver para sobreviver em casa. Foi uma projeção para o exterior do seu ponto de fuga, o seu ângulo cego, aquela área que não vemos porque estamos demasiado próximos.”

Ou seja, em conclusão, hoje em dia já não há esquemas definidos para a definição de autoridade numa família.

Evite ser a bruxa da casa

“As mães querem que o pai também tenha responsabilidade, mas muitas vezes são picuinhas e não querem abrir mão desse poder sobre os filhos”, afirma João Pereira, pai da Madalena, de 1 ano, e do Tomás, de 5. “Além de que, muitas vezes, elas tratam os próprios maridos como filhos, e não lhes reconhecem qualquer autoridade sobre as crianças…”

Para evitar sentir-se a má da fita, nada como… escapar ao papel. Claro que há regras que têm de ser mantidas, mas escolha bem as suas batalhas. Perceba o que é essencial. Se calhar, ter uma criança boa, carinhosa e bem formada é mais importante do que uma criança arrumadinha e bem vestida…

Quanto ao pai, é muito confortável ficar sentado no sofá (ou noutra casa…) mas os filhos também são dele. Em vez de se passar, sente-se com ele e discutam que regras são verdadeiramente importantes para os dois. Ele promete tudo mas depois continua a preferir ficar sentado a jogar Playstation em vez de chatear a criança para fazer os trabalhos? Olhe, experimente seguir o exemplo dele e não se chatear. Será que o método dele não é melhor?

Ok, se a resposta for ‘não’, então jogue pelas suas regras, e vá explicando às crianças o porquê de cada uma. Muitas vezes, temos de continuar a jogar sozinhas…

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