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Ilya Zaytsev

Sempre me dei mal com o meu irmão”, nota Margarida P., hoje com 40 anos. “A nossa relação era de permanente briga, e os meus pais não estavam nem aí. Não havia ninguém mais diferente de mim do que ele. Eu tinha a sensação de que estava casada com aquele tipo, e que não havia possibilidade de divórcio!” (risos).
A sensação de que somos bastante diferentes do nosso irmão é recorrente: e é verdadeira. A Marta e a Sara, por exemplo: uma é artística, a outra é economista. Uma vive com o namorado e não tem filhos, a outra organizou um casamento de estadão e tem 4 crianças. Uma tem quatro pares de ténis, a outra tem 45 pares de sapatos de salto alto. O que têm em comum: são irmãs.
A ideia de que os irmãos, por partilharem um conjunto de genes, devem ser muito parecidos, já foi posta de lado. Imagine que tem um irmão. O ‘mapa’ do seu cérebro é igual ao dele. Tem as mesmas ruas, as mesmas casas, as mesmas esquinas, os mesmos sinais de trânsito. Mas cada um tem ‘ruas’ diferentes iluminadas.
Nos anos 80, o investigador Robert Plomin publicou um estudo em que provava o seguinte: fisicamente, os irmãos podem ter algumas diferenças (cor de cabelo ou cor dos olhos) mas em geral dois irmãos eram mais parecidos um com o outro do que uma pessoa pescada ao acaso na rua. A verdadeira descoberta foi que, em termos de personalidade, os irmãos são praticamente como estranhos.

Porque somos diferentes
Ou seja: em termos de personalidade, só somos parecidos com um irmão nosso em 20% dos casos. Dado que partilhamos genes, casas, rotinas e pais, isto não faz sentido. Ou faz? Plomin tirou outra conclusão: os mesmos pais, ambiente, rotina, etc., não tornam duas crianças mais iguais, torna-as mais diferentes. As explicações são várias. A darwiniana nota que um ser humano terá toda a vantagem em minimizar a competição directa. Então, uma criança tentará diferenciar-se do irmão para ter a atenção dos pais e sobressair em qualquer coisa.
Depois há a explicação ‘social’, que diz que, mesmo que os pais assim o acreditem, nenhuma criança nasce exactamente na mesma família. Quando nasce o primeiro filho, os pais e avós estão mais stressados e ele terá toda a atenção, por exemplo, enquanto uma segunda criança já é criada mais relaxadamente. Quando as diferenças de idade são maiores, maior também a probabilidade de a vida dos pais ter mudado.
Além disso, cada criança ‘provoca’ um comportamento diferente nos pais, pelo simples facto de ser diferente e ter necessidades diferentes. Uma criança mais sensível terá mais mimo, por exemplo, enquanto uma criança mais ‘bruta’ será mais controlada.
Além de tudo isto, as famílias tendem sempre a exagerar diferenças mínimas entre irmãos. Isto parece tornar cada um deles mais ‘especial’ mas também vai influenciar e rotular a forma como cada criança se vê a si própria.
Conclusão de tudo isto: é normal que duas personalidades diferentes entrem em rota de colisão no mesmo espaço. E pode ser um desafio para os pais harmonizarem duas pessoas de feitios opostos debaixo do mesmo teto. Mas será assim tão dramática esta rivalidade?

Rivalidade saudável
Surpresa: essa rivalidade que nos dá tantas dores de cabeça até pode ser… normal. E saudável. E mesmo instrutiva. “Há sempre rivalidade entre irmãos, e essa rivalidade é saudável enquanto não se tornar patológica”, esclarece o psicólogo Paulo Azevedo. “É normal que as crianças tenham ciúmes. Afinal, um irmão é alguém com quem partilhamos coisas preciosas: afetos, carinho, brinquedos, atenção. Podemos tentar minimizar isto, mas temos de entender que eles têm direito à sua dose de ciúme.”
Quando é que esta rivalidade deixa de ser normal? Em três casos.
1. Quando há agressividade intensa: quando manifesta muita ansiedade em relação ao irmão, quando o arranha, lhe bate ou agride e há mesmo a tentativa de ‘eliminá-lo’.
2. Quando há regressão: algumas vezes, quando nasce um irmão a criança sente-se ameaçada e volta a fingir que é um bebé, para conseguir mais atenção dos pais. Tem medos, inseguranças, comportamentos de desafio. “Se isto começa a ser muito vincado, convém procurar ajuda. Mas só começa a ser preocupante se este comportamento está instalado e começa a ser recorrente.”
3. Quando há autoagressão: “A criança já se agride a si própria, dirigindo o seu ciúme e a sua agressividade contra ela.

Quando interferir
Os pais devem mostrar aos filhos que gostam de todos da mesma maneira, com as diferenças que possam ter. “Devem promover a autonomia, a imaginação, a autoestima e a diferença entre as crianças, aceitando a rivalidade entre elas”, aconselha Paulo Azevedo. E quando os dois irmãos brigam, eu que sou mãe devo meter-me? Bem, depende: “Os pais devem estar atentos mas deixá-los brincar sozinhos e aprender sozinhos a resolver as suas diferenças.” Nunca se devem meter? “Devem: quando uma das crianças está a ser desleal com o outro irmão. Se discutem, se protestam, se cada um tira o brinquedo ao outro à vez, estão a aprender a lidar com a situação. Se um deles bate ao outro, se é manipulador de alguma maneira, se lhe dá beliscões, os pais devem intervir.”
Afinal, defende Paulo Azevedo, a rivalidade tem uma função educativa e social: “As crianças, quando brincam, estão a ‘ensaiar’ o mundo dos adultos. Quando estão a brigar com os irmãos, também, de certa forma, estão a preparar-se para as suas relações futuras, aprendendo a compreender o outro. Na rivalidade, a criança vai tentar retirar aquilo que quer, mas também vai aprender a ceder. E esse equilíbrio entre retirar para mim e ceder ao outro é muito importante para o futuro.”
O ciúme, a inveja e a agressividade são reações normais num ser humano. E isso vai-nos obrigar a resolver conflitos dentro de nós próprios. “Ou seja, aprender a lidar com a presença, os desejos e a agressividade do outro vai-me ajudar a mim a crescer, a tornar-me um adulto mais maduro e compreensivo. Se não aprendo a integrar os outros, vou passar a vida a queixar-me dos meus colegas e do meu chefe. Porque nós, em adultos, só pomos em prática o que integrámos em criança.”
Ou seja, os pais devem estar atentos mas promover a independência: “Às vezes, vejo pais que querem que os filhos se deem todos muito bem. Isso é irrealista. E é verdade que deve haver vigilância paterna para impedir que os filhos vivam num estado de guerra permanente. Mas é bom que deixem as crianças lidar com os seus assuntos. Porque se eles estão constantemente a ouvir ‘não faças isso’, ‘não grites ao teu irmão’, vão crescer sempre à espera que seja a autoridade a fazer aquilo que eles já deviam saber resolver.”

Conversas de paz
Além de não exigirem filhos perfeitos, há sempre algumas ideias para evitar que dois irmãos se ‘peguem’ e tornar o ambiente em casa mais calmo. O site www.todaysparenting.com dá uma ajuda a pais stressados:
• Esqueça o 50/50: se uma das crianças precisa mesmo de mais atenção, dê-lha, sem sentimentos de culpa.
• Previna situações que já sabe que podem acontecer: nunca dê apenas um brinquedo para os ensinar a ‘partilhar’. Só vai conseguir que se peguem. Pode ensiná-los a partilhar de muitas outras maneiras.
• Se a coisa já estalou e tem duas sirenes de bombeiros aos uivos à sua frente agarrados ao mesmo carrinho, tire-lhes o carrinho, deixe-os acabar de berrar, distraia com outra coisa qualquer (‘Quem quer ver o Ruca comigo no sofá?’) e deixe passar.
• Nunca use frases do tipo ‘Olha ali o mano tão caladinho e a portar-se tão bem’. Nunca compare.
• Preste atenção a gritos de ordem como ‘Não é justo!’. Se calhar não é mesmo. Se não for, não faça braço de ferro só porque é o adulto e lhe fica mal render-se. E mesmo que seja, preste atenção ao sentimento de injustiça e fale sobre isso. ‘Percebo que aches injusto a tua irmã poder sair e tu não, mas quando tiveres a idade dela vais poder fazer a mesma coisa. Entretanto, queres vir ao cinema comigo?’
• Promova as diferenças: de vez em quando, saia com um dos irmãos separadamente. Não os leve atrelados a todo o lado, mesmo em pequeninos.
• Promova sentimentos positivos: podem ajudar-se mutuamente nos TPC, por exemplo. Se tiver uma boa notícia (‘vamos comer gelado logo’), em vez de a dar aos dois, mande um dos irmãos dá-la ao outro.
• Promova um ambiente calmo, otimista e descontraído em casa. As crianças tendem a ‘espelhar’ o ambiente em que vivem.

FAMÍLIAS DISFUNCIONAIS, IRMÃOS UNIDOS
Se os seus filhos são como cão e gato, isso até pode significar… que o seu casamento é sólido.
Os irmãos de famílias disfuncionais são mais unidos: “Acontece muito”, diz o psicólogo Paulo Azevedo. “Como são vítimas das suas circunstâncias, vão-se unir para resistir melhor. Em crianças, unem-se numa causa comum contra a mãe e o pai. É a mesma coisa que leva os adultos a formarem partidos para defenderem os seus interesses.” São um minipartido? Risos.
“Sim, podem ser.”

SEXO, IDADE, HIERARQUIA…
Dois irmãos do mesmo sexo são mais rivais, ou isso é mito? “A rivalidade depende mais de aspetos como idade e personalidade”, explica Paulo Azevedo. “Assiste-se muito a situações do tipo em que o irmão mais velho protege a irmã, ou a irmã mais velha é a ‘mãezinha’ do mais novo – mas só se houver alguns anos entre eles. Se forem muito próximos, provavelmente haverá rivalidade. Tudo depende da etapa de desenvolvimento em que a criança está. Se houver alguns anos entre eles, provavelmente o mais velho já estará em condições de perceber e lidar melhor com a rivalidade.”
De qualquer maneira, o sexo também pode influenciar: “Se forem dois rapazes, mesmo com idades afastadas, o mais velho será mais exigente com o mais novo do que se ele fosse rapariga. Se forem duas raparigas, provavelmente terão ciúmes uma da outra.”

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