*artigo publicado originalmente em outubro de 2015
A Bomba
Ninguém sabe como é que isto aconteceu. O Zé Manel é baixo, magricela, nunca pôs os pés ou qualquer outra parte do corpo ou do espírito num ginásio, a conversa dele é daqui até ao Estádio da Luz, a mãe tem três cães de loiça em casa (além do Adolfo, que não é de loiça mas antes fosse) e é um chato do pior. E de repente ali está ele com a loira de um metro e 80 ao lado. Olá, estás bom? Olá, que bom ver-te, há tanto tempo, esta é a Soraia. Grrrrr. A Soraia até tem um ar bastante simpático. Mas deve ter os dentes tortos (não tem, acabou de rir-se, podia fazer publicidade a qualquer clínica dentária), os pés tortos (não, também não) ou então não deve muito à inteligência. Estamos nós nestas meditações sexistas e atrasadas quando reparamos que isso já não interessa nada. Mas enfim. Que vamos mais cabisbaixas para casa, vamos.
A Choninhas
Aqui, estranhamente, os sentimentos são contraditórios. Esbarramos com o Zé Manel depois de ter deitado abaixo quatro latas de atum Ramirez, e aqui está ele com uma rapariga assim, quê, assim quase nada, assim baixita, magrita, com (pronto) os dentes tortos, e uns oculinhos, e palidazita como se não pusesse o pé na praia desde que a família real fugiu da Ericeira (piadola monárquica). Aliás o Zé Manel também não gosta de praia, que aliás foi um dos motivos por que as coisas entre vocês não correram bem. Mas quer dizer: tinha-a aqui tão gira, tão espadaúda, tão culta, tão interessante, tão bem vestida, para depois arranjar uma choninhas… Será que somos assim choninhas também e nunca demos por isso? Será que desperdiçámos preciosos anos com um choninhas? Vai-se embora depois de ter apanhado as 4 latas e ficado com uma de consolação (como um problema de matemática para a primeira classe), sem saber bem se se sente vitoriosa ou duplamente traí-
da ou assim meio, quê, enchoninhada.
O Namorado
O quê, o Zé Manel? Com um namorado? O Zé Manel, que deixou de falar ao primo António quando descobriu que ele era gay, que ia tendo um ataque quando você sugeriu que podiam ir ao arraial pride por solidariedade, e que declarou que votaria sempre contra a adoção por homossexuais (que aliás foi outra das razões por que as coisas entre vocês não correram bem) e agora aqui está, com um tipo alto e loiro e giro, aliás bastante giro, aliás bastantissimamente mais giro do que ele, até lhe queria perguntar onde é que o arranjou, que pode haver outro igualmente giro.
Nem sabe o que pensar, a não ser que foi enganada aqueles anos todos, e que, enfim, de facto num caso destes não há muito a fazer, escusava era de ter andado a perder o seu tempo a comprar lingerie vermelha e a tentar aquelas cenas com peninhas e chicotes como nas ‘50 Sombras’. Pergunta: será que ele já andava com o louro enquanto andava consigo e nunca lhe disse nada? Isso sim, é que é importante saber.
A Sua Amiga
Nem acredita. Vira na fatídica esquina das latas, e lá vêm eles: o Zé Manel e a Patrícia. A Patrícia? A Patrícia! A sua Patrícia! A Patrícia em casa de quem chorou tantas lágrimas amargas depois de se separar do dito Zé Manel! A Patrícia que sabia de tudo: as vezes em que discutiram, sobre o que discutiram, as coisas que ele dizia, as escapadelas que ele arranjava, as mentiras que inventava, os cães de loiça da mãe… De repente a Patrícia deixou de lhe telefonar. Nunca percebeu porquê, embora só agora perceba que nunca percebeu porquê. É verdade que deixou de vê-la de repente, mas a vida estava tão complicada, a casa nova, o chefe sempre maldisposto, a Luisinha no psicólogo, que nem se deu conta de que há anos que não a via…
E agora aqui estava ela. Eles. Bem, está no seu direito. Não é nenhuma traição. Enfim. Não é, pois não? Então porque é que, de repente, temos vontade de lhe atirar com as 4 latas de atum? Deixa cá virar à esquina rapidamente, antes que deem por si e tenha de fazer aquela cena do ‘Olá Patrícia, há tanto tempo que não te via!’
A Ex… dele
Olha, voltou para a Ana Rita! A c~~~~~a da Ana Rita! A Ana Rita que o fez sofrer que nem um caracol no tacho, que lhe causou anos e anos de angústia, que lhe furou os pneus quando ele disse que não aguentava mais, que o perseguiu Facebook fora por todos os quintais, que lhe deixava mensagens dignas da KGB, que chegou a deitar veneno na ração do Adolfo (desgraçadamente não deitou o suficiente) e que até virou a mãezinha contra ele? A Ana Rita que o deixou traumatizado com as mulheres, quando o encontrou ele era isso, um infeliz traumatizado, até que você o trouxe de volta à vida. E agora cá está outra vez com a Ana Rita! Bem, os homens voltam sempre para as ex. Pensa nisso antes de pensar que lhe pode acontecer a mesma coisa a si, mas a matemática já está demasiado complicada. Segue caminho a pensar que ele vai dar-se mal. É tudo quanto tem a dizer. Uma vez mal, para sempre mal. Tem é pena dela, que vai ficar pelo caminho uma segunda vez quando ele encontrar outra paixoneta e largar a ‘rebound-ex’.
A Irmã
Ah, coitado! Não conseguiu esquecê-la a si! Há tantos anos e ele ainda não recuperou, pobre alma! Anda pela Terra cabisbaixo, atrelado à irmã como um condenado! Ainda por cima a irmã é uma bruxa. Nunca gostou dela, nem ela de si. Agora vira-lhe a cara como se não a visse. Oh, coitado! Coitadinho! Talvez possa ir lá a casa um dia destes fazer-lhe uma sopinha!
(Hmmm. Segue caminho a pensar que talvez não seja boa ideia.)
A Si Própria
Pois. Olha para o espelho, para o reflexo na montra, para a água do lago. Cá está o Zé Manel com… AHHHH! Consigo própria! Outra vez! Sempre jurou que não voltava. Que era definitivo. Que depois do que ele lhe fez, nunca mais o queria ver à frente. Porque enfim, uma mulher tem a sua dignidade. Mas depois a solidão pesa. A importância do que ele lhe fez começa a esbater-se face às saudades que tem dele.
Ele ligou-lhe ‘só para conversarem’. Lá foi. Afinal, que mal podia ter uma conversa. Foram acabar a conversa para casa. A casa deles. A ex-casa deles. A conversa acabou onde se adivinha. No dia seguinte recomeçaram a conversa. Agora aqui estão os dois. Sabe que o mais provável é as coisas acabarem outra vez como acabaram: mal. Sabe que um ‘rebound’ nunca costuma ser boa ideia. Mas enquanto dura, sabe-lhe bem. Não gostou de ser ex. Não tem jeito. Olhem deixa ver se funciona. Ou não.
5 formas de lidar com o seu ex:
• Seja paciente – As coisas não se resolvem de um dia para o outro
• Não diga mal dele – Pode apetecer, mas não é bom astral.
Além disso, os outros podem pensar ‘se ela diz mal dele, o que
não dirá de mim’.
• DistanciE-se – Não se agarre ao passado, deixe passar. Não tem
de se mudar para a Austrália, mas um pouco de distância é bom.
• Mantenha a boa educação – Se tem crianças, não as use contra ele, e quando o encontrar mantenha a civilidade. Se puder, torne-se amiga dele.
• Não exiba o seu parceiro – Não tem de andar a escondê-lo, mas se tiver de se encontrar com o seu ex, de preferência faça-o sozinha.