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*artigo publicado originalmente em agosto de 2015

Ana Isabel Antão tem dois filhos rapazes, de 9 e 13 anos, e está determinada a educá-los para não verem o mundo a duas cores: azul e cor-de-rosa. Respeitar é tratar como igual, diz. “Se pensarmos que temos que dar um tratamento especial às meninas, já estamos a promover a diferença. O respeito não tem que ser pelo género em si – tem que ser por toda a gente.”
Uma noção que Sílvia Vermelho gostava que mais miúdos trouxessem de casa, quando vai às escolas falar sobre igualdade de género a adolescentes. Sílvia é voluntária e vice-presidente da ONG ‘Rede’ – Rede Portuguesa para a Igualdade de Oportunidades entre Homens e Mulheres. “O objetivo é educar rapazes e raparigas para se assumirem como detentores de direitos humanos e para que compreendam que estes direitos não são respeitados da mesma forma entre homens e mulheres. Não é tanto como os educar para não prejudicarem as mulheres, mas sim como crescer em conjunto para que ninguém seja prejudicado.” Mas não se pode falar de igualdade sem falar de diferença. “O trabalho com elas deve ser mais marcado para que tenham voz na esfera pública; com rapazes, mais para a esfera do privado, da vivência dos afetos, do papel de casa e da família.” Estas são algumas das ideias que podem contribuir para lá chegar.

Mãe não é criada

Se eles crescerem a achar que a mãe vai lá estar sempre para lavar o equipamento do futebol, passar as calças a ferro e fazer o jantar a horas, não estaremos a ensinar-lhes nada de útil – nem vale a pena queixar-se depois que ninguém a ajuda. “Nem rapazes nem raparigas estão a ser educados para o trabalho em casa. Vulgarizou-se a ideia de que isso se aprende do nada, um dia quando se sai de casa dos pais”, diz Sílvia. “A rapariga pode até não assumir esse papel em casa e ter crescido de forma muito igual ao irmão, nesse sentido. Até decidir sair de casa para constituir família. A partir daí, desempenha o papel que acha que lhe compete e que a mãe desempenhou antes: a responsabilidade pela casa e família. Eles e elas crescem com a ideia da mãe com obrigação de cuidar de tudo e todos.”

“Tu não ‘ajudas’, partilhas as tarefas”

Ana Antão já declarou guerra à expressão. “Não quero que eles um dia digam que ‘ajudam’ as companheiras – não há cá essa coisa ridícula! A repartição de tarefas em casa tem que ser igual e vista como normal. Nem falo com eles nesses termos, do ponto de vista educativo, porque parto do princípio que o veem na atitude que tenho com os outros e nos exemplos que damos cá em casa.” Ana e o ex-marido têm a custódia partilhada dos filhos, que os veem a fazer exatamente as mesmas tarefas, quando estão com cada um deles. “Uma das palavras que mais gosto de lhes incutir é ‘empenho’: com essa noção vão sempre sentir que têm o seu papel e responsabilidades. Têm que ser participativos e devem ter uma preparação o mais multifacetada possível.”
Sílvia Vermelho concorda: “É preciso educar para a participação na esfera familiar, com a ideia de que as tarefas domésticas são ‘nossas’ e não ‘dela’ para o homem ‘ajudar’; que todos nós temos que contribuir para que uma casa seja um espaço não violento, onde as tarefas são partilhadas para que ambos se possam afirmar fora de casa.”

Ninguém é dono de ninguém

Ana Antão gostaria de ensinar algumas coisas sobre amor e relacionamentos aos seus rapazes. “Tento ensinar-lhes que tem de haver muito respeito pelo corpo, vontade, humores e momentos que todos temos; muita admiração e estímulo – ou seja, tem que ser alguém que os inspire, que os aceite como são e que eles aceitem da mesma forma. Não se parte para uma relação com a ideia de que se pode mudar o outro.”
Mas os adolescentes muitas vezes não se apercebem de coisas tão básicas como: A) Um ‘não’ é mesmo um ‘não’; é vergonhoso pressionar alguém, física ou psicologicamente, a ter sexo. B) A namorada não tem que lhe dar satisfação dos passos que dá, com quem está, a que horas chega (acredite, é muito mais frequente do que julga). C) Ninguém tem o direito de exigir que o companheiro se afaste de amigos, só porque não gosta deles. Incluir o pai numa conversa franca sobre o assunto resulta ainda melhor – afinal, ele é o primeiro e principal modelo de masculinidade dos rapazes.
“A violência no namoro tem-se manifestado de formas muito preocupantes”, alerta Sílvia Vermelho. “Vemos pela experiência do nosso trabalho que a violência psicológica é assumida por ambos como normal. Quando pensamos em violência sexual, notamos um comportamento submisso por parte delas e de controlo por eles. É comum ouvir as raparigas dizer que têm que iniciar a atividade sexual porque é esse ‘o seu dever enquanto namoradas’. Se a violência psicológica não parece ser mais prevalente num ou noutro, a física e sexual continua a atingir maioritariamente as raparigas.”
É importante que os pais acompanhem os filmes, livros e jogos que os filhos andam a ver e desconstruir mensagens perigosas. “Quando há violência de género é porque lá atrás já há uma série de desigualdades. Se o rapaz cresce a ouvir que as raparigas são mais fracas e precisam de ser protegidas – e se pode protegê-las, também pode agredi-las –, que valem menos no desporto, que são menos valorizadas no trabalho, pensa ‘se é assim, eu tenho direitos sobre ela’.”

Dê-lhes licença para chorar e falar de emoções

Os rapazes ainda constroem muito a sua ideia de masculinidade à volta da agressividade, observa Sílvia Vermelho. “São mais propensos a comportamentos violentos e de adição. É preciso trabalhar com eles o direito à emoção e acabar com aquela ideia de que ‘os homens não choram’, que aqueles que fazem são uns ‘mariquinhas. Dar-lhes o direito a expressar as suas emoções de forma não violenta e a partilhá-las é fundamental.”

Mostre-lhes que ‘elas’ dão chefes tão boas quanto ‘eles’

E polícias e operadoras de sistemas informáticos e atletas. Mal damos por isso, mas, dos media aos manuais escolares, a imagem que os miúdos veem é quase sempre um chavão que podia ter sido tirado do livro da 3.ª classe do Estado Novo: o papel da mulher é o de mãe, cuidar dos outros e da casa – o do homem é afirmar-se fora de casa. “Continua patente nos textos e nas imagens, o que faz com que por todo o lado haja uma construção de papéis que já não correspondem à realidade”, diz Sílvia Vermelho. “Dificilmente, um adolescente lhe responde que acha que os homens dão melhores chefes. À partida, dizem que todos podem ser o que quiserem e que um homem pode ser educador de infância, se quiser. “Mas depois dizem logo ‘Ah, mas as mulheres têm mais jeito para isso’. E se lhes perguntarmos como descrevem um papel de chefia e um papel de cuidador, respondem que os chefes são homens e no papel de cuidadores estão as mulheres.”

Não insista que há brincadeiras de rapazes e de raparigas

Ele quer um fogão e aspirador de brincar pelo Natal? Dê–lhe. Gosta de brincar às bonecas com a irmã? Qual é o drama?… “Se formos às prateleiras dos supermercados, temos tudo marcado a cor-de-rosa nos brinquedos para as meninas e a azul para os rapazes”, observa Sílvia. “Mas o ideal é não condicionar os mais pequeninos a certas brincadeiras – elas às casinhas; eles ao futebol – e levar rapazes e raparigas a partilhar brincadeiras em que eles desempenhem papéis o mais igualitários possível”, aconselha a especialista.

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