“Ela é a artista da família”. “Ele é muito mais focado nos objetivos”. Regra geral, os irmãos detestam ser comparados uns com os outros. Ainda assim, muitos pais não conseguem evitar atribuir certas características aos elementos da prole.
De acordo com os estereótipos comuns, os primogénitos tendem a ser mais analíticos do que os irmãos mais novos, tendo em vista empregos bem remunerados, um nível de formação superior, carreiras em campos relacionados com as ciências e mais prestígio em geral. Por outro lado, os filhos nascidos mais tarde, supostamente, tendem a ser mais criativos, artísticos e descontraídos no que diz respeito a questões profissionais.
Mas será que isto tem algum fundo de verdade? Pouquíssimo. Isto de acordo com um novo estudo da Universidade de Houston, nos Estados Unidos, publicado na revista científica “European Journal of Personality”. Os investigadores dizem que a ordem de nascimento tem um impacto mínimo ou nulo na carreira, criatividade e desenlaces gerais da vida de uma pessoa.
“As nossas descobertas sugerem que o papel da ordem de nascimento nos tipos de carreira, criatividade ocupacional e obtenção de status pode ter sido sobrestimado em investigações anteriores, e a única descoberta que replicou estudos anteriores foi um pequeno efeito da ordem de nascimento no desempenho educacional”, explica Rodica Damian, uma das autoras, em comunicado. “Descobrimos que os primogénitos foram selecionados para carreiras mais criativas e alcançaram maior prestígio profissional e formação.”
O método
Para chegar a estas conclusões, a equipa da Universidade do Texas utilizou um conjunto de dados de longo prazo recolhidos inicialmente de um grupo de estudantes do ensino secundário em 1960. Cinquenta anos depois, em 2010, houve outra ronda. Os desenlaces de carreira e vida destes indivíduos foram comparados com a sua ordem de nascimento. Mais especificamente, as carreiras artísticas e científicas foram examinadas, bem como os níveis de produção criativa ocupacional e a “obtenção de status” (nível de rendimentos, prestígio no trabalho, formação alcançada).
“A pouca evidência que existe para uma possível ligação entre ordem de nascimento, formação e obtenção de status aponta mais para mecanismos causais sem explicação do que para características e habilidades atribuídas – mas não necessariamente com suporte científico – a ordens de nascimento específicas”, diz Damian.
As conclusões
Os autores do estudo teorizam que esses estereótipos provavelmente estão a perpetuar-se com muito mais frequência do que qualquer conexão legítima entre a ordem de nascimento e os objetivos de vida/personalidade. Por exemplo, se um pai presume que seu primogénito será analítico e seguirá uma carreira nas indústrias STEM (sigla inglesa para ciência, tecnologia, engenharia e matemática), provavelmente empurrará o filho nessa direção desde tenra idade.
“Assim, em vez de presumir que os primogénitos estão destinados ao sucesso devido à sua ordem de nascimento e qualidades associadas presumidas, pode ser melhor direcionar a nossa atenção para as expectativas sociais, práticas ou até mesmo livros parentais, que podem estar a enviesar os nossos investimentos no futuro de crianças com base na sua ordem de nascimento, e não nas características individuais observadas”, acrescenta Rodica Damian.