Quem é: Carla Faria, 41 anos
O que faz: software pedagógico e brinquedos adaptados para crianças com deficiência
Onde encontrar: Nas lojas da especialidade, na FNAC e no site www.papim.com
Há 15 anos, Carla Faria, licenciada em Matemáticas Aplicadas, trabalhava em Informática de Gestão e esperava um bebé. Se lhe dissessem que uma década mais tarde iria ser especialista em software pedagógico e brinquedos adaptados para crianças com deficiência provavelmente ter-se-ia rido com vontade.
No entanto, foi precisamente o que aconteceu. O nascimento do filho Diogo, com paralisia cerebral, reorientou radicalmente os seus interesses e, mais do que isso, o seu percurso profissional. ‘Naquela altura eu não sabia nada sobre a matéria. O Diogo estava no Centro de Paralisia Cerebral do Porto e foi lá que adquiri os primeiros conhecimentos. Os terapeutas faziam com ele exercícios e jogos para estimular a atenção e o raciocínio. Um deles consistia em encaixar objectos de várias formas, mas o Diogo tinha dificuldade em agarrá-los. Lembrei-me então de criar o mesmo jogo, mas num computador, onde bastava manejar o rato’, conta a empresária.
As ideias para jogos multiplicaram-se e a sua popularidade cresceu rapidamente. É que não eram apenas as crianças com deficiências que os apreciavam, os miúdos em geral também.
Os apoios institucionais primeiro do Instituto de Inovação Educacional e depois da Microsoft permitiram-lhe dedicar-se a tempo inteiro ao projecto.
Resultado: quatro softwares premiados e dois sites, um para divulgação e venda dos jogos (www.papim.com) e outro que funciona como portal de informação (www.ajudas.com). Para o mais recente jogo, ‘Quero Ser Presidente’, contou com o apoio da Assembleia da República.
Um projecto solidário
Mas os jogos não bastaram a Carla Faria, que quis ainda ultrapassar os preços ‘absurdamente elevados’ dos brinquedos adaptados que existiam no mercado. Decidiu ela própria adaptá-los em casa. ‘Torná-los manuseáveis por crianças com limitações implica abrir os que funcionam a pilhas (falam, tocam ou acendem luzes) e puxar o seu circuito para o exterior, de modo a serem accionados facilmente só com a pressão da mão ou cabeça.’ Mais uma vez, o círculo doméstico foi o primeiro palco de testes e o sucesso instantâneo. A vontade de que mais crianças pudessem ter estes brinquedos levou-a a procurar formas de os oferecer. ‘O Jumbo de Gaia deu-me os brinquedos e consegui ir a Angola dá-los no Natal.’ O resultado compensa o esforço. Basta-lhe a satisfação de saber que no ano passado 115 crianças receberam um brinquedo adaptado.
BÁRBARA BETTENCOURT