‘A Rainha Louca’ com música e libreto de Alexandre Delgado e encenação de Joaquim
Benite, estreia dia 8 no Festival de Almada, no Centro Cultural de Belém.
Entre ecos da Revolução Francesa
e da derrocada do Antigo Regime, D. Maria I é A rainha louca, enclausurada num mundo de
demência e evasão – uma rainha cómica, trágica e comovente, que contraria dois
séculos de ideias feitas: responsável pela criação da Academia das Ciências e
da Biblioteca Nacional, promotora da primeira expedição científica à Amazónia,
da renovação do Ensino e da Marinha, D. Maria I (1734-1816) era culta e
sensível, dada à música e às artes; reinar é que não estava na sua natureza.
A sua loucura, que a afastou definitivamente
do cargo em 1792, teve várias origens prováveis: padres fanáticos
convenceram-na de que o seu pai ardia no Inferno, por culpa do Marquês de
Pombal e da perseguição aos jesuítas. À perda do marido somou-se a morte do seu
primogénito, de varíola: os padres teriam proibido que fosse inoculada a vacina
que estava a ser experimentada na época. A prisão de Maria Antonieta e a ideia
de que a própria França, luz do Velho Continente, podia decapitar a sua rainha,
terá sido a gota de água.
D. Maria quer evadir-se para um mundo
“longe desta miséria”. A seu lado tem Henriqueta, a gélida dama de
companhia. Outra presença é Rosa, a criada negra cujo modelo histórico é uma
anã acarinhada pela rainha. O 2.º acto concretiza as alucinações de D. Maria:
no seu aniversário, é visitada por três damas que traçam um retrato hilariante
da realidade histórica portuguesa.
Harpa, cravo e marimba simbolizam
respectivamente D. Maria, Henriqueta e Rosa, numa orquestra que inclui quinteto
de sopros e quinteto de cordas. Segunda parte de uma Trilogia da Loucura
começada em 1994 com O doido
e a morte, esta ópera visita os fantasmas da mente humana com sons
dum século XVIII imaginário.