
Foram os cupcakes, a idolatria dos chefs, o gourmet, o glamour, o “fashion“, os macarons, o sushi, a palavra “tendência” (e a necessidade febril de aderir a cada dita cuja) milhares de outras que não me lembro e ultimamente, o brunch – palavra prática (por ser pequena) mas intoleravelmente aburguesada para um pequeno almoço tardio e almoçarado. Não tenho nada contra o brunch – pelo contrário, o facto de estar na moda até me dá jeito. Significa que se estiver fora de casa, já há sítios onde possa tomar o meupequeno almoço em vez de me contentar com um expresso e um pastel. Também gosto muito de sushi, que antes de estar na moda era um petisco para de vez em quando. Sempre achei que por muito que evolua, que seja considerado o cúmulo da sofisticação, é uma “comida engenhosa” como a pizza e a açorda: foi inventado pelos peixeiros japoneses para que o peixe se conservasse mais tempo da lota para o mercado..
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É apenas sushi, nada para se deslumbrar ou para publicar num blog com tanto orgulho como se o próprio Vatel lhes tivesse preparado um banquete a sós com Luís XIV (e lá que fosse…). No fundo, as coisas em si não me incomodam nada: há lugar para cupcakes e maracons, tal como para éclairs e pastéis de Belém. O que me faz espécie é o pedantismo bacoco, pseudo noveau riche , de um novo yuppie pelintra e trapalhão, um embevecimento servil de quem nunca viu nada e se acha na necessidade de alardear “gostos adquiridos” na tentativa desesperada de mostrar “eu já não vivo num subúrbio manhoso, ou na província, sou muito urbano e cosmopolita e sofisticado”. Ou como disse Eça de Queirós,
“(…) este desgraçado Portugal decidira arranjar-se à moderna: mas sem originalidade, sem força, sem carácter para criar um feitio seu, um feitio próprio, manda vir modelos do estrangeiro – modelos de ideias, de calças, de costumes, de leis, de arte, de cozinha… Somente, como lhe falta o sentimento da proporção, e ao mesmo tempo o domina a impaciência de parecer muito moderno e muito civilizado – exagera o modelo, deforma-o, estraga-o até à caricatura…”
Autoria: Imperatriz Sissi