
Há chatos em todos os quadrantes políticos, religiosos ou sociais. Até chatos…oh Senhor, aqui vai a palavra que abomino pronunciar, coragem Sissi…”reaccionários“. Indivíduos absolutamente convencionais, que não dizem senão as mesmas abobrices e balelas de todas as vezes que os vemos; que têm SEMPRE opinião sobre alguma coisa, nem que seja o pior lugar comum que pode haver; que querem ver “toda a gente contente” mas de uma maneira que soa a falso; que se envolvem em tudo o que é associação, evento ou quermesse visando a promoção social, intrometendo-se em tudo e não tendo bem a noção do seu lugar, fazendo-se úteis, sempre com um sorriso untuoso e muito, muito salamaleque. Pessoas destituídas da consciência “estou a mais” e que não sabem quando é o momento de abrandar as graxas, as vénias e as confianças…mas sempre com ar de beatitude pegajosa, de pateta alegre, que só apetece bater-lhes mas sabemos que não dá porque seria uma coisa muito feia dar um pontapé como quem não quer a coisa em alguém tão inofensivo e supostamente bem intencionado. Há cobardia maior do que provocar uma raiva incontrolável nos outros e ser tão “bonzinho” que as vitimas se vejam impedidas, por cortesia, de ripostar? Há coisa mais passivo agressiva? Creio que não. Este tipo de chato é muito comum no “saloio amante da cultura”, que aprendeu umas coisas e se acha dótor. Eu que até ando a fazer por não reparar nos outros, em modo não julgues para não seres julgada, por mais que faça tenho um pé no Inferno – se ter capacidade de observação (e rir-me que nem uma perdida das figuras que os outros nos obrigam a tolerar) é coisa que precipite alguém no Caldeirão de Pêro Botelho.Por falar nisso, pergunto: para onde irão os chatos depois de bater as botas? Porque se até aqui sempre considerei que existisse o tipo “chato, mas boa pessoa” agora começo a duvidar. Não sei mesmo se é possível ser-se um chato de galochas, um chato acaciano, e continuar a ter boa índole, pois afinal os maçadores provocam a quem está indizíveis sofrimentos. De maneira que vou ter de perguntar esta a um Director Espiritual competente e com paciência de Santo. Ora vejamos.
Hipótese a) os chatos que são boas pessoas em tudo o resto vão para o Céu, tornando o Paraíso uma maçada monumental, onde nenhuma alma dotada de um mínimo de espírito se pode sentir em casa, quanto mais em bem-aventurança. Se assim é tenho de tratar desde já de ser muito má, malvada mesmo, uma peste. Não consigo suportar a eternidade rodeada de chatos.
Hipótese b) – e que me parece a mais razoável – ser chato é uma das culpas que conduz ao Purgatório. Um chato bem intencionado precisará de expiar a sua chatice por umas eras, para não contaminar o Paraíso. Caso esta seja a opção correcta, há que fazer tudo ao meu alcance para não pôr lá os pés. Chamas espirituais eu suporto, demónios profissionais a fazerem-me cócegas também, a companhia de alguns pecadores com piada eu aguento (sempre me distraía a ver as suas tropelias) mas mais do que um dia na companhia de chatos é muita penitência junta. Ninguém merece.
Hipótese c) os chatos vão para o Inferno, por uma questão de contabilidade de culpas. É que entre um assassino que mata uma pessoa, só uma, e um chato que aborrece de morte centenas delas ao longo da sua passagem pela Terra, olhem que não sei…
Os Antigos Gregos acreditavam que havia várias zonas do Inferno, consoante os pecados de cada um. Dante disse que os lugares piores estavam reservados aos que escolhiam a neutralidade em momentos de crise. Mas nunca encontrei nada sobre a distribuição logística dos maçadores. Vá-se lá saber se o castigo para quem odeia chatos em vida é ser colocado junto deles no Outro Mundo?
Não sei quanto a vós, mas eu cá não arrisco. Quem é chato neste Mundo só pode ser capaz de continuar a sê-lo no outro. Ou então são flagelos que Nosso Senhor nos manda, para expiação das culpas cá na terra. Lá dizia Sartre que o Inferno são os outros. Pois.
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