Dizia Eça de Queiroz que certos médicos literários se dedicam a inventar doenças de que a humanidade papalva se presta logo a morrer.
Veritas est; mas nos tempos que correm, a par com os pânicos generalizados que basta uma notícia sensacionalista para desencadear (um estudo que é abandonado logo a seguir afirma com autoridade que o adoçante, os grelhados a carvão, o açúcar branco ou qualquer outra coisa perfeitamente corriqueira faz mal…e toda a gente jura aos pés juntos que nunca consumiu ou, se for honesta, que jamais consumirá tal coisa outra vez) a populaça, sempre crédula e ávida de manias novas para se mostrar muito moderna e informada (já os romanos resmungavam com desdém que “a multidão é impressionável”) está mais sensível do que nunca a tais invenções.
E não é só as doenças (ai o amianto, ai o fumo passivo que vem da esplanada do outro lado da rua, ai a doença das vacas ou das galinhas doidas, nunca-mais-como-bife nem peito-de frango, Cruz Credo).
Papa-se, literalmente, tudo quanto cheire a cura, remédio preventivo ou patacoada New Age (este texto num conhecido blog da nossa praça ilustra isso lindamente) que se possa não só aplicar às maleitas, mas partilhar nas redes sociais ou na blogosfera como a última panaceia que remediará tudo, desde a tendência-genética-para-bater-as-botas-cedo à celulite (causada, creio firmemente, pela poluição, comezaina e enfardanço de remédios que mexem nas hormonas – porque o sistema endócrino, coitado, é sempre desprezado no meio disto tudo; é mais fácil e muito mais fashion deitar as culpas ao bicho papão do momento).
Juro que noutro dia vi, numa famosa superfície comercial que vende quantas guloseimas há, o “menu biológico infantil”: há que criar as florzinhas de estufa afectadas, enjoadas e sem a mínima resistência às bactérias desde logo, pois claro. A seguir arrefinfa-se um bollicao e está pago o dízimo fashion sem desnutrir o petiz que berra que não quer nada comer esparguete hippie.
Depois do culto à Bimby (que apesar de engenhoca complexa, lá terá a sua utilidade) da mania do sushi-gostemos-ou-finjamos-que-sim-senão-não somos-cosmopolitas (eu cá adoro, mas se não gostasse berrava já aqui que o sushi é uma grande porcaria e estava-me marimbando para o ostracismo social que se havia de seguir, porque socializar com burguesices dessas é-me igual ao litro) dos maccarons e dos cupcakes, viraram-se para a comida super saudável. Comida super saudável essa que garanta alguma elevação social… postiça, como é óbvio.
Neste momento a cura para tudo, o remédio super vitaminado e que fica muito giro no Instagram, são os sumos detox – ou antes, a juicing craze! há que tratar as coisas pelo nome técnico – e as papas saudáveis ao pequeno almoço.
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