É a mais antiga cervejaria de Portugal e as suas raízes são já bem profundas. Há oito séculos, construía-se o Convento da Santíssima Trindade dos Frades Trinos da Redenção dos Cativos, nome que fazia jus à função daqueles frades, que juntavam dinheiro para resgatar prisioneiros do Norte de África.
Este viria a tornar-se um dos mais importantes conventos de Lisboa, durante cerca de 400 anos. Apoiado pela Nobreza e Casas Reais, acabou por ser destruído três vezes, duas destas devido a incêndios, e uma outra pelo terramoto de 1755. Mas foi apenas em 1834, com a extinção das ordens religiosas em Portugal, que desapareceu por completo.
Isto porque, nesta época, surgiu uma burguesia muito abastada – “o barão comeu o nobre“, referiu o professor Anísio Franco durante a visita histórica à cervejaria – cuja principal preocupação não era a conservação do património.
Dois anos depois, em 1836, o industrial Manoel Moreira Garcia adquiriu as ruínas do convento e lá instalou a primeira fábrica de cervejas portuguesa, a Fábrica de Cerveja da Trindade.
Escusado será dizer que o sucesso não tardou a chegar. Menos de 20 anos após a fundação da fábrica, Manoel abriu um balcão onde era servida cerveja a copo e, pouco tempo depois, uma cervejaria com 4 salas – construídas segundo a Ordem Maçónica, que o industrial conhecia bem – e um pátio. Lá, juntavam-se boémios, artistas, operários, políticos, entre tantos outros, na mesma altura em que a fábrica se tornava fornecedora oficial da Casa Real.
No século XX, a Sociedade Central de Cervejas adquiriu a fábrica, recuperou o edifício e remodelou o espaço, abrindo a cervejaria ao público para refeições. Um século depois, passou para as mãos do Grupo Portugália Restauração que, hoje, tem a missão de conservar e dinamizar a mais antiga e emblemática cervejaria de Portugal, cujas paredes e adereços conservam uma parte da história do país.
Aliás, os próprios empregados vestem-se de frades para reforçar a atmosfera do espaço, que remonta a séculos passados. A verdade é que, 182 anos depois, os propósitos da casa mantêm-se: preservar a história, cultura e gastronomia portuguesas.
Cinco séculos a vestir-se de convento, mais quase dois vestido de Cervejaria, o número 20c da Rua Nova da Trindade criou raízes, na certeza de que, à sede, não morrerão. É caso para dizer que o Carmo até pode cair, mas a Trindade? Essa mantém-se firme.