O mapa-múndi é uma das primeiras coisas que se vê ao entrar no Zazah, restaurante no Príncipe Real, em Lisboa. E a atmosfera já antecipa o que se encontrará na nova carta – uma verdadeira viagem gastronómica. Entre as novidades estão pratos com influências brasileira, francesa, italiana e oriental. “Representa a trajetória de todas as cozinhas por onde passei”, conta-nos o chef Christian D’Auria.
Há quatro meses no Zazah, montou uma nova equipa, mudou técnicas e equipamentos na cozinha e reformulou a carta. É o seu primeiro menu de autor. Tem 25 anos e aprendeu a cozinhar aos 16 graças à provocação de alguns amigos. “Trabalhava como vendedor numa loja de surf e fui convidado para ir a um rodízio de sushi, mas não podia pagar”, conta Christian D’Auria, que encontrou sozinho a solução para o problema. Comprou o peixe, o arroz e a alga, e fez em casa. Depois juntou-se a um amigo e começou a vender sushi numa food truck à porta das discotecas: “Entrei na sociedade com o meu trabalho”, conta.
Uma carta que é uma viagem
A influência da gastronomia oriental está presente em alguns dos pratos da nova carta, como é o caso da Couve-Flor Tebasaki (9€). Nesta entrada o legume faz vezes de asinha de frango, empanada e caramelizada num molho agridoce picante. “Gosto muito da cozinha Chuka que tem origem na gastronomia chinesa e japonesa”. Para quem está acostumado a comer asinhas de frango picantes em restaurantes chineses, vai ficar surpreso em saber que a proteína animal não faz nenhuma falta aqui. O prato só não é vegano porque leva mel.
E por falar em pratos veganos, o ceviche de cogumelo (11€) é outro ótimo exemplo de que não é preciso ter carne para ter sabor. A entrada é acompanhada de chips de banana-pão, fruta que surge em outros dois pratos da carta em formas diferentes. Noutro prato vegano, a banana vira nhoque (sem farinha e sem ovo!), acompanhado de molho bechamel de grão de bico. “É um prato criado a pensar na minha família. Cresci a comer banana junto com a comida”, diz Christian D’Auria sobre o hábito comum no Brasil.
A banana vem ainda de forma subtil mas indispensável no prato de peixe branco, onde se transforma em vinagre, feito no próprio restaurante. “Valorizo muito o produto. Quase toda a nossa carta é feita na casa. O que vem de fora, procuro priorizar produtores pequenos”. Um exemplo é o pão do couvert (3,5€), de centeio e de trigo com fermentação natural, feito na Panificadora Marquise, ao fim da rua.
Cocktails veganos (e deliciosos)
A carta de cocktails também sofreu algumas mudanças e ganhou novas estrelas. Entre as novidades estão drinks como o Snow White (9€), com vodka, maçã e canela ou o Oasis (9€), com rum, abacaxi e limão. Se prefere algo mais forte e potente, o Amazona (9,5€) é ideal: leva cachaça, gengibre e ananás. Todos os cocktails são veganos, até mesmo aqueles que levam a espuminha branca – que aqui é feita com água do cozimento do grão, a chamada aquafaba.
Do clássico ao ousado
Um dos primeiros passos de Christian D’Auria no mundo da cozinha profissional foi no restaurante “Capim Santo”, em São Paulo, da chef Morena Leite, com quem afirma ter aprendido quase tudo. Veio para Portugal há 3 anos e desde então trabalhou no SUD Lisboa e como subchef no VDB Bistronomie. Experiências que trouxeram as cozinhas clássicas francesa e italiana à tona. As influências notam-se no tartar de carne (8€), que é na verdade um crudo típico italiano, com o adocicado do conhaque. Também no lombo de novilho (25€) com molho à demi glace cozido e reduzido por 72 horas. A carne pode ser acompanhada de puré trufado (8€), um dos queridinhos do Zazah que Christian não quis mexer, além dos croquetes de alheira (5€) de entrada.
Das ousadias que o chef traz para a nova carta, destaca-se o Bolovo (7€). No Brasil toda gente conhece um bolovo, que é basicamente um bolo de carne recheado com um ovo cozido inteiro. É uma daquelas iguarias populares, que cá ganha ares portugueses. Um pastel de bacalhau recheado com ovo com gema mole. Para aqueles que comem primeiro com os olhos, este é sem dúvidas um prato que aguça todos os sentidos.
As sobremesas seguem a mesma linha diversa. Para os que não são fãs das muito doces, o Brizazah (6€) é um mascarpone temperado com cumaru, uma semente amazónica conhecida como a “baunilha brasileira”. Para quem gosta de chocolate, o Timbale (6€) tem base de biscoito, chocolate 70% cacau, nozes caramelizadas e (muito) caramelo salgado.
Quando saímos em grupo para jantar, é mais divertido quando podemos experimentar os pratos uns dos outros. Por isso o conceito de comida para partilhar cai tão bem. Com opções bastante democráticas, a nova carta é um convite para os paladares mais heterogêneos e uma viagem gastronómica pelos quatro cantos do mundo.