Em 1999, Gisèle Schwartsburd, que cresceu numa família ligada ao setor mobiliário, formou-se em Design Industrial na Universidade do Paraná e já foi coreógrafa e bailarina, apaixonou-se pelos móveis de Sergio Rodrigues (1927-2014). Surgia então a ideia de produzir, comercializar e divulgar a obra do icónico arquiteto e designer brasileiro e foi com essa missão que criou, em 2001, a LinBrasil, que colocou Sergio Rodrigues na moda, no Brasil e não só.
Em Portugal, pode encontrar algumas peças na Pop Up de Sergio Rodrigues na loja Be We, em Cascais. Foi a propósito desta parceria que falámos com a empresária brasileira.
Como surgiu a ideia de fabricar as peças do Sergio Rodrigues? Ao rever os móveis de criação de Sergio Rodrigues, em uma exposição que falava da história da cadeira brasileira, em 1999, me perguntei porque não se encontravam mais essas cadeiras nas lojas do Brasil? E por quê, com a riqueza de criação dos designers brasileiros, estávamos sempre voltados ao desejo do móvel Italiano? Por quê, com a quantidade de Indústrias de Móveis, o móvel Sergio Rodrigues não era fabricado por nenhuma? Neste ponto, minha voz interior, me disse: Se ninguém faz, faz você !
Na altura, foi a um evento para falar com ele e fazer a proposta e ele passou o assunto à mulher…. Podemos dizer que foi um negócio entre mulheres? Sim, na parte administrativa, sim. No entanto, no que diz respeito ao desenho e técnica tudo era tratado diretamente com Sergio.
Tornaram-se amigos ou a relação era puramente comercial? A partir da proximidade para desenvolver a linha para ser industrializada, criou-se com Sergio e sua esposa Vera Beatriz uma relação de pareceria e amizade, pois eram inúmeros encontros e viagens para lançamentos e também acertos no que dizia respeito à construção fiel dos móveis.
Por que é que ao início houve tanta resistência aos móveis de Sergio Rodrigues? Os móveis Sergio Rodrigues estavam há 25 anos fora do mercado, nesse tempo outras tendências no design de interiores foram introduzidas e, nos anos 2000, a grande onda eram os móveis clean, Italianos e também uma grande parcela de móveis de ‘estilo francês’. Os móveis Sergio Rodrigues tinham deixado as salas, ido para as casas de campo e daí por diante. Além de que não estavam à venda nas lojas, os poucos que eram fabricados pelo próprio Sergio, com sua rede de marceneiros excelentes.
Quais os principais desafios que enfrentou ao fabricar os móveis? Fabricá-los em escala, sem perder as características originais criadas por Sergio. Essa foi uma escolha e uma missão.
Quantos móveis existem hoje no catálogo? Atualmente 46, sem contar variações.
Li que por duas vezes vendeu bens para apostar neste negócio, uma vez logo ao início e outra para estar presente na feira de Milão, é verdade? Mais ou menos. Para começar, vendi o apartamento em que morava no Rio para dar inicio ao projeto. E para estar em 2007 na Feira de Milão, ainda não havia comprado um outro imóvel e investi o equivalente a um apartamento. Posso dizer que tudo valeu muito a pena.
É mulher para apostar todas as fichas quando acredita num projeto? Mulher de andar com os pés no chão e a cabeça nas nuvens (risos). Aposto, mas não me atiro em abismos…Uma das minhas melhores qualidades é o plano B – tenho facilidade em mudar direções.
Pode dizer-se que foi a intuição feminina que a guiou rumo ao sucesso? A intuição, nosso 6º sentido, temos que perceber, sentir e acreditar. A maioria de nós a tem mas não lhe põe fé. Temos que evoluir e abrir nossos olhos, ouvidos e coração. A mente cartesiana nos serve para muito, mas não é só o que pode nos levar a evoluir. Forma as grandes intuições que trouxeram a humanidade até aqui. Há quase um século, Einstein já promulgou: “Tudo é energia, em maior ou menor grau de vibração”, então intuição é energia.
Como mulher, quais as suas principais causas? Igualdade entre os seres humanos, fome mundial, preservação do meio ambiente e valorização da alma.
Sergio Rodrigues criou móveis que se adequavam à cultura e ao clima do Brasil, mas a verdade é que hoje são um sucesso no mundo inteiro… Ou há culturas mais recetivas que outras? Hoje, no Brasil como se diz, os móveis Sergio Rodrigues estão ‘bombando’ – hoje é cool, ter uma peça Sergio Rodrigues na sala. Vamos com calma pelo Mundo, mas alguns países são mais ávidos de Sergio do que outros. Por exemplo América do Norte, Bélgica, Inglaterra, Holanda e Suíça.
Qual a afinidade dos portugueses com Sergio Rodrigues? Não sei, ainda não senti muito bem, mas creio que ainda não o descobriram muito bem …
Qual o balanço que faz da iniciativa Be We x POP UP Sergio Rodrigues? Está sendo uma excelente oportunidade de mostrar e dividir com o público Português a obra de Sergio Rodrigues, pois ali os móveis estão expostos e à venda. Com ofertas especialíssimas, é o ‘melhor’ da obra de Sergio, resultado de 3 exposições durante as Feiras de Milão 2017, 2018 e 2019.
Qual a peça preferida dos portugueses? Poltrona Mole, Poltrona Diz, Poltrona Kilin e os banquinhos Mocho e Sônia.
Porquê a Be We? Outro negócio entre mulheres fortes [a Be We foi fundada pela também empresária brasiliera Veruska Olivieri] ? Ótima coincidência, um amigo em comum nos juntou.
Na fotogaleria em baixo, poderá ver algum dos móveis mais icónicos de Sergio Rodrigos e, segundo Giséle, os favoritos dos portugueses.