A Monja Coen é o contrário da ideia que muitas pessoas têm dos monges: pessoas sorumbáticas e inalcançáveis, enfiadas num mosteiro a meditar, longe da Humanidade. A Monja Coen tem vídeos e podcasts, escreve livros, é uma estrela das redes sociais, viaja, dá palestras, dá entrevistas (leiam a nossa, aqui em baixo) e tem milhões de ‘seguidores’ no mundo inteiro, incluindo Portugal. Quem for investigar, percebe imediatamente porquê: além de uma cultura enorme, aqui está uma mulher com uma incrível capacidade de comunicação e de empatia.
A isto junta a sabedoria de alguém que teve uma vida bastante preenchida – foi jornalista, foi mãe, foi católica, foi ativista – antes de se tornar monja.
Desta vez, depois de alguns livros que foram (adivinhem lá) bestsellers, a monja traz-nos ‘108 contos e parábolas orientais’ (Ed. Planeta), que é um conjunto de Koans – breves contos que nos fazem pensar, e que foram usados como parábolas de vários tipos de sabedoria pelos grandes mestres da Índia, China e Japão. A partir da tradição Soto Zen Budista dos séculos XII e XIII, a Monja Coen reuniu 108 e comentou-os, aplicando-os ao nosso dia a dia e às nossas preocupações do século XXI. Como os humanos são iguais, quer seja no século XII ou no século XXI, estas pequenas histórias fazem tanto sentido para nós como para os nossos antepassados orientais.
Um bom exemplo é a história do tigre e do morango: “Um homem, ao viajar pelo campo, encontrou um tigre. Correu e o tigre foi no seu encalço. Aproximando-se de um precipício, agarrou as raízes de uma vinha e pendurou-se na beira do abismo.
O tigre farejava-o acims. Tremendo, o homem olhou para baixo e viu no fundo do precipício outro tigre à sua espera. Apenas a vinha o sustinha. Mas, ao olhar para a planta, viu dois ratos a roer aos poucos a sua raíz.
Nesse momento, os seus olhos viram um belo morang viçoso ali perto. Segurando a vinha com uma mão, ele pegou no morango com a outra e comeu-o. – Que delícia!”
Vamos morrer mas apreciamos a doçura do momento, explica a Monja. Que mais poderia ser feito?
Este é um dos livros mais sábios do ano, e tem além disso a vantagem de poder ser lido em qualquer altura, começando por qualquer um dos contos, e sem ter de o correr do princípio ao fim. Um bom conjunto de reflexões, agora que o Natal e o fim de ano se aproximam e fazemos todos um balanço da nossa vida.
Sejam felizes – e mesmo com dois tigres à espreita, não se esqueçam de comer o morango.
‘108 contos e parábolas orientais‘ – Monja Coen, Ed. Planeta, E6,50