Afinal, nós humanos somos uma espécie solidária ou uns ladrões assassinos? Um filósofo explica como nos debatemos ainda hoje entre sermos boas ou más pessoas.

Lembram-se da história, afinal foi há pouco tempo: doze crianças tailandesas ficaram presas numa gruta durante as monções. Monta-se uma operação internacional para os salvar mas ninguém acredita verdadeiramente que isso seja possível. Nenhum dos jovens tem experiência de mergulho, alguns nem sabem nadar. Mesmo assim a coisa vai para a frente.Para não entrarem em pânico são sedados, equipados com máscaras de oxigénio e manobrados por mergulhadores experientes de Inglaterra, EUA, Austrália e Tailândia. Um dos mergulhadores morreu, mas as crianças foram salvas.

A história é relembrada em ‘Moral’ – A invenção do bem e do mal’, para recordar que os humanos ainda conseguem cooperar a nível global e assumir riscos enormes para salvar desconhecidos. E no entanto, partilhamos 99% do nosso património genético com chimpanzés e outros primatas que continuam a viver como há milhares de anos. E nós, evoluímos porquê? Precisamente porque fomos excluindo os elementos mais violentos da tribo de forma a podermos cooperar, percebendo que a solidariedade nos ajudava a prosperar, a sobreviver, a sermos mais felizes (e bem alimentados).

Claro que, como toda a gente já percebeu, a coisa não é assim tão simples. Vou ser solidária com quem e porquê? Às vezes o bem da minha tribo significa eliminar a tribo vizinha. Hoje continuamos a ter guerras, há leis que servem apenas o interesse dos mais poderosos, o capitalismo selvagem parece ter trazido mais sofrimento que prosperidade, as desiguladades sociais aumentam em todo o mundo e, em resumo, a tal solidariedade nem sempre é garantida ou posta em prática.

Hanno Sauer, o autor do livro, é professor de filosofia e ética na Universidade de Utrecht, nos Países Baixos, e aqui nos leva numa longa viagem ao nosso mundo de ‘macaco domesticado’. A contradição é evidente: tanto podemos ser pessoas solidárias, pacíficas e heróicas que salvam crianças de grutas, como comportar-nos como gangues de ladrões assassinos. Somos uma espécie complicada, contraditória, e fascinante. E nesta mera contradição cabe toda a História da Humanidade.

Numa época do ano em que falamos tanto de solidarierdade – e é inegável que foi a solidariedade que nos tornou aquilo que somos hoje – este é um livro interessantíssimo para quem quiser saber mais sobre o assunto e pensar em tudo isto de forma mais profunda.

E não fique a achar que lhe vai estragar o Natal. O autor acaba numa nota otimista, defendendo que “os valores morais que nos unem são mais profundos do que pensamos, e as clivagens políticas que nos dividem são menos profundas do que achamos.”

Apesar de tudo, já não queimamos bruxas. Temos (enfim, caso o nosso país não esteja em guerra) vida mais confortáveis, lutamos contra vários tipos de discriminação, tentamos ser melhores pessoas. Claro que, como ele próprio afirma, estas mudanças muitas vezes não são tão rápidas como desejaríamos, porque ser humano e viver numa tribo global não é fácil.

Muitas vezes, estas mudanças não passam de blablá: “O foco foi-se deslocando cada vez mais para o território simbólico e linguístico, porque o mundo etéreo das palavras e das imagens é mais fácil e mais rápido de mudar do que o reino obstinadamente imóvel das tradições e instituições.”

Terminamos como começámos: será que ainda conseguiremos amar-nos uns aos outros? Olhem, enquanto ninguém nos responde a isto, façam vocês a vossa parte. E não comam demasiadas rabanadas por causa do colesterol.

‘Moral’ – A invenção do bem e do mal’ – Hanno Sauer, Desassossego, E19,90

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