Aos 14 anos, a checa Dita Adlerova chegou com os pais ao campo de concentração de Auschwitz. Aqui ela iria formar, com 12 livros recolhidos de outros judeus, a mais pequena (e talvez a mais importante) biblioteca do mundo.
Foi esta criança a heroína improvável descoberta pelo espanhol Antonio Iturbe. Conseguiu encontrá-la em Israel, hoje uma senhora com 91 anos, e transformou as suas memórias no bestseller ‘A bibliotecária de Auschwitz’. De entre a imensidão de livros com ‘Auscwitz’ no título, este era especialmente chocante por retratar ba vida de tantas crianças e jovens. Antonio Iturbe levou-nos ao Bloco 31, a ‘ala infantil’, e mostrou-nos, além de crianças que se esforçavam por sobreviver, personagens como o tenebroso Josef Mengele, o médico responsável por terríveis experiências em seres humanos que levaram milhares à morte, mas também Freddy Hirsch, um judeu alemão que supervisionava o campo infantil, insistindo para que os mais pequenos tivessem um sítio onde fazer exerício e estudar.
Um punhado de livros que escapou à destruição foi usado pelos pequenos professores para ensinarem o alfabeto aos ainda mais pequenos. Foi assim que muitas crianças ficaram a conhecer livros que nem sequer eram para a sua idade, como‘Viagens de Gulliver’, ‘Robinson Crusoe’, ou ‘O Conde de Monte Cristo’.
Tempos depois do sucesso de ‘A bibliotecária de Auschwitz’, Salva Rubio e Loreto Anoca puseram mãos à adaptação para novela gráfica. Como as próprias contam, resumiram muitos factos e alteraram algumas partes do enredo, mas mantiveram-se fiéis à história de Dita.
A novela gráfica pode ser lida por um público mais novo (enfim, não estamos a falar de 6 anos) e como tal inclui, no fim, um dossier histórico que faz sucintamente o enquadramento da história na História, e que será muito útil aos leitores que agoram tomam contacto com os horrores da Segunda Guerra, principalmente porque é um assunto que os pais, compreensivelmente, podem ter dificuldade em abordar.
Hoje, tantos anos passados depois de Auscwitz, o mundo torna a enfrentar muitos fantasmas do passado. Discute-se muito até que ponto os adolescentes devem ler ou não livros sobre o Holocausto, mas a ignorância nunca foi um bom mestre. Para que idades é este livro? Os pais julgarão melhor do que eu. Mas é sem dúvida um livro que merece ser lido por todos os que valorizam a paz.
Os leitores mais adultos que quiserem saber mais sobre a história de Dita, terão sempre o livro original de Antonio Iturbe. Vale bem a pena.