O muito premiado autor americano Kobi Yamada é autor de vários livros ‘inspiracionais’. Isto não augurava nada de bom. Se calhar vocês gostam, se calhar é importante para as crianças, mas eu já estou pelos cabelos com textos ‘inspiracionais’.
E isto é mesmo puro e duro ‘inspiracional’. Desde ‘tu és único, tens tanto para dar’ até ‘o mundo precisa dos teus dons e dos teus talentos’, de ‘é possível que ajudes os outros a encontrar a beleza de cada dia’ a ‘é possível que não entendas o quão (ó senhores tradutores, por amor de Deus, o quão? O quão? Raios, pá) realmente bom podes ser’, estão lá todos os mantras do ‘inspiracionismo’. Como disse, o mal pode ser meu. Não sou sensível à cena do ‘inspiracional’. Não sei se as crianças serão. Soa-me sempre demasiado artificial.
E perguntam vocês: ok, já percebemos, é mais do mesmo, então o que é que este livro está aqui a fazer?
Vocês abram-no. Sei que aqui só vos pus a capa, mas confiem em mim. Abram-no. E aí todo o blá blá inspiracional se evapora. Poucas vezes vi ilustrações tão maravilhosas, e elas sim, inspiracionais. Se as crianças não souberem ler, deixem-nas ver os desenhos e esqueçam o palavreado (ou não, enfim, mal também não lhes faz). As imagens são um hino à magia, ao mundo infantil, à imaginação, à beleza, à natureza e aos animais. Desatei a chorar quando me apareceu o urso à frente (se calhar lembrou-me o meu cão).
Fui ver quem era a ilustradora: Gabriella Barouch. Sei que é muitíssimo premiada mas tirando isso fiquei mais ou menos na mesma, porque não há muita coisa sobre ela. Define-se como mãe, mulher, colecionadora de brinquedos e apaixonada pelas florestas da Islândia. Mas abram o livro e sintam que o autor, por uma vez na vida, acertou: tudo é possível. Até estes desenhos.
Tudo é possível
Texto de Kobi Yamada, Ilustraçoes de Gabriella Barouch
Edições Zero a Oito – E14,99