Foi há dez anos que vim à ModaLisboa pela primeira vez.
10 anos, dos 11 de trabalho nesta área. Havia assinado o meu primeira contracto um
ano antes e aguardava, com borboletas na barriga, a célebre semana de moda da
capital.
Lembro-me de que, na altura, o meu grupo de amigos era excêntrico por natureza. Eu
era o mais novo – sou sempre o mais novo – e sabia que eles começavam a prepararse
para esta ocasião com meses de antecedência. Não foi o meu caso. Lembro-me
que optei por um biker jacket cinzento, umas calças super skinny e umas botas de
couro da Levi’s.
Ao pé dos meus amigos eu era, claramente, o inexperiente e por sua vez o mais
discreto.
Houve a magia de uma primeira vez. Onde olhamos vidrados para tudo em nosso
redor. E houve a certeza de que voltaria a pisar aquele chão – mesmo que as
localizações do evento tenham vindo a mudar com o tempo. Não me enganei.
Em 10 anos não falhei uma edição. E já fiz tudo aquilo que possam imaginar.
Já fui um mero expectador, já ajudei a fazer uma colecção (mais do que uma, para
dizer a verdade), já criei nomes de colecções bem como redigi as suas respectivas
descrições. Já desfilei – isto nunca me vai parecer real. E já fui, aliás sou, o fiel aliado
de um órgão de comunicação que se tornou, em parte, uma espécie de casa – a
Revista Activa.
Em dez anos mudou muita coisa. As caras já não são as mesmas e eu já não conheço
quase ninguém. Agora é o contrário, as pessoas conhecem-me. Sabem quem eu sou,
o meu nome e o que faço. Pedem-me fotografias, tal e qual como eu fiz nos primeiros
anos. Este é um ciclo bonito, e que, aos meus olhos, é espelho de resiliência.
Dez anos foi o tempo que a moda em Portugal precisou para assumir riscos, e pude
corrobora-los. Eu estava lá. Eu vi manequins cair, cubos de gelo, ramos de flores
lançados, explosões de cores, homens de saia, homens de saltos, mulheres de fato…
Esta foi uma edição “acordada”. Sustentável. Não fazia sentido que assim não fosse
uma vez que a ausência de sustentabilidade é um problema major na sociedade. E
isso só mostra que a ModaLisboa está alerta. Que é consciente deste organismo vivo
que vive por e para as pessoas.
Ressalvo o que me chega ao coração – a ausência de género em tantas colecções, ou
pelo menos a liberdade de escolha apresentada pelos designers aos futuros
consumidores.
É gratificante para quem faz desta a sua bandeira, ver as questões de género cada
vez menos como barreiras, e mais como pontes.
Os cortes prevêem-se exacerbados, de forma a que um menino ou menina caibam na
mesma peça de roupa, em alguns dos casos, ambos, ao mesmo tempo.
A cor! Que imensidão de cor! É impossível dizer quais são as cores da próxima
estação pois todas elas são válidas. Talvez peneirando bem, nos fique o verde em
maioria, nos seus infinitos tons… Mas está camuflado. Pronto para o que vem a
seguir. Seja lá o que for!