Amamentar é um dos maiores desafios da maternidade. Digo isso com conhecimento de causa – não fazia ideia do quanto este tema seria importante até me ver sozinha no hospital com a minha bebé nos braços. A saúde, o bem-estar e a sobrevivência dela dependiam totalmente de mim e da minha capacidade de dar de mamar. E por mais preparada que eu estivesse, nada poderia preparar-me para a primeira semana com a minha recém-nascida.
É que, quando estamos grávidas, somos bombardeadas com informações variadas sobre parto, pós-parto, saúde do bebé, higiene, vacinas, rotinas de sono e a amamentação entra no pacote. Fala-se em livre demanda, pega correta, bombas para retirar leite e outras tantas orientações. Acontece que amamentar não é uma ciência exata e percebi isso logo nos primeiros dias. Depois de dois dias no hospital numa espécie de curso intensivo para conhecer a minha bebé e aprender a ser mãe, cheguei em casa esgotada física e mentalmente. Um dia depois de ter tido alta, passei mais de uma hora com a enfermeira obstétrica e conselheira em aleitamento materno Vanessa Costa, numa consultoria de amamentação no Centro do Bebé, que me deu o acolhimento de que eu precisava no meio de tanto cansaço e dúvidas.
A pega correta
Assisti aos vídeos que ensinam a pega, vi as fotografias de bebés a mamar e já sabia que a minha filha precisava de pegar a mama com a boquinha aberta, lábios para fora, queixo a encostar no peito e nariz livre. Mas é tudo muito fácil na teoria… Quando vi a minha bebé com fome, a chorar e colocar as mãos na boca, qualquer forma de ela ficar no peito era suficiente para mim. Cheguei a casa com os mamilos doridos e gretados, que é o resultado da pega errada.
Volto a dizer, amamentar não é uma ciência exata. As mulheres são diferentes, os bebés são diferentes, as mamas são diferentes. Há peitos maiores e menores, mamilos compridos, invertidos, planos, aréolas grandes, pequenas, com cicatrizes… E por isso que, para mim, não bastou ver os vídeos e as fotografias da pega correta. Ter uma profissional a identificar as minhas individualidades foi essencial para fazer da amamentação um momento prazeroso e sem dor.
A enfermeira Vanessa passou um bom tempo a observar e ajudar a posicionar a minha bebé da forma correta, experimentando diferentes posições que poderiam ajudar. Para além da posição tradicional, tentamos uma posição vertical e a chamada “bola de rugby”. E descobri que, com a pega certa, amamentar não dói nem magoa os mamilos e o bebé consegue alimentar-se com mais eficiência.
Aprender a drenar as mamas
Quando engravidei percebi logo as alterações nas minhas mamas, que ficaram mais cheias. Mas não estava preparada para as mudanças que aqueles dias de produção mais acelerada do leite, a famosa “subida do leite”, causariam. Quando cheguei ao Centro do Bebé, cerca de três dias depois do parto, tinha as mamas extremamente ingurgitadas e doridas. Estavam tão cheias que a minha bebé nem conseguia abrir a boca o suficiente para pegar o peito. E até tinha lido sobre drenar as mamas neste período, mas, afinal, estava a fazer tudo errado.
Esta é mais uma orientação que precisa de ser individualizada. A enfermeira Vanessa ensinou-me a massajar as mamas e mostrou-me que consigo extrair leite e drenar sozinha, usando apenas os dedos. Fui orientada a extrair um pouco de leite de cada mama antes de amamentar, o que facilitou a pega e aliviou as dores e o ingurgitamento.
Compressas de couve!
A minha avó já tinha recomendado as compressas de couve, mas na época achei que era uma crença dos antigos. Afinal, a couve funciona mesmo! A folha tem propriedades anti-inflamatórias que ajudam a reduzir o ingurgitamento e o calor das mamas neste período da subida do leite. É muito importante tratar os sintomas quando estes aparecem para evitar bloqueios na saída do leite, o que pode gerar infeções como a mastite.
Separei, lavei e apliquei as folhas sobre a mama, deixando-as lá até que parassem de pingar. Fiz compressas logo a seguir à consulta, por orientação da enfermeira Vanessa, e senti-me a melhorar cada vez mais. Dois dias depois já não tinha mais nenhum sintoma.
Livre demanda
Antes de a minha bebé nascer já tinha recebido a orientação de que o ideal era manter a amamentação em livre demanda. Mas quando cheguei à consulta tinha muitas dúvidas sobre este tema – como eu sei quando ela quer mamar e quando quer outra coisa? Como sei que está saciada? Até conhecer a minha bebé, tinha muitas inseguranças sobre se ela estava a mamar da forma certa, nas horas corretas e se era suficiente.
Nas primeiras noites ela pedia para mamar praticamente de hora em hora, por exemplo. Achava que podia haver algo de errado, talvez ela não estivesse a conseguir mamar corretamente. A enfermeira Vanessa explicou-me que a secreção da prolactina, a hormona responsável pela produção do leite, acontece durante a noite, e que amamentar de madrugada, neste período, é natural e necessário. A enfermeira ajudou-me a identificar os sinais de saciedade na minha bebé – larga a mama e inclina a cabeça para trás. Na consulta também pesámos a bebé e percebemos que ela tinha ganhado peso desde a saída do hospital, o que me deu a segurança de que estava tudo bem.
Alguém para conversar
O último ponto não é propriamente uma orientação, mas uma série delas. Amamentar é uma experiência única para cada mulher e, por isso, acredito que uma consultoria de amamentação logo no início é muito importante. Eu estava cheia de dúvidas, medos e anseios; queria fazer o melhor pela minha bebé. Poder conversar com uma profissional sobre as minhas particularidades e as da minha filha deu-me a segurança que faltava para ver a amamentação como um privilégio ao invés de um desafio.
Passados alguns dias, os intervalos de jejum durante a noite começaram a aumentar e a produção de leite estabilizou. Os mamilos não têm mais gretas, as mamas já não ingurgitam e, sabendo drenar com as mãos, consigo extrair leite nos dias em que as mamas estão muito cheias, para facilitar a pega. A minha bebé também já está adaptada às diferentes posições possíveis para amamentar e foi elogiada pela pediatra logo na primeira consulta!
Depois de uma gravidez cheia de expectativas, o pós-parto pode bater-nos como uma avalanche, e por isso procurar ajuda é essencial para viver a maternidade de uma forma saudável e sem sofrimento. E se nos primeiros dias as dificuldades e a dor fizeram-me ter a sensação que não ia conseguir, depois de aplicar tudo o que aprendi sinto que a minha experiência com a amamentação mudou para melhor.