Aaron Traywick, de 28 anos, foi o CEO de uma pequena empresa de biotecnologia. Em 2018, chocou a audiência de uma conferência, ao baixar as calças e espetar uma agulha com uma cura não testada previamente para o herpes. Desde então, o debate acerca do biohacking – termo usado para as experiências com material genético, independentes de padrões éticos – tem estado bastante aceso.
Dave Asprey, que se assume como biohacker, define o conceito como “ciência, biologia, e experiências autónomas para ter controlo e melhorar o nosso corpo, mente e vida. Ou a arte de ser super-humano“. No fundo é “biologia DIY [Do It Yourself]”, como se de um trabalho manual se tratasse.
Em abril de 2018, Traywick acabou por ser encontrado morto num tanque de privação sensorial, num spa, em Washington, onde, aparentemente, se afogou. Tais locais destinam-se, no fundo, à flutuação na água, eliminando-se quaisquer cheiros, sons, vista e toque, para se obter vários benefícios para a saúde. Pouco antes da morte, falava na cura para o vírus da SIDA e herpes por parte da sua empresa, que, alegadamente, apenas não tinha documentação suficiente para a provar.
Ora, todas as pessoas que, como Aaron, se submetem a terapias genéticas ou ao consumo de medicamentos não testados, têm gasto milhões de euros, na esperança de, lá está, se tornarem super-humanos. Recentemente, Asprey revelou à Men’s Health que gastou, no mínimo, um milhão de dólares com as próprias experiências.
Tal como este biohacker, o empresário de Silicon Valley Serge Faguet – que toma 60 comprimidos por dia, crendo que o ajudarão a viver mais tempo e evitarão que tenha um ataque cardíaco nos próximos 80 anos – ou Josiah Zayner, acreditam, por exemplo, que expor os respetivos corpos a temperaturas extremas, os tornará mais saudáveis e aumentará a esperança média de vida. Asprey diz esperar viver, pelo menos, até aos 180 anos.
Eventualmente, após o ânimo inicial, Zayner veio a arrepender-se, revelando ao Atlantic: “Não tenho quaisquer dúvidas na minha mente de que alguém acabará magoado“. Quer se viva até aos 180 anos, ou não, a verdade é que os perigos associados parecem significar muito pouco para estes biohackers. E, até prova em contrário, continuarão a parecer, aos olhos de milhares, simplesmente loucos.