Quantas vezes já desinfetou e lavou hoje as mãos? O novo hábito do ‘novo normal’ já se enraizou nas nossas vidas, que ajuda a proteger e a salvar. Não é que não o fizéssemos antes, mas agora tornou-se indispensável. Não damos por isso, mas estamos constantemente a tocar com as mãos no rosto, na boca, nos olhos, no nariz… e de caminho damos boleia a bactérias e vírus até essas portas de entrada do nosso corpo. Por isso é tão importante manter as mãos sempre limpas. Mas aquilo que é vital para a nossa saúde pode dar cabo da saúde das nossas mãos se não tivermos alguns cuidados.
‘Pandemia’ de mãos secas
Quase podíamos chamar-lhe assim, de tal forma as mãos ressequidas, descamativas, pruriginosas, vermelhas e irritadas são comuns neste momento. “O meu WhatsApp está inundado de fotografias de mãos dos meus doentes”, diz a dermatologista Marisa Carpinteiro André. “Há uma conjugação de fatores que levam a estas situações porque, para além de termos aumentado o número de vezes que lavamos as mãos e as desinfetamos, o inverno também, só por si, é propício ao aparecimento e/ou agravamento de um eczema das mãos já existente. Como está mais frio, aumentamos um pouco mais o termóstato da água, e por outro lado temos mais preguiça de pôr creme hidratante. E agora com o confinamento em casa ainda há as lavagens de loiça, as limpezas… Portanto, há vários fatores que vão contribuir para que, neste momento, haja maior propensão para surgirem estes eczemas, que na maior parte nem são alérgicos, são eczemas irritativos: surgem devido às lavagens frequentes das mãos, ao contacto com todas estas substâncias desinfetantes que são muito agressivas para a pele, à utilização de vários tipos de luvas, ou ao uso prolongado de luvas cirúrgicas no caso dos cuidadores e dos profissionais de saúde… Tudo isto pode contribuir para que surja mais frequentemente eczema das mãos. E naquelas pessoas que já têm tendência para ter pele seca ou atópica pode haver uma agudização da sua situação.”
Compensar as agressões
Como está fora de questão não lavar nem desinfetar as mãos nesta altura de covides, gripes e outras infeções respiratórias, o que podemos fazer para minimizar os estragos? “Sempre que lava, hidrate”, recomenda a dermatologista. “É uma coisa que digo constantemente aos meus doentes.” E um hábito que faz toda a diferença. Pense na hidratação como fazendo parte da lavagem e não como um passo extra. Também é importante lavar com produtos que não sejam agressivos ou ‘decapantes’: a pele precisa do seu filme hidrolipídico o mais saudável e íntegro possível, para se poder defender (e defender-nos a nós) da entrada de agentes patogénicos. “Em vez de lavarmos com um sabonete ou um gel comum, podemos optar por um produto para pele sensível ou atópica, nomeadamente um óleo. Muitas pessoas acham que um óleo não lava tão bem porque não faz espuma, por ter menos substâncias detergentes. E alguns óleos podem deixar as mãos momentaneamente um bocadinho mais gordurosas, e as pessoas querem fazer logo a seguir as suas coisas, não têm paciência para esperar que haja a absorção. Mas é menos agressivo. E depois de lavar, hidratar: isso é logo meio caminho andado para melhorarmos este aspeto da desidratação causado pela água e as lavagens.” Prefira fórmulas lavantes com poucos ingredientes, sem sulfatos e sem fragrância, sobretudo se a sua pele tende a reagir por tudo e por nada.
Para quem tem de usar luvas de proteção nas suas tarefas diárias, sejam de borracha, látex, vinil, nitrilo ou aquele plástico fino das chamadas ‘luvas de palhaço’, Marisa Carpinteiro André recomenda que se coloquem sempre por baixo umas luvas brancas de algodão. “Além de o material poder ser potencialmente irritante, ainda temos o fator oclusivo, as pessoas andam às vezes horas com as luvas postas, transpiram, por isso não faz sentido terem essas luvas de proteção sem terem uma barreira por baixo que impeça o contacto entre o potencial irritante e a pele.”
E se apesar de todos os cuidados surgir uma irritação mais intensa, nomeadamente com vermelhidão, comichão, descamação ou bolhinhas de água, consulte um dermatologista para que o problema não se agrave. “Quando a situação atinge uma proporção já com alguma dimensão, é necessário uma ajuda médica e o uso de medicamentos, só os hidratantes e a proteção poderão não ser suficientes”, explica a médica.
(Re)aprender a lavar as mãos
Dois minutos numa casa de banho pública bastam para perceber que, com raríssimas exceções, não sabemos lavar as mãos (ou não temos paciência para o fazer bem). Mas nestes tempos de pandemia temos de as lavar como se a nossa vida dependesse disso. Porque pode depender. E há duas coisas a ter em conta: a mão não é só palma e pontas dos dedos, e o que limpa não é apenas a água, é a água associada ao produto de limpeza e (muito importante) à fricção. Quem costuma ver séries de médicos sabe como eles lavam e esfregam exaustivamente as mãos antes de entrar para o bloco operatório. Aceitaria ser operada por um cirurgião que se limitasse a passar rapidamente as pontas dos dedos por água antes de pegar no bisturi? Pois…
Só uma lavagem correta permite eliminar bactérias nocivas e vírus (nomeadamente o da covid, que é uma peste, mas não resiste a uma valente ensaboadela). Por isso vamos relembrar: molhe as mãos, deite na palma da mão uma dose do produto lavante e esfregue bem as palmas das mãos, para fazer espuma; a seguir esfregue as costas das mãos, depois os dedos um a um (sem esquecer o polegar) e o espaço entre eles, e as pontas dos dedos (esfregando-as na palma da mão contrária e com uma escova sob as unhas); esfregue os punhos. Se esfregar 5-6 vezes cada zona de cada mão e repetir 3 vezes todo o ciclo, garante uma lavagem correta de 30 segundos, que é o recomendado. Enxague bem para não deixar resíduos de produto que podem ressecar a pele e enxugue muito bem porque a água ao evaporar também desidrata, e termine aplicando o creme de mãos. E não se esqueça de mudar a toalha das mãos diariamente!
Gel de álcool, só fora de casa
O primeiro gesto a considerar deve ser sempre a lavagem, o gel ou solução hidroalcoólica deve ser reservado apenas para quando não podemos lavar as mãos. Até porque ele não limpa, só desinfeta. E para ser eficaz também tem o seu preceito: aplique uma quantidade generosa (o equivalente a uma colher de sobremesa) e espalhe pelas mãos todas, com os mesmos gestos que usa para lavar as várias zonas de cada mão (incluindo os punhos, as pontas dos dedos e sob a unhas se são de gel). Para que a desinfeção seja completa, o processo deve levar 30 segundos, tal como na lavagem, porque a inativação dos vírus e bactérias não é instantânea. E mesmo tendo usado um gel, assim que puder lave as mãos. E não esqueça a seguir o creme hidratante.