Tornar a vida mais bela sempre foi o mote da marca francesa Clarins e Virginie acrescenta-lhe a missão de transmitir um mundo mais belo às gerações futuras. Neta de Jacques Courtin-Clarins (um estudante de medicina apaixonado por botânica que em 1954 decidiu lançar uma marca de cosmética formulada exclusivamente à base de plantas) Virginie faz parte da terceira geração da empresa. Aos 36 anos, com três filhos pequenos, é Diretora-Geral Delegada do Grupo Clarins e Diretora do Polo SER (Responsabilidade Social da Empresa) e dos Novos Territórios da Marca. E tem uma ligação especial a Portugal: a mãe viveu cá até aos 18 anos (embora, para grande pena sua, não tenha ensinado à filha o português que fala corretamente) e foi cá também que a irmã se casou. Conversa com uma mulher para quem a beleza só faz sentido se respeitar as pessoas e o planeta.
O que caracteriza a Clarins, para si?
Muitas coisas. Tive a sorte de conhecer bem o meu avô porque já tinha 23 anos quando ele partiu e era muito próxima dele. Sempre falámos muito da marca e ele transmitiu-nos os valores fundadores, que continuam a ser os nossos. O primeiro é a escuta: quando conversávamos com ele, ouvia com tanta atenção que nos sentíamos a pessoa mais importante à face da Terra. E estava sempre a fazer perguntas às mulheres. Ele dizia que a beleza não tinha sentido se não houvesse escuta e benevolência por detrás. Esse é um princípio fundador da marca, e continua a ser. Nós dizemos sempre que não fazemos produtos de marketing, ou porque são tendência, mas porque ouvimos as nossas clientes, as suas necessidades. É por isso que temos produtos que continuam a ser best sellers apesar de terem sido criados há décadas. Penso no Huile Tonic, que foi um dos primeiros produtos da marca: existe há 50 anos, nunca o publicitamos e ele continua no top de vendas. E é curioso porque estes produtos agora estão na moda, porque são 100% à base de plantas, numa embalagem em vidro… O que nos leva ao segundo princípio fundador, que é a Natureza. 80% das nossas fórmulas são à base de plantas, e o meu avô dizia sempre que a sua inspiração nunca pararia porque a Natureza tem tanto para nos ensinar que seriam necessárias gerações e gerações, até ao infinito, para conhecer todos os seus segredos. Sabemos o que devemos à Natureza, porque sempre nos inspirámos nela e utilizamo-la para formular os nossos produtos e por isso temos de lhe dar de volta um pouco do que ela nos dá. Portanto, eu diria que a escuta e a Natureza são dois princípios muito importantes na Clarins.
Quais são as suas funções na empresa?
Estou encarregue das equipas que gerem o desenvolvimento sustentável e estamos a implementar uma estratégia muito específica de aceleração nesta área. Nós já fazíamos imensas coisas, mas não o comunicávamos muito. Éramos, e continuamos a ser, bastante humildes em relação a isso, mas queremos ir ainda mais longe. Há três causas que nos dizem muito e que apoiamos: a infância, a saúde e a biodiversidade. Na infância, trabalhamos com a FEED e já distribuímos, desde há 10 anos, 35 milhões de refeições a crianças necessitadas e vamos acelerar isso. Na saúde, apoiamos a Fundação Arthritis, através da qual já demos, nos últimos 10 anos, 18 milhões de euros para a pesquisa das doenças reumatóides. E na biodiversidade apoiamos imensas iniciativas, para livrar os oceanos dos plásticos e encontrar soluções para reciclar e ‘upciclar’ o plástico pelo mundo, ações para a proteção da biodiversidade nos Alpes…
E quais são os projetos para os próximos anos?
Como nos tornámos uma grande indústria, o que decidirmos hoje, tudo o que fizermos e todos os lançamentos que faremos nos próximos 5 anos terão um grande impacto, por isso temos de garantir que a nossa estratégia é devidamente seguida e aplicada a todos os departamentos. Temos bastantes projetos, divididos em duas áreas: de um lado cuidamos das pessoas, e do outro cuidamos do planeta. Do lado das pessoas, está tudo o que fazemos pelas nossas clientes, estamos sempre a ouvir o que têm para dizer, e trabalhamos também muito com os fornecedores, para garantir que as pessoas que cultivam as plantas que usamos têm uma vida digna. Do lado do planeta, 100% dos nossos produtos serão recicláveis daqui a 5 anos e seremos neutros em plástico. Tornámo-nos neutros em carbono no ano passado e vamos reduzir a nossa ‘produção’ de carbono em 30% daqui até 2025. O fornecimento de matérias-primas já é totalmente responsável. Participamos em muitas mesas-redondas e iniciativas, mesmo com os nossos concorrentes, para encontrar soluções, somos membro fundador da Responsible Beauty Iniciative, com a L’Oréal, a Coty, o Groupe Yves Rocher, na qual trabalhamos para pôr em prática guidelines, por exemplo para decidir que vamos deixar de utilizar certo tipo de ingredientes e que será preciso arranjar alternativas. Também temos como missão tornarmo-nos uma B Corp até 2023, que é uma certificação muito rigorosa para empresas que têm um impacto positivo no planeta e nas pessoas.
Quais são as melhores recordações que tem do seu avô, em matéria de beleza?
Ele envolvia-nos muito, estava sempre a fazer-nos perguntas. Adorava ter quatro netas, como pode imaginar: tinha tido dois filhos rapazes, o que não era o ideal para testar produtos destinados às mulheres (risos) e quando surgiram as quatro netas!… Perguntava imenso a nossa opinião sobre os produtos, as texturas dos cremes e tudo isso. Lembro-me de uma história, quando eu tinha 20 anos e começava a queixar-me da celulite. Na altura íamos lançar um anti celulite e o meu avô deu-me o produto para testar durante o verão e disse-me para o usar só numa perna durante 2 meses. E posso dizer-lhe que no final do verão eu tinha uma perna de que gostava muito e outra de que gostava menos… (risos)