“Há três semanas que chove em Paris todos os dias, só parou hoje”, dizia-me uma das guias. Não resisti – até porque, toda a gente sabe, o tempo é sempre o melhor tema para quebrar o gelo – e respondi: “Trouxemos o sol connosco, desde Portugal.” Em boa verdade, o sol não sei se trouxemos, mas de entusiasmo estavam as malas cheias: não é todos os dias que se entra no Centro de Investigação de uma tão luxuosa marca como a Chanel.
Surpreendentemente perto de Paris, em Pantim, ergue-se um edifício de fachada moderna, rodeado de um jardim bem cuidado. No interior deste Centro de Pesquisa e Inovação, um labirinto de corredores brancos, pontuados ocasionalmente com cartazes – alguns deliciosamente vintage – de várias campanhas da marca.
Na agenda, uma viagem pelo conceito de beleza integrativa da marca. Desde 1921 que as mulheres estão no centro das criações de Gabrielle Chanel, que cedo percebeu que a única forma de entender a beleza e o autocuidado seria através de uma experiência holística, que trata corpo e mente em medidas iguais. Uma postura vanguardista que, já na altura, defendia uma cultura minimalista, preocupada em entender verdadeiramente os desejos das mulheres, numa experiência baseada no conhecimento científico.
A maior prova de que Gabrielle foi uma mulher que viveu muito à frente do seu tempo é o espólio das linhas iniciais da marca, em exibição numa incrível ‘sala museu’ do edifício. As embalagens dos produtos mantiveram praticamente cada detalhe e (imagine!) já na altura se falava em ‘gelèe anti solaire’ e em miniaturas para um fim de semana fora. Foram, ao longo dos anos, naturalmente melhorados e reformulados, à medida que a investigação traz resultados.
A linha Sublimage L’Extrait, por exemplo, recentemente reformulada, conta com uma concentração altíssima da regeneradora vanilla planifolia polifracionada – recolhida num processo específico desenvolvido pela Chanel, usado para obter um ingrediente ativo 40 vezes mais concentrado em moléculas antienvelhecimento do que o extrato bruto. Está ainda enriquecido com a reparadora swertia, uma planta milenar nativa dos Himalaias que o Departamento de Pesquisa da Chanel escolheu devido aos seus efeitos incrivelmente poderosos sobre a pele.
Foi impossível não ficar maravilhada enquanto nos falavam dos ‘laboratórios a céu aberto’, nos vários cantos do mundo, onde cultivam e estudam os próprios ingredientes. Localizados em diferentes zonas climáticas do mundo, permitem que os processos naturais sejam inspiração para criar ingredientes inovadores e exclusivos. Um trabalho guiado pelos 5 princípios que entendem a natureza como base e berço da experiência, valorizam o comércio justo com os produtores, preservam a agroecologia, valorizam a terra e, mais, protegem o património imaterial vinculado às plantas.
Chegámos, entretanto, à parte prática. Conhecemos os ingredientes e as várias texturas, tendo, no final, um teste sensorial, onde nos cabia identificar e combinar as texturas de vários produtos. Depois de testar os nossos conhecimentos – pode ficar orgulhosa, querida leitora, passámos com distinção –, fiquei verdadeiramente entusiasmada por perceber, em tempo real, a atividade cerebral quando experimentava um produto novo, ou cheiramos um perfume – sim, a Chanel tem um departamento para investigar ‘só’ isto.
Despedimo-nos de uma Paris chuvosa, mas nem por isso menos bonita. Já a caminho do aeroporto, enquanto as gotas viajam pelo vidro do carro, num fundo onde as tão características fachadas trabalhadas e telhados de zinco se confundem no cinzento do céu de Paris, dou por mim a pensar… E não é que levamos mesmo o sol de volta?