Como lhe ‘apareceu’ a D. Filipa?
O meu sonho sempre foi escrever um romance histó-rico, mas achava que não era capaz. A editora incentivou-me e eu escolhi a Filipa de Lencastre: tinha de ser uma personagem que os portugueses conhecessem e que tivesse raízes inglesas como a minha família; por outro lado, teria acesso à documentação inglesa com facilidade.
Sentiu alguma empatia com ela?
Achei-a muito parecida com a minha mãe, uma católica militante que veio para Portugal e criou oito filhos. Sobre a Filipa, o problema foi não se saber quase nada sobre ela. Só se sabe alguma coisa através do pai, que era um nobre poderoso, e depois referências ao casamento com D. João, mas sempre através dos homens. O meu problema foi que, a certa altura, a irmã, Elizabeth, tinha muito mais força do que ela.
Como foi o processo criativo?
Visitei todos os locais onde ela viveu, inclusive, os castelos de Inglaterra, e trouxe imensas coisas que me ajudaram a reconstituir esse mundo. Mas foi difícil entrar na segunda parte, quando ela vem para Portugal. Eu só dizia: "Não a consigo casar!" Não tive dificuldades em escrever so-bre as personagens inglesas, mas como é que eu ‘tocava’ no D. João I? Todos os heróis portugueses me surgiram de repente com o peso da escola em cima! Eu só pensava: "E se me vêm dizer que o Nuno Álvares não era nada assim?" E, depois, D. Filipa teve tantas crianças que, a páginas tantas, desesperada, já dizia: "Daqui a pouco os infantes nascem todos de uma ninhada só!" Tive de colar na parede um mapa com todas as datas, para não pôr D. Filipa a falar com alguém que já estivesse morto… Deu-me imenso trabalho, mas foi muito compensador.