Sandra Bullock não é lindíssima como a Angelina Jolie, nem sexy como a Scarlett Johansson nem boazinha como a Amy Adams, mas é uma das actrizes mais adoradas de Hollywood graças ao seu sentido de humor e a uma inteligência pouco comum. Curiosamente (ou talvez não…) os filmes nunca parecem completamente à (muita) altura dela.
Se calhar, é por isso que toda a gente gosta dela: porque não se põe a fazer dramas sobre os desgraçadinhos do Sudão, nem filmes sobre pedófilos, nem reconstituições sangrentas da Segunda Guerra. Temos sempre a sensação de que faz filmes acima de tudo para se divertir: e para nos divertir a nós.
O seu novíssimo ‘A Proposta’ não traz nada de novo: uma chefe propõe ao seu subalterno (o fantástico Ryan Reynolds, que tem como único defeito ser casado com a Johansson) casar-se com ele para evitar ser deportada para o Canadá, proposta que ele aceita depois de impostas as devidas condições.
Aquela coisa do ‘ai não me contes como é que acaba’ aqui não se põe: o final é óbvio. Quem for suficientemente cota para ter visto o lindíssimo ‘Green Card’ (claro que os portugueses se encarregaram imediatamente de lhe pespegar um título pimba, no caso ‘Passaporte para o Amor’) com o Gerard Depardieu e a Andy McDowell, nos longínquos anos 80, já viram tudo. E não apenas esse.
Claro que os fãs da Bullock vão ver o que quer que seja em que ela entre, e com razão. Ela até conseguiu tornar comestível aquela coisa surrealista que era a ‘Casa da Lagoa’, em que ela e Keanu Reeves, separados por muitos anos e ainda mais neurónios, mandam cartas um ao outro. E que outra actriz era capaz de fazer com que, sempre que dá o ‘Miss Detective’ numa qualquer tarde de Domingo, a gente seja incapaz de mudar de canal, mesmo que já tenha visto aquilo 14 vezes?
O ar despreocupado talvez lhe venha de uma infância dourada (pelo menos esta não foi muito desgraçadinha), correndo o mundo ao sabor dos espectáculos da mãe, cantora de ópera (o pai era técnico de voz). Sandra não atraiçoou os genes de artista e fez 10 anos de ballet clássico até acabar formada em teatro pela Universidade da Carolina do Norte.
Ela própria se considera maria-rapaz (tem duas cicatrizes na testa, resultado de quedas de cavalos aos quais, ainda por cima é alérgica) mas isso não quer dizer que seja esquelética. Aliás, teve de esquecer um dos seus principais prazeres na vida – o chocolate – e trabalhou no duro para ficar em forma devido à sua cena de nu na ‘Proposta’.
"Eu adoro o meu corpo, mas quando o vejo num ecrã gigante e quando bate contra outyro corpo, as coisas balançam, e eu não quero mais balanços", afirmou numa entrevista, causando as habituais gargalhadas. De qualquer maneira, acrescentou, filmar uma cena de amor é como uma dança com coreografia: "Passo o tempo a contar as batidas: um, dois, beija, afasta, um dois…Só agradeço que o meu ‘colega’ não ache que tem como missão lamber-me a garganta."
Ainda por cima, tem um coração de outro: doou um milhão de dólares às vítimas do 11 de Setembro, outro milhão às do Tsunami, e dedica muito do seu tempo aos sem-abrigo.
A única coisa que parece tirá-la do sério é quando lhe perguntam por que é que não tem filhos. "Ter filhos é egoista", já afirmou. "Com tantas crianças neste mundo a precisar de mãe, para quê pôr cá mais algumas?"
Também afirmou que, embora não tenha nenhum filho biológico, tecnicamente é a mãe dos dois filhos do marido, que educa juntamente com a mãe deles. "Somos pais os três, todos juntos," contou. "É um bocado como a natação sincronizada…"
Com ou sem balanços, ‘A Proposta’ foi campeã de bilheteira na semana em que estreou nos Estados Unidos, e ameaça fazer o mesmo em Portugal. É que, além do mais, mesmo já sabendo a anedota, o mundo inteiro está a precisar de se rir um bocado.
Veja o trailer do filme "A proposta"