Na antecipação dos Óscares, muito se falou da falta de diversidade racial entre os nomeados e muitos utilizadores das redes sociais chegaram mesmo a pedir a Chris Rock que desistisse do papel de apresentador da cerimónia em forma de protesto. O seu monólogo de abertura era tão aguardado quanto a revelação do Melhor filme do ano e o comediante não desiludiu, dirigindo-se de imediato à controvérsia.
“Contei pelo menos 15 negros naquela montagem! [inicial do espetáculo]”, disse entre gargalhadas. “Bem, aqui estou nos prémios da Academia, também conhecidos como os White Peoples Choice Awards. Vocês sabem que se eles nomeassem apresentadores, eu não conseguiria este trabalho. Vocês estariam a ver o Neil Patrick Harris neste momento”, brincou.
Rock também revelou que considerou desistir de apresentar os Óscares devido às polémicas, mas algo o impediu de concretizar a ideia.
“Pensei em desistir. Pensei mesmo muito nisso. Mas depois apercebi-me de que eles vão entregar os Óscares de qualquer maneira. Não vão cancelar a cerimónia porque desisti”, explicou. “E a última coisa que preciso é perder outro emprego para o Kevin Hart!”, brincou.
Durante o monólogo, o apresentador fez troça do movimento #OscarsSoWhite, iniciado na internet, ao dizer que os afro-americanos não protestaram contra os Óscares nos anos 50 e 60 porque tinham coisas “a sério” com que se preocupar.
“Porquê esta edição dos Óscares? É a 88ª cerimónia, o que quer dizer que esta história do ‘não há nomeados negros’ já aconteceu 71 outras vezes. Temos que ver que aconteceu nos anos 50, 60.. e os negros não protestaram. Sabem porquê? Porque tinham coisas a sério para protestar na altura. Estavam demasiado ocupados a serem violados e linchados para se preocuparem com queem ganhou na categoria de Melhor Cinematógrafo. Sabem, quando a nossa avó está a balançar numa árvore é difícil importarmo-nos com o Melhor Documentário Estrangeiro”, disse, fazendo referência à escravatura e ao movimento pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos.
Houve ainda tempo para ‘picar’ Jada Pinkett Smith. Lembre-se que a esposa de Will Smith expressou o seu descontentamento com aquilo que vê como a desvalorização do talento dos negros nas redes sociais e pediu aos colegas que se juntassem a ela num boicote à cerimónia. Rock teve algo a dizer sobre o assunto.
“O que aconteceu este ano? As pessoas passaram-se. O Spike [Lee] ficou zangado. A Jada ficou zangada. O Will [Smith] ficou zangado. Todos ficaram zangados!”, disse sobre os protestos das celebridades em relação aos Óscares. “A Jada disse que não vem. Pensei: ‘Ela não está num programa de TV?’ A Jada vai boicotar os Óscares? A Jada boicotar os Óscares é o mesmo que eu boicotar as cuecas da Rihanna. Não fui convidado”.
Em jeito de conclusão, o apresentador da 88ª edição dos Óscares disse que os atores negros simplesmente querem igualdade de oportunidades na indústria cinematográfica.
“Queremos que os atores negros tenham as mesmas oportunidades. É só isso. Não apenas uma vez. O Leo [DiCaprio] tem um papel ótimo todos os anos … e os atores negros?”, questionou. “E o Jamie Foxx? … Ele foi tão bom em ‘Ray’ que foram ao hospital e desligaram as máquinas do Ray Charles verdadeiro: ‘não precisamos de dois destes'”, brincou Chris Rock.