
Talvez a coragem lhe seja mais natural do que pensa. Quando precisamos dela como instinto de sobrevivência nem nos questionamos. Agimos. Há um certo abandono de nós mesmos quando somos corajosos, uma certa humildade. Esses momentos costumam ser inesperados e chamam por um instinto nosso subconsciente. Depois há os momentos que nos dão espaço para pensar, às vezes pensar demais e criar as nossas próprias barreiras, alimentar os nossos próprios medos e criar montanhas e rios que nos impedem de aceder à nossa coragem com a facilidade dum instinto que temos em nós tão naturalmente.
Pense nos seus momentos de coragem: quando se ultrapassou a si mesmo e falou o que não tinha ainda conseguido exteriorizar, onde percebeu que havia uma série de coisas que queria mudar em si, aqueles momentos em que não temos a certeza do resultado mas avançamos com convicção, outras vezes com um instinto frágil e leve, mas que nos sussurra ao ouvido VAI! ACREDITA! ATIRA-TE!
Um ‘músculo’ que quanto mais se trabalha mais fortalece
Eu penso em momentos onde fui corajosa desde pequena e acredito que todos carregamos uma dose de coragem em nós. Um ‘músculo’ que quanto mais se trabalha mais fortalece. Penso que há uma certa noção de liberdade e superação de medos (normalmente alimentados por nós) que desvanecem no ar quando se dá o passo. Quando se toma a decisão, quando se age para além das barreiras que nos continham seja em que situação for. Tudo que queremos está para lá dos nossos medos e a coragem é a ponte que nos leva até lá.
Penso que para além do medo há sempre um pouco de dor associado à coragem. Uma dor que para muitos impede de a aceder. Mas se pensarmos que a coragem é uma dor de crescimento, tudo muda. Abrimos asas sempre para um terreno um pouco desconhecido, mas enchemos o peito de autoconfianca e acrescentamos sempre algo ao nosso autoconhecimento – nunca ninguém cresce na sua zona de conforto – por isso é preciso coragem para enfrentar o desconhecido, para crescer por dentro.
Arriscámos, continuámos e aprendemos
A coragem é-nos tão natural que começámos a andar e a falar mesmo que sem equilíbrio ou agilidade verbal. Arriscámos, continuámos e aprendemos.
Se se tentar lembrar, terá vários momentos simples na vida que foram mais que instintos – atos de coragem que a construíram.
Observe-se, entenda onde está agora e lembre-se de quantos passos de coragem foram precisos para criar a vida que hoje é a sua. A coragem não é a falta de medo, é identificar o medo, a insegurança e a dúvida e dar o passo que temos de dar na mesma. Porque o mais importante é mexermo-nos. Avançarmos. Criarmos espaço onde ele não existe. Coragem é liberdade, expansão, é ter as conversas difíceis, dizer as palavras que pesam lá dentro. Depois? Depois vem uma leveza de espírito, às vezes vem escuridão e vazio. Desapego do que antes nos impedia de avançar.
Às vezes só precisamos de 10 segundos de coragem para mudar o nosso caminho, 10 segundos para dar um passo em direção ao futuro que sonhamos ter. Um sim, um não, um “vamos lá”. Basta uma palavra, um gesto e tudo pode mudar. Dia 1 ou um dia, tudo são decisões e qualquer decisão vem dum lugar de coragem dentro de nós. O curioso é que a maior parte dos atos corajosos são discretos, muitas vezes confundidos com tolices, erros, aterrorizantes ou impossíveis. Porque a coragem não é um sentimento, é uma escolha. A vida é feita de escolhas e de atos de coragem também .
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*Artigo publicado originalmente na revista ACTIVA n.º 382 (setembro 2022)