A psicoterapia enquanto tratamento procura a elaboração do conflito subjacente a estes sintomas intrinsecamente orais, pois pertencem a uma fase de desenvolvimento psíquico muito precoce, situado primariamente nos primeiros anos de formação do universo psíquico, cujo o principal foco incide nas rupturas primárias com a figura materna internalizada na relação mãe-filho, assim como nos estádios de desenvolvimento posteriores, a adolescência. A relação com a alimentação reflete uma mente que sofre e que se desespera, que tenta evitar pensar o sofrimento e a dor, o não pensar a angústia causa irremediavelmente a desorganização interna e emocional.
A anorexia narra uma tragédia espaço-temporalmente situada entre mãe e filha numa dependência que alimenta a relação destrutiva contra características próprias da feminilidade, como as zonas erógenas, a alimentação e também a possibilidade de engravidar. Anorexia e bulimia são na realidade um apelo desesperado e patológico, através do qual a paciente tenta reorganizar a imagem mental que possui dos pais, especialmente da mulher e mãe que teve, tem e/ou continuará a ter, e assim desenvolver o sentimento que possui da sua própria perceção de identidade.
A psicoterapia auxiliará o indivíduo a lidar com estas angústias projetadas na imagem mental que possui do seu corpo. Os sintomas de anorexia (emagrecimento acentuado, a ponto de pôr em risco a própria vida) e bulimia (vómitos compulsivamente provocados de modo persistente) simbolizam uma estrada pela qual a psicoterapia possibilitará dar significado e nome aos conflitos que servem de base a estas graves perturbações, enfrentando-os para que assim não sejam projetados no comportamento alimentar. Ao conseguirmos simbolizar emoções disruptivas como a frustração, agressividade, medos, no fundo, sentimentos causados por relações familiares disfuncionais no que concerne ao corpo e à percepção fantasiada do corpo e como lidar com este, afeta a noção de saciedade e insaciedade no campo simbólico-mental do indivíduo.
O terapeuta serve de espelho reverso ou contra transferencial que reflete, mas que também reage, analisa, interpreta, confronta, resignifica emoções, pensamentos e as palavras do paciente, até que este consiga desenvolver e/ou reorganizar a sua própria capacidade de simbolizar conflitos inconscientes.
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